Nº 1125

 

Se te amo, solto-te

A vida é cheia de marés que muito trazem e que, da mesma forma, muito levam. Aprende a admirar e a tirar partido do que te é dado em cada momento, sem te preocupares com a verdade de que um dia o perderás.

Nada deste mundo é permanente. Assim, desapegar-se não significa desistir, mas apenas aceitar que a vida é uma enorme, magnífica e atribulada viagem.

Não te demores nas visitas às tuas memórias, nem deixes que grandes sonhos te distraiam. A paz depende em absoluto da tua capacidade de não te apegares a nada.

O amor mais puro é aquele em que nos damos a nós mesmos, renunciando a qualquer contrapartida. Afinal, o amor basta-se a si mesmo.

Deixa a história acontecer, aceitando o que se aproxima e soltando o que se afasta.

Deixa que os outros sejam quem são, aceitando-os como são em cada momento da sua vida.

Aceita-te. Não te impacientes contigo, dá-te tempo e espaço, sem te enfureceres. Aprende a cuidar de ti, com todos as imperfeições que tens, sem desistires de, com calma, aperfeiçoar o teu coração.

Ama. Qualquer que seja a tua missão, qualquer que seja o caminho que escolhas, qualquer que seja o preço que isso represente. Ama.

Em qualquer relação humana, é essencial que respeitemos o outro, que aceitemos com confiança quem saberá melhor do que nós, o que o faz mais feliz. Não devemos impor a ninguém as nossas ideias a respeito dos caminhos que deve construir e seguir rumo à felicidade. Amando da mesma forma o que volta, o que se revolta e o que não volta.

Quem se liga às coisas experimenta uma vida de sofrimento cheia de amputações sem fim.

Abre mão, com um sorriso, daquilo que, na mais profunda verdade, não é teu, apenas te foi confiado por algum tempo!

Ama, renovando a cada dia o compromisso e renovando a força da tua vontade para que assim seja, apesar de tudo. Tudo. Tudo.

No final, e de uma forma que escapa por completo ao nosso entendimento, só será mesmo teu o que tiveres sido capaz de dar aos outros… o quanto foste capaz de amar.

José Luís Nunes Martins

 

MEDITAR

 

«O maior de entre vós será o vosso servo»

 

«(…) Não vos deixeis tratar por ‘mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. E, na terra, a ninguém chameis ‘Pai’, porque um só é o vosso ‘Pai’: aquele que está no Céu. Nem permitais que vos tratem por ‘doutores’, porque um só é o vosso ‘Doutor’: Cristo. O maior de entre vós será o vosso servo. Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado» (De Mateus 23, 1-12, Evangelho do 31.º Domingo, Ano A).

A Palavra de Deus põe-me entre a espada e a parede: sou, eu também, como escriba e fariseu, alguém que diz mas não faz? Cristão de substância ou de fachada? Uma “pergunta do coração”, daquelas que fazem viver: sou um falso que não é aquilo que diz e não diz aquilo que é, ou pessoa verdadeira, realizada, em quem coincidem anúncio e anunciador? Há golpes duros nas palavras de Jesus; mas de cada vez que isso acontece, o propósito não é ferir, mas quebrar a concha para que apareça a pérola. A concha não é a fragilidade, mas a hipocrisia.

No Evangelho, Jesus não suporta duas categorias de pessoas: os hipócritas e as de coração duro, dois géneros humanos que muitas vezes se identificam. Atam pesos enormes às costas das pessoas, mas não os tocam nem com um dedo. Hipócrita é o moralista que impõe leis rígidas, mas apenas aos outros, e quanto mais severo é com eles, mais próximo se sente de Deus!

Jesus é rigoroso, mas nunca rígido. Paulo, na segunda leitura desde domingo, escreve: «Desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida» (1 Tessalonissenses 2, 8). O hipócrita, ao contrário, diz: «Dei-vos a lei, estou pronto». São funcionários das regras e analfabetos do coração. E até analfabetos de Deus. Isto é, no seu íntimo são estruturalmente ateus.

Hipócrita é termo grego que significa ator, o artista de teatro que recita um texto e endossa uma máscara: fazem todas as obras para serem admirados pelas pessoas, comprazem-se com os primeiros lugares, as saudações nas praças, os aplausos… Mas o coração está ausente, o coração está algures. Fingem: são personagens, deixaram de ser pessoas. E esta é a pior desventura que pode acontecer, a dissociação da alma, a dupla personalidade, quando amas aquilo que sai da pele para fora (a aparência e o supérfluo) e não cuidas daquilo que vai da pele para o interior (a substância e o essencial).

São muito raras as pessoas autênticas, de uma peça só, que são elas próprias em público como em privado, sem máscaras. Quando encontramos uma, não as deixamos ir embora sem ter tentado fazê-la amiga. Está entre aquelas que abrem uma fenda para a verdade, uma brecha para Deus.

Jesus, depois, evidencia outro erro que esfarela e envenena a vida desde dentro: o amor ao poder. Não vos fazeis chamar de mestre, ou doutor, ou pai, como se fosseis superiores aos outros. Sois todos irmãos. Mas nós estamos sempre impreparados para ser irmãos e irmãs. A fraternidade naufragou na história humana, é trauma e sonho, sempre ferida, sempre ameaçada, sempre em risco. Porém desenha um mundo bom que se rege por laços de afeto feliz, em que o maior é aquele que serve. Porque um mundo fundado no conceito do poder e do inimigo não é uma civilização, mas uma barbárie.

 

Ermes Ronchi

 O que têm as crianças a ver com isto?

«As crianças brincam à guerra / É raro que brinquem à paz / porque os adultos / desde sempre fazem a guerra, / tu fazes “pum” e ris; / o soldado dispara / e um outro homem / não ri mais. / É a guerra.»

As crianças brincam à guerra, recita uma poesia de Bertolt Brecht, porque as crianças não sabem como se brinca à paz. Ninguém lhes ensinou como se faz. Brincam à guerra porque desde sempre viram os adultos a fazerem-na, e é belíssimo fazer “pum”.

Mas as crianças não sabem que a guerra não é uma brincadeira, começa quando se quer tudo para si, ou não se consegue ver a beleza nem sequer nos desenhos das outras crianças. Ainda não sabem, as crianças, que se quem brinca à guerra são os adultos, então a batalha não vai terminar na cozinha, a preparar a merenda. O resultado é apenas fome, frio e medo.

Deveríamos reler esta poesia, meditá-la nestas horas ajuda a decifrar as notícias dos sofrimentos infligidos às crianças de Gaza, a gerir a dificuldade ao ver os rostos dos pequenos israelitas reféns do Hamas, a recordar os filhos ucranianos deportados para a Rússia, a pensar nos menores confiados à sorte das ondas do mar na busca desesperada de um futuro.

Concede um “além” a poesia, que não é remoção, mas a tentativa de esconjurar a habituação a um mal sem sentido, fixando uma ordem moral de responsabilidade; como apenas a oração pode enfrentar a grande e terrível pergunta sobre o que é que as crianças têm a ver com o sofrimento, aceitando que não há verdadeira resposta fora do próprio sofrimento.

Há sempre uma guerra no mundo, um conflito cujos efeitos se tornam insuportáveis quando as vítimas são os mais inocentes entre os inocentes.

O mundo em paz olha com ânsia para tudo isto, sente piedade, chora em silêncio e reza.

Massimo Calvi

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

CREDO

Creio que verdadeiramente ateus

não são os que negam Deus

que não conseguem ver

mas os que negam os homens

que não conseguem deixar de ver.

 

Creio que só podem tratar a Deus como Pai

Os que tratam os homens como irmãos.

Creio que em Jesus Cristo,

Só é possível ir a Deus através dos homens.

Pe. Leonel Oliveira


 

INFORMAÇÕES

 

MUSIC AZORES 2023

No próximo dia 10 de novembro, pelas 21 horas, haverá um concerto de música na Igreja Matriz da Calheta, com o tema: ”Cantando Admont.

A entrada é livre e toda a população está convidada.


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Pensei

que a liberdade vinha com a idade

depois pensei

que a liberdade vinha com o tempo

depois pensei

que a liberdade vinha com o dinheiro

depois pensei

que a liberdade vinha com o poder

depois percebi

que a liberdade não vem

não é coisa que lhe aconteça

terei sempre de ir eu.

Sónia Balacó

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