Nº 1139

 

Quaresma: Sinais e palavras de um tempo de conversão.

A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas, este ano a 14 de fevereiro. É o «tempo forte» que prepara para a Páscoa, culminar do ano litúrgico e da vida de cada cristão. Como escreve S. Paulo, é «o momento favorável» para realizar «um caminho de verdadeira conversão», de modo a «enfrentar vitoriosamente com as armas da penitência o combate contra o espírito do mal».

Este itinerário de 40 dias que conduz ao Tríduo Pascal, memória da paixão, morte e ressurreição de Jesus, coração da salvação, é um tempo de mudança interior e de arrependimento que «anuncia e realiza a possibilidade de voltar ao Senhor com todo o coração e com toda a vida», recorda o papa Francisco na mensagem para a Quaresma de 2018.

O número 40

Na liturgia fala-se de “Quadragésima”, isto é, um tempo de 40 dias. A Quaresma evoca os 40 dias de jejum vividos por Jesus no deserto antes de empreender a Sua missão pública. Lê-se no Evangelho segundo Mateus: «Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites, no fim teve fome».

Quarenta é o número simbólico com que o Antigo e o Novo Testamento representam os momentos principais da experiência da fé do povo de Deus. É um algarismo que exprime o tempo da espera, da purificação, do regresso a Deus, da consciência de que Ele é fiel às Suas promessas.

No Antigo Testamento são 40 os dias do dilúvio universal, 40 os dias passados por Moisés no monte Sinai, 40 os anos em que o povo de Israel peregrina pelo deserto antes de alcançar a Terra Prometida, 40 os dias de caminho do profeta Elias para chegar ao monte Horeb, 40 os dias que Deus concede a Nínive para se converter após a pregação de Jonas.

Nos Evangelhos são também 40 os dias durante os quais Jesus ressuscitado instrui os seus, antes de ascender ao céu e enviar o Espírito Santo. Voltando à Quaresma, ela é um «acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de paixão, morte e ressurreição, e recorda que a vida cristã é uma “via” a percorrer que consiste não tanto numa lei a observar, mas na própria pessoa de Cristo, a encontrar, a acolher, a seguir», sublinhou Bento XVI em 2011.

Giacomo Gambassi

 

MEDITAR

A compaixão de Jesus e os leprosos do nosso tempo

Um leproso caminha direto para ele. Jesus não se esquiva, não mostra medo. Detém-se na dor e escuta.

O leproso “usará vestes rasgadas, e cobrirá o lábio superior, ficará só e fora do acampamento”. (Leviticus 13.46).

Da boca velada, do rosto escondido do recusado nasce uma expressão belíssima: "Se quiseres, podes curar-me“. Com toda discrição, de que é capaz: "Se quiseres". E percebo que Jesus fica tocado por esta pergunta grande e submissa, que agarra o Seu coração e o força a revelar-Se: "Se quiseres". Em nome de todos os filhos doridos da terra, o leproso pergunta: o que quer Deus realmente desta carne ferida, destas lágrimas? Quer sacrifícios ou filhos curados?.

Frente ao contagioso, o impuro, um cadáver que caminha, que não deve ser tocado, um farrapo deitado fora, Jesus sente "compaixão". O Evangelho usa um termo de uma carga infinita, que indica um calafrio no ventre, uma dentada nas entranhas, uma rebelião física: não, não quero; basta de dor!

Jesus experimenta compaixão, estende a mão e toca. No Evangelho cada vez que Jesus se comove, toca. Toca o intocável e tocando ama, amando cura. Deus não cura com um decreto, mas com uma carícia.

A resposta de Jesus ao "se quiseres" do leproso é direta e simples, uma última e imensa palavra no coração de Deus: "Eu quero: fica curado!" Repito, com emoção, confiança, força: eternamente Deus não quer senão filhos curados. É a boa nova, um Deus que dá a graça, que cura a vida, sem colocar cláusulas. Aquele que agora luta comigo contra todo o meu mal, renovando a vida gota a gota, estrela a estrela a noite.

E mandou-o embora ordenando-lhe, em tom severo, que não contasse nada. Porque Jesus não faz milagres com algum outro propósito, para fazer adeptos ou para ter sucesso, nem mesmo para converter alguém. Cura o leproso para que se torne intacto, para que possa ser restaurado à sua plena humanidade e para a alegria dos abraços. É a mesma coisa que acontece com cada gesto de amor: amar "para", fazê-lo com qualquer propósito não é amor verdadeiro.

Quantos homens e mulheres, cheios do Evangelho, fizeram como Jesus e foram ter com os leprosos do nosso tempo: refugiados, sem-abrigo, tóxicos-dependentes, prostitutas. Tocaram-nos, com um gesto de carinho, um sorriso e muitos deles, e são milhares e milhares, ficaram literalmente curados dos seus males e tornaram-se curadores pela sua vez.

Tomar o Evangelho a sério que tem dentro dele um poder que muda o mundo.

E todos aqueles que o levaram a sério e tocaram os leprosos do seu tempo, todos testemunharam que fazer isso traz em si uma grande felicidade. Porque te coloca do lado justo da vida.

Ermes Ronchi

 

Bem-vindo ao deserto!

Já te sentiste como se estivesses num deserto? Assim, como em terreno seco e árido em que dás um passo e parece que não sais do sítio e só PENSAS: quando acaba este tormento?

 

Independentemente do que sintas e quais as razões que te levam ao deserto gostava que pensasses que não és a primeira nem a única nestes caminhos. Seja por problemas no trabalho, ou falta dele, seja problemas de saúde ou falta dela, ou questões de amor, ou falta dele, creio que todos passamos por uma espécie de deserto e fazemos travessias mais ou menos longas.

Talvez aqui possamos fazer duas distinções: ir ao deserto ou ser empurrado para o deserto.

Eu, todos os anos vou ao “deserto”. É que numa certa fase da minha vida, quando fui empurrada para o deserto, Cristo revelou-Se, fez caminho comigo e eu deixei-me conduzir. Cheguei sã e salva, com mazelas e feridas, mas pronta para o que viria a seguir. Mas para quê SenhorPorquê o desertoQual o objetivo?

Cristo foi ao deserto para se preparar para o que de grande iria acontecer, para se pôr à prova e mostrar que poderemos resistir às inúmeras tentações que nos colocam no caminho. E eu Senhor, porque tenho de ir? Porque tenho de sentir fome de carinho, sede de conforto, e medo da solidão? Não haverá outro caminho?

Seja qual for o caminho, ou local, acho que a companhia que levas é fundamental, bem como as escolhas que fazes quando és tentada. Eu podia ter escolhido outras companhias, como o rancor, a raiva e a injustiça, convivi com elas todas, mas foi o testemunho de Cristo que serviu de bússola e por isso o expresso com tanta gratidão.

Não foi um caminho fácil! Aceitei a cruz que carregava e “ressuscitei” no domingo de Páscoa. Agora, todos os anos agradeço a oportunidade de ir ao deserto e fazer silêncio para ouvir a voz que me inspira - a Tua voz Senhor!  

Não invalida contudo que, volta e meia, seja empurrada para o deserto, e sinta que de repente tudo fica estranho e vazio mas, como já sei como é estar no deserto, sei que não estou lá sozinha. Resta-me usar a bússola que a fé me dá, porque o deserto não é uma travessia fácil.

Mas sabes uma coisa amiga: o deserto é árido mas a quaresma é um tempo fértil. Aproveita!

E tu, estás no deserto?

Raquel Rodrigues

 PENSAMENTO DA SEMANA

 

Serei o teu Deus quando deixares de Me ter na mão, e me deixares ter-te na Minha.

Serei o teu Deus quando, por tudo e por nada, te lembrares de Mim.

Serei o teu Deus quando me convidares a entrar na tua intimidade e me levares para as lutas do dia-a-dia.

Serei o teu Deus quando me trouxeres para as tuas decisões e me levares para a rua.

João Delicado


 

INFORMAÇÕES

MISSA NO SANTUÁRIO DA CALDEIRA

No próximo domingo, 18 de fevereiro, às 16h00 horas.


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Pensei

que a liberdade vinha com a idade

depois pensei

que a liberdade vinha com o tempo

depois pensei

que a liberdade vinha com o dinheiro

depois pensei

que a liberdade vinha com o poder

depois percebi

que a liberdade não vem

não é coisa que lhe aconteça

terei sempre de ir eu.

Sónia Balacó

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