Nº 1123

 

DESDE O PRIMEIRO DIA…

 "Que estranho desajuste é este que se meteu em nós desequilibrando-nos os dias de tal modo que, mesmo andando sempre a correr e a “contra relógio”, sempre a “cem à hora”, sempre esbaforidos, chegamos sempre atrasados!?

Comemos a correr. Cumprimentamo-nos a correr. Não nos oferecemos tempo para ouvir. Para calar. Para olhar nos olhos de alguém e neles nos revermos, no melhor ou no pior de nós… Amamos a correr…

Na estrada, e na carreira profissional é nossa a faixa de ultrapassagem. A impaciência faz-nos colar o dedo às campainhas das portas:- “eles hão de abrir!”…

Pressa e impaciência, são a tónica da des-harmonia do nosso tempo… São a dominante des-compassada dos nossos dias…

Por isso, des-concertados por dentro, perdidos do com-passo, vivemos cada vez mais sós, cada vez mais apressados, cada vez mais atrasados… vivemos cada vez menos…

Com medo de envelhecer, envelhecemos precocemente e sem Grandeza. A impaciência envelhece, eleva a pressão arterial, desgasta-nos sem proveito…

Quando nos convenceremos de que, na verdade, não podemos nem devemos ter tudo, chegar a tudo, estar em todo o lado ao mesmo tempo?

Olhemos a Natureza. TUDO na Criação chega a seu tempo. Nada amadurece antes dele:

- A fruta, colhida antes que amadureça ou não sabe a nada ou é amarga. E não faz bem à saúde…

- O trigo colhido antes do tempo apodrece nos celeiros…

- E a Vida, essa, como um rio que flui imparável, irá, por certo, mais dia menos dia, dar ao Mar...

Que nesse dia a nossa Vida seja como um RIO FELIZ a espraiar-se Sereno, Feliz por ter chegado finalmente ao seu FIM - ao Amor Pleno que, sem Se impacientar ou impor pressas, nunca Se cansou de nos convocar para poder espelhar-Se em nós e nós nEle. Desde o primeiro dia…"

Glória Marques

 

MEDITAR

Ninguém pode ter poder sobre o homem. Pertence só a Deus.

Vêm a Jesus e fazem-lhe uma pergunta astuciosa, de quem provoca ódios, que cria inimigos: é lícito ou não pagar impostos a Roma? São os partidários de Herodes, o rei fantoche idumeu de Roma; juntam-se-lhes os fariseus, os puros que sonham com uma teocracia sob a lei de Moisés. Não se suportam uns aos outros, mas aliam-se hoje contra um inimigo comum: o jovem rabino cujas ideias eles temem e cuja carreira de pregador querem acabar.

A armadilha está bem concebida: escolher: ou connosco ou contra nós! Pagar ou não impostos ao império? Jesus responde com uma dupla mudança de perspetiva. A primeira: substitui o verbo pagar pelo verbo restituir: restituam, devolvam a César o que é de César.

Restituir, um imperativo forte, que envolve muito mais do que algumas moedas, que devem dar forma a toda a vida: devolver, a César e a Deus, à sociedade e à família, aos outros e à casa comum, algo em troca do que receberam.

Todos nós estamos envolvidos numa teia de dons. Vivemos do dom da hospitalidade cósmica. A dívida de existir, a grande dívida de viver só pode ser paga devolvendo muito à vida. Devolvam a César. Mas quem é César? O estado, o poder político, com seu panteão de rostos muito conhecidos e pouco amados? Não, César aponta para muito mais do que isso.

Ouso pensar qual é hoje o verdadeiro nome de César, e a minha contrapartida não ser só a sociedade, mas o bem comum: a terra e pobres, o ar e a água, o clima e as criaturas, a única arca de Noé em que todos nós embarcamos, e não há mais em reserva. O problema mais sério do planeta. Receberam muito, agora não saqueiem, não envenenem, não mutilem a mãe terra, mas tomem cuidado dela à vossa volta.

A segunda mudança de paradigma: César não é Deus. Jesus retira a César a pretensão divina. Restitui a Deus o que pertence a Deus: De Deus é o homem, feito ligeiramente inferior aos anjos (Salmo e ao mesmo tempo pouco mais que um sopro de vento (Salmo 44), um pavio fumegante, mas que não vais apagar.

Na minha mão tenho gravada: Pertenço ao meu Senhor (Isaías 44,5). São palavras que soam como um decreto de liberdade: não pertences a nenhum poder, fica livre de todos eles, rebelde contra qualquer tentação de te deixares escravizar, sê o guardião da liberdade (Hb 3,6).

Sobre todo o poder humano manifesta-se um comando: não colocar as mãos sobre o homem. O homem é o limite intransponível: não te pertence, não o violes, não o humilhes, não abuses dele, ele tem o Criador no sangue e na respiração. Qual é a coisa que podes restituir a Deus? Respirar com ele, o triplo cuidado: de mim, do mundo e dos outros, e o espanto de que tudo seja “um dom de luz, envolto em faixas de luz” (Rab’ia).

Ermes Ronchi

 

Recomeça, outra vez

A vida é um intervalo de tempo entre dois acontecimentos muito concretos e definidos na história da vida de cada um de nós. Mas, apesar de parecer  simples e sempre a direito, é também cheia de fracassos que importa ser capaz de superar, sem perder o entusiasmo. Sob pena de deixarmos o tempo passar enquanto estamos à espera de que a vida volte atrás!

 Um dos maiores talentos que devemos cultivar em nós é o do recomeço. Como se perdoássemos a realidade, os outros e a nós mesmos pelo que aconteceu, e nos lançássemos de novo com a mesma fé, ou outra ainda maior, ao desafio onde falhámos antes.

 Não julgues que recomeçar é voltar atrás. As primeiras tentativas quase nunca são capazes de grandes resultados. Aprendemos com aquilo que vamos fazendo e com os erros. São partes do caminho.

 Mas antes de insistires, avalia com cuidado se as tuas razões são boas, porque se não o são, e nelas insistes, estás apenas a ser teimoso. O que é uma perda de tempo, por mais nobre que te pareça, pois não te levará a lado algum.

 Sei que a minha existência é muito anterior ao meu nascimento e que perdurará para além da morte. Mas, enquanto estiver neste mundo, cabe-me lutar pelo que é bom e possível, sem esperar facilidades ou vitórias simples.

 Tudo começa a cada instante. Não importa em que momento da tua vida estás. Esse é o teu ponto de partida.

 Deixa os sonhos para trás e faz com que a realidade do que sonhas se erga diante de ti, a cada instante. Se cair uma pedra ou tudo se desmoronar… sorri e não percas grande tempo a queixar-te da má sorte. Agradece as tuas forças, o teu engenho e a oportunidade que tens de começar de novo.

José Luís Nunes Martins

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Senhor, dá-nos a alegria de viver a nossa vida, não como um jogo de xadrez; onde tudo é calculado;
não como uma competição onde tudo é difícil;
não como um teorema que nos quebra a cabeça,
mas como uma festa sem fim onde o nosso encontro se renova,
como um baile, uma dança, entre os braços da Tua graça, na música universal do Teu amor.
Senhor, vem tirar-nos para a dança.

Madeleine Delbrêl

 


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Pensei

que a liberdade vinha com a idade

depois pensei

que a liberdade vinha com o tempo

depois pensei

que a liberdade vinha com o dinheiro

depois pensei

que a liberdade vinha com o poder

depois percebi

que a liberdade não vem

não é coisa que lhe aconteça

terei sempre de ir eu.

Sónia Balacó

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