Nº 1119
As pessoas que nos curam
Ninguém se cura sozinho. Ninguém ultrapassa as tempestades, os barcos revirados, a água que se engole ou o vento cortante sem a ajuda de ninguém. O processo de cura de cada um, ainda que profundamente individual e altamente solitário, é (ainda) um processo de comunidade. De partilha profundíssima capaz de revolver crenças, raízes e, até, a própria alma. É sobre estas pessoas que vale a pena falar. Sobre os que nos mudam a vida para melhor, sem contrapartidas e, tantas vezes, com prejuízo pessoal.
Este texto é para quem não se assusta com a nossa escuridão.
Para quem entra no barco, segura nos remos e diz: “vamos por aqui”.
Para quem nos acende a luz de dentro com a sua.
Para quem vem para ficar.
Para quem nos diz o que precisamos de ouvir.
Para quem nos mostra o que precisamos de ver.
Para quem nos revela as fotografias da alma, que nem sabíamos que existiam, algures por ali.
Para quem é genuinamente bom.
Para quem luta do lado do Bem.
Para quem se atreve a ficar connosco quando somos pouco, fazemos pouco e sabemos ainda menos.
Para quem nos segura o leme quando a nossa vida é um navio prestes a embater no maior iceberg.
Para quem não desiste de nós e não se perturba pelas nossas fragilidades.
Para quem nos encontra a meio caminho.
Para quem reza por nós.
Para quem se preocupa.
Para quem cuida de nós com o carinho que nem sempre merecemos ou sabemos retribuir.
Que saibamos cuidar das nossas pessoas-leme. Das nossas pessoas-resgate. Que vêm para nos mostrar que o Bem há de ganhar sempre. Seja qual for o mal que nos apareça.
MEDITAR
A VINHA
A vinha é o campo mais apreciado, aquele em que o agricultor investe mais trabalho e paixão, esforço e poesia. Sem poesia, de facto, até o gole de vinho é estéril. Somos a vinha de Deus, o seu cultivo não tem preço. A parábola do fazendeiro que sai de casa de madrugada conta isso, e já desde as primeiras luzes do dia vagueia pela aldeia em busca de trabalhadores. E vai voltar mais quatro vezes, a cada duas horas, enquanto houver luz.
Neste ponto, porém, algo não bate certo: que sentido faz para um empresário recrutar jornaleiros quando falta apenas uma hora para o pôr do sol? É só tempo de chegar à vinha, para receber as contas do encarregado, e faz-se noite. Nasce então a suspeita de que há mais, de que aquele que procura braços perdidos está mais interessado nos homens e na sua dignidade do que na sua vinha, mais nas pessoas do que no lucro.
Mas chegamos ao cerne da parábola, o pagamento. Primeiro gesto inquietante: começar por quem trabalhou menos.
Segundo gesto ilógico: pagar uma hora de trabalho como se fossem doze horas. E percebemos que não é um pagamento, mas um presente. Aqueles que suportaram o impacto do calor e da fadiga esperavam, com razão, que lhe pagassem um suplemento. Como culpá-los? E aqui estamos novamente desarmados: Não, amigo, não te faço mal. O proprietário não tira nada aos primeiros, acrescenta aos outros. Não é injusto, mas generoso.
E cria uma vertigem na nossa forma mercantil de conceber a vida: coloca o homem antes do mercado, a dignidade da pessoa antes das horas trabalhadas.
E lança-nos a todos numa aventura desconhecida: a de uma economia solidária, uma economia de doação, de solidariedade, do cuidar do elo mais fraco, para que a cadeia não se quebre. A aventura da bondade: o proprietário envolve a justiça com a caridade e perfuma-a.
Comove-me o Deus apresentado por Jesus, um Deus que com aquele dinheiro, que chega inesperado e abençoado a quatro quintos dos trabalhadores, pretende insuflar vida na vida dos mais precários. A justiça humana é dar a cada um o que é seu, a justiça de Deus é dar a cada um o melhor. Nenhum empresário faria isso. Mas Deus não é; não é o empresário, não é o contador de méritos, é o Doador, que não sabe contar, mas que sabe surpreender-nos.
Não há vantagem, então, em trabalhar desde a primeira hora? Apenas mais esforço? Há sim, há um orgulho humilde e poderoso por ter tornado a vinha da história mais bela, por ter deixado mais vida para trás de ti.
Importas-te que eu seja bom? Não, Senhor, não me importo, porque sou o último trabalhador, porque sei que tu virás à minha procura de novo, mesmo que seja já muito tarde.
Ermes Ronchi
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. Ignorou leis e preceitos. Derrubou crenças e opressões para que o sofrimento de muitos fosse escutado. Era alguém que levava ao extremo a doação da sua vida para que tantos outros pudessem sentir o sabor da Vida.
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. Fez da sua vida uma verdadeira estrada, onde através da verdade aliviava quem durante tanto tempo tinha sido ignorado, menosprezado e maltratado. Era alguém que trabalhava para erguer e por isso caminhava por entre a existência dos que ninguém queria ver, ouvir ou tocar. Era alguém que escutava porque tinha o cuidado de colocar no centro quem sempre viveu na periferia.
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E não parou até gritar a todos que é no amor que surgem os milagres. Não parou até dar a conhecer a todos que a fé se faz de laços. Não parou até que todos se deixassem contagiar pelo discipulado da escuta, do toque e da compaixão. Era alguém que escutava porque descodificava a vida e o sofrimento com o coração.
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E explicou vezes sem conta que o seu sonho haveria de ser concretizado quando todos fossem cuidados, acolhidos e amados. Mas muitos demoraram a entender e, por isso, explicou-lhes a fé, a vida e o amor em parábolas. E sem ver resultados entregou-se totalmente. Acolhendo em si todos os gritos, todas as dores, todas as opressões e incompreensões. Deixou que todos, todos, todos fossem inscritos para sempre na sua vida.
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E tu? Tens-te ouvido? Tens curado as tuas feridas, as tuas sombras? Tens procurado a ajuda necessária para poderes escutar o teu sofrimento?
Um dia houve alguém que escutou o sofrimento e, a partir desse momento, todos foram erguidos!
Emanuel António Dias (Adaptado)
PENSAMENTO DA SEMANA
A gratidão é a virtude humana por excelência. Por um pouco que a deixemos aflorar, a gratidão irá abrindo caminho, pacificando o nosso coração e fazendo emergir, ao mesmo tempo, o melhor que há em nós.
A gratidão é um sentimento profundamente terapêutico: ela afasta-nos dos obscuros pensamentos e situa-nos na terra firme da presença, em sintonia com o presente.
P. Adroaldo Palaoro, sj
INFORMAÇÕES
FESTA DE SÃO MIGUEL ARCANJO
RIBEIRA D’AREIA
Tríduo - dias 29 e 30 de setembro, e 1 de outubro, missa às 19 horas.
Festa - dia 1 de outubro, Eucaristia às 15 horas seguida de procissão.
FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO - RIBEIRA SECA
Tríduo - dias 28, 29 e 30 de setembro, missa às 18 horas.
Visita do pároco aos doentes - 4ª feira, dia 27, a partir das 10 horas,
Adoração do Santíssimo Sacramento - dia 28 de setembro - entre as 17 horas e as 18 horas.
Confissões - Quinta-feira, 28 de setembro, das 17 horas às 18 horas.
Festa - dia 1 de outubro com Eucaristia às 14 horas seguida de procissão.
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Agenda Pastoral
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Nº 1173Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
SEJA FEITA A TUA BONDADE!
"Jesus não ensinou o Pai Nosso aos discípulos como uma fórmula para estes repetirem de cor e de modo completo." (Calmeiro Matias)
Jesus não definiu a entoação certa ou o sotaque mais apropriado.
Cada um tem um dialeto feito de silêncios, de palavras, de cumplicidades.
Um dia, em Vila Nova de Gaia, o meu primo recebeu-me com um "bons olhos te beijam!" A resposta ao meu "Ãh?" não tardou: "És surda? Bons olhos te beijam!"
Soou-me a poesia. O sotaque tornou tudo mais bonito.
À semelhança do meu primo e do meu Pai, "aboli os vês" e digo:
Seja feita a tua bondade! A tua bondade, Pai! A tua bondade, Pai!
Quando Jesus partilhou com os discípulos o modo como conversava com o seu Pai, demorou-se a mostrar-lhes a confiança na bondade de Deus. Lucas fez chegar até nós a história do amigo que aparece fora d'horas e termina perguntando se um Pai poderá recusar o maior bem - a convivência e a intimidade do Espírito - aos seus filhos. (Lucas 11, 1-13)
"Este assunto da bondade de Deus é uma questão de sensatez. Ser sensato. Como pode existir Deus, se não for bom?" (José António Pagola)
Eneida Costa
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