Nº 1147

 

COMPANHEIROS DE EMÁUS

«Quantas caminhadas já teremos feito com o Senhor Ressuscitado sem sequer nos termos dado conta?!

De quantos modos o Senhor Ressuscitado já terá metido conversa connosco e tentado começar um Diálogo entre amigos?!

É importante estarmos mais atentos aos forasteiros, aos desconhecidos, aos estranhos ou estrangeiros, e termos menos defesas em relação às visitas-surpresa da nossa vida, porque parece que o Senhor Ressuscitado se sente bem nessa pele...

O Senhor Ressuscitado procura os seus amigos, encontra-os e põe-se a caminhar com eles, mesmo quando eles estão a andar para trás!

A experiência do encontro com Jesus Ressuscitado, aquele que Deus quis que estivesse para sempre Vivo no meio de nós, é uma experiência espiritual, um encontro nas coordenadas do Espírito...

O Senhor Ressuscitado não se mostra aos seus discípulos como quem se exibe, mas como uma COMPANHIA que é preciso ir descobrindo...

Jesus não se faz notar em forma de Aparição mas sim de uma PRESENÇA que ele vai construindo maravilhosa e discretamente com os seus discípulos...

A experiência pascal dos discípulos não é uma Visão exterior mas uma REVELAÇÃO que Jesus faz de si mesmo dentro de uma Relação de amizade e bem-querer...

Jesus Ressuscitado não se exibe;

faz-se nosso Companheiro!

Não aparece, como se viesse de fora;

faz-se Presente a nós!

Não se mostra de maneira mágica;

Revela-se de maneira relacional!»

Rui Santiago, cssr

 

MEDITAR

Jesus não se escandaliza com as dúvidas de Tomé

Oito dias depois, Jesus entra com as portas fechadas. Conforta-me pensar que, mesmo que esteja fechado, Ele não se vai embora, mas continua o Seu cerco doce e implacável. Oito dias depois ainda está ali: o abandonado retorna àqueles que O abandonaram, o traído volta para quem O entregou aos Seus inimigos. Vem e fica no meio deles. As Suas aparições nunca têm o clamor de uma imposição.

Não se importa consigo mesmo, o Ressuscitado, mas com o pranto de Madalena, com as mulheres que vão, que correm para perfumar o Seu corpo despedaçado, com os medos dos apóstolos, com as dificuldades de Tomé, com as redes vazias dos Seus amigos quando voltam ao lago onde tudo teve início. Ele tem ainda e sempre aquele avental à cintura! Não vem pedir, vem para trazer ajuda. É por isso que é inconfundível.

A paz esteja convosco. Não se trata apenas de um simples desejo, mas de uma afirmação: haja paz para vós, paz dentro de vós, paz crescente. Shalom, disse, e é uma palavra bíblica que contém muito mais do que o simples fim das guerras ou da violência, traz a força dos retos de coração no meio das perseguições, a serenidade dos justos dentro e contra as injustiças, uma vida apaixonada nas vidas apagadas, plenitude e floração.

Soprou e disse: recebei o Espírito Santo. Sobre aquele punhado de criaturas, fechadas e amedrontadas, o vento das origens desce, o vento que soprava sobre os abismos, o vento subtil do Horeb sobre o profeta Elias, aquele que vai sacudir as portas fechadas do cenáculo: eis que eu te envio! E envia-os como eles são, frágeis e lentos, mas com mais da Sua força, do Seu Espírito, o forte vento da vida que soprará sobre eles, insuflará as velas e os encherá de Deus.

Tomé, coloca o dedo aqui no buraco dos pregos, estende a mão, toca! Jesus ressuscitado não traz mais nada além das feridas do crucificado, carrega o ouro das feridas que nos curaram. Nas feridas há o ouro do amor. As feridas são sagradas, é Deus nas feridas, como uma gota de ouro. Jesus não se escandaliza com as dúvidas de Tomé, não o censura pelo problema de crer, mas aproxima-se, e estende aquelas mãos onde o amor escreveu a sua história de ouro. Este gesto é suficiente para Tomé. Quem estende a mão, quem não te julga, mas te encoraja, e te oferece uma mão para descansares e retomares o fôlego da coragem, é Jesus. Não te podes enganar!

Bem-aventurados aqueles que ainda não viram e no entanto acreditaram! Uma bem-aventurança que sinto que é fácil, que é para todos, para os que que lutam, para os que tateiam, para os que não veem, para os que recomeçam. Para nós, que de oito dias em oito dias, continuamos a reunir-nos em Seu nome, depois de milhares de anos; Bem-aventurados somos nós que "O amamos sem O ter visto" (1 Pd 1)

Ermes Ronchi

 

Podemos curar-nos?

Será que podemos mesmo curar-nos das nossas maiores feridas ou vamos continuar a tentar colocar ligaduras sobre ligaduras sem nunca chegar, efetivamente, à raiz do que pode ser bálsamo para sempre?

A Páscoa e a ressurreição de Jesus respondem-nos a esta pergunta de uma forma muito clara. Podemos, mesmo, curar-nos. É possível ver o potencial das feridas mesmo além da morte e do maior dos sofrimentos.

Porque é que isso não nos parece simples, então, no dia-a-dia?

Vivemos sempre como que um pouco tombados para o sofrimento. Esperamos o pior para não sofrer tanto. Sentamo-nos com a alegria, mas desconfiamos dela como se trouxesse mau agoiro. Se eu estou tão bem agora, amanhã nem quero imaginar o que vai acontecer.

Temos pouca fé. Esperamos pouco. Acreditamos pouco. Não nos ensinam a ser felizes com o pouco ou com o muito. Ensinam-nos a temer o pior. A ter cuidado. A pensar duas vezes. A medir todos os perigos. E nessa tentativa paternalista de profunda proteção somos sempre atirados aos piores cenários como se fosse a primeira vez. Mesmo que existam, apenas, na nossa cabeça.

 Esperar o bem e o bom não parece ser natural. Parece ser coisa de gente parvinha ou de pessoas espiritualmente muito evoluídas. Nunca para nós.

Mas a verdade é que este tempo de Primavera e de Páscoa pode dar-nos uma folga. Pode ensinar-nos a esperar o impensável. A acreditar no inacreditável ou, até mesmo, no impossível.

 Tudo faz parte do que somos e viver sempre à espera da dor ou do sofrimento parece ser um inferno demasiado grande para aquilo a que estamos, realmente, destinados.

 O nosso destino é o amor. É o bem. É o bom. É a cura de tudo com tudo.

E isso também é possível para ti.

E isso também existe.

E isso também faz parte.

Marta Arrais

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

A Resposta

Houve momentos

em que, depois de horas passadas de joelhos

numa igreja fria, rolou da minha cabeça

uma pedra e olhei para dentro

e vi as velhas perguntas de rastos

dobradas e colocadas a um canto

à parte, como o montão

dos panos fúnebres de um corpo

de amor ressuscitado.

R. S. Thomas

 


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Pensei

que a liberdade vinha com a idade

depois pensei

que a liberdade vinha com o tempo

depois pensei

que a liberdade vinha com o dinheiro

depois pensei

que a liberdade vinha com o poder

depois percebi

que a liberdade não vem

não é coisa que lhe aconteça

terei sempre de ir eu.

Sónia Balacó

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