Nº 1114
Cada vida é uma história de encontros
A existência de cada um de nós é um caminho longo, marcado por cruzamentos com outros caminhos, encontros com pessoas que vêm de longe, no espaço e no tempo, e que, depois de nós, seguirão para outras paragens… de que nós nunca iremos ter notícia.
Todos chegamos para depois partirmos.
É preciso envelhecer bastante até compreendermos que o momento da despedida é uma parte importante de todos os encontros. Ainda que depois da despedida haja muito que permanece intacto, por mais dura que tenha sido a perda, a verdade é que não se muda o passado e o que vivemos viverá para sempre connosco e em nós. Seremos sempre mais o nosso passado do que o nosso futuro.
Encontrar e perder são apenas momentos que se sucedem sem fim. Por isso se pode ter a certeza de que cada fim é um começo. Assim como em qualquer caminho há subidas que são descidas, dependendo da direção em que se está.
Os nossos caminhos cruzam-se, encontram-se, afastam-se, mas alguns, poucos, unem-se.
É preciso conhecer para amar e para que isso suceda é preciso ir ao encontro do outro. O amor permite que se unam aqueles que se encontram, mas de que forma e com que intensidade, isso já depende mais deles do que do amor!
Quando me encontro contigo, descubro tanto sobre ti como sobre mim. Pelo que temos de semelhante e de diferente. Depois de nos darmos desta forma, acabamos sempre melhores do que antes. Mas depois de cada encontro, cada um é chamado a responder à questão: e agora, o que vais fazer?
As linhas tortas pelas quais Deus escreve a direito são afinal muito simples, um caminho por onde somos chamados a dar fruto em todos os encontros que vamos tendo com os outros. A enriquecer, a alegrar, a pacificar, a ser bons fazendo o bem e evitando o mal.
Eu e tu seremos sempre aqueles que procuram, os que andam perdidos, os que encontram e os que perderam aquilo que julgávamos nosso, antes de andar para diante sem saber o que esperar… mas amando sempre, apesar de tudo.
MEDITAR
Migalhas de Deus são tão grandes como o próprio Deus
A mulher das migalhas, a cananeia pagã, surpreende e converte Jesus: fá-lo passar de mestre de Israel a pastor de todas as dores do mundo (Mateus 15,21-28). A primeira das suas três palavras é uma oração, a mais evangélica, um grito: “Kyrie eleyson”, piedade, Senhor, de mim e da minha criança. E Jesus não lhe dirige nem sequer uma palavra.
Mas a mãe não se rende, cola-se ao grupo, diz e rediz a sua dor. Até que provoca uma resposta, mas distante e brusca: vim para os de Israel, e não para vós.
Frágil mas indómita, não larga; como toda a verdadeira mãe pensa na sua criança, e relança. Lança-se por terra, corta o passo a Jesus, e do coração irrompe-lhe a segunda oração: ajuda-me! E Jesus, áspero: não se tira o pão aos filhos para o lançar aos cães.
E eis a inteligência das mães, a fantasia do seu amor: é verdade, Senhor, mas os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos. Faz uma migalha de milagre, para nós, os cachorrinhos do mundo!
É a reviravolta da narrativa. Docemente, a mulher confessa que está ali só para buscar migalhas, só restos, pão perdido. Poderosamente, a mãe acredita com todo o seu ser que para o Deus de Jesus não há filhos e não-filhos, seres humanos e cachorrinhos. Mas só fome e criaturas a saciar; que o Deus de Jesus está mais atento à dor dos filhos que ao seu credo, que prefere a sua felicidade à fidelidade.
Jesus está fulgurado, comove-se: mulher, grande é a tua fé! Ela que não vai ao templo, que não lê as Escrituras, que reza aos ídolos cananeus, é proclamada mulher de grande fé. Não conhece o catecismo, todavia mostra que conhece Deus por dentro, sente-O pulsar na profundidade das suas feridas do seu coração de mãe. Sabe que «faz chaga no coração de Deus a soma da dor do mundo» (G. Ungaretti).
A dor é sagrada, há ouro nas lágrimas, há toda a compaixão de Deus. Pode parecer uma migalha, pode parecer pouca coisa a ternura de Deus, mas as migalhas de Deus são tão grandes como o próprio Deus. Grande é a tua fé!
E hoje continua a ser assim, há muita fé na Terra, dentro e fora das igrejas, sob o céu do Líbano como sob o céu de Nazaré, porque grande é o número das mães do mundo que não sabem o Credo, mas sabem que Deus tem um coração de mãe, e que misteriosamente lhe prenderam e guardaram um fragmento.
Sabem que para Ele a pessoa vem primeiro que a sua fé. Seja como desejas. Jesus realça o pedido da mãe, restitui-lhe: és tu e o teu desejo que mandam. A tua fé e o teu desejo de mãe, uma fração de Deus, ardente (cf. Cântico 8,6), são verdadeiramente um ventre que dá à luz milagres.
Ermes Ronchi
Bem-aventuranças de quem sabe celebrar a vida
Felizes são aqueles que sabem aproveitar a vida como se fosse uma festa contínua, que apreciam os aperitivos que cada dia lhes oferece, que apreciam a comida celebrada em comum com os outros, as sobremesas doces em diálogo intimista, o café, que é o pretexto para dois dedos de conversa.
Felizes são aqueles que celebram cada feliz acontecimento da sua existência, lembrando os eventos que fortaleceram as amizades, comemorando o passado no presente.
Felizes são aqueles que se alegram com as boas notícias, que sabem apreciar e reconhecer os factos decisivos na sua trajetória de vida e na dos outros.
Felizes são aqueles para quem a simples coexistência de cada dia é uma festa permanente e sabem como criar novidade, evitando assim o cinza da monotonia.
Felizes são aqueles que convidam amigos para sua casa, que se sentem totalmente satisfeitos e felizes por celebrar a bela experiência de cada momento vivido com eles.
Felizes são aqueles que transformam todos os dias da semana em dias festivos, sagrados, divinos, dias para encontros, para as surpresas, para rir, para distribuir a todos o presente de um mimo, de uma delicadeza.
Felizes são aqueles que transformam o posto de trabalho num lugar agradável, a casa num clima caloroso de convivência, o compromisso de vida – casamento, sacerdócio, vida consagrada, vida dedicada – numa experiência de confiança.
Felizes são aqueles que festejam, celebram, convidam, dão as boas-vindas, acolhem, se reúnem, se alegram, apreciam, agradecem. A vida será para eles um verdadeiro banquete, no qual estão presentes seja os problemas seja as alegrias da existência.
Miguel Ángel Mesa Bouzas, in Fé Adulta
PENSAMENTO DA SEMANA
Quando a vida te faz tropeçar,
não desanimes, não arrumes as botas.
Talvez te apeteça desistir, mas não te deixes levar pelo medo de voltar a cair...
A coragem mora dentro de ti, só tens que a deixar sair e deixar-te levar por ela.
A vida é tão bela!
E há caminho para fazer...
Eugénia Pereira
INFORMAÇÕES
FESTA DE NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO
RIBEIRA DO NABO
Missa de Festa - dia 27 de agosto às 18h00, seguindo-se a procissão.
FESTA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO - LOURAL
Tríduo: 23, 24 e 25 de agosto missa às 19h00.
Missa de Festa: 27 de agosto às 13h00 seguindo-se a procissão.
FESTA DE SANTA FILOMENA - PENEDIA
Missa de Festa: 27 de agosto às 11h00, seguindo-se a procissão.
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Nº 1173Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
SEJA FEITA A TUA BONDADE!
"Jesus não ensinou o Pai Nosso aos discípulos como uma fórmula para estes repetirem de cor e de modo completo." (Calmeiro Matias)
Jesus não definiu a entoação certa ou o sotaque mais apropriado.
Cada um tem um dialeto feito de silêncios, de palavras, de cumplicidades.
Um dia, em Vila Nova de Gaia, o meu primo recebeu-me com um "bons olhos te beijam!" A resposta ao meu "Ãh?" não tardou: "És surda? Bons olhos te beijam!"
Soou-me a poesia. O sotaque tornou tudo mais bonito.
À semelhança do meu primo e do meu Pai, "aboli os vês" e digo:
Seja feita a tua bondade! A tua bondade, Pai! A tua bondade, Pai!
Quando Jesus partilhou com os discípulos o modo como conversava com o seu Pai, demorou-se a mostrar-lhes a confiança na bondade de Deus. Lucas fez chegar até nós a história do amigo que aparece fora d'horas e termina perguntando se um Pai poderá recusar o maior bem - a convivência e a intimidade do Espírito - aos seus filhos. (Lucas 11, 1-13)
"Este assunto da bondade de Deus é uma questão de sensatez. Ser sensato. Como pode existir Deus, se não for bom?" (José António Pagola)
Eneida Costa
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