Nº 1095

 

Se este é um homem

Entrámos na semana que os cristãos chamam “santa” porque é a semana que exprime a fé dos seguidores de Jesus, este galileu que com as palavras e a vida quis narrar-nos Deus e entregou-nos uma mensagem humaníssima. De várias maneiras (ritos, orações…) os cristãos fazem memória sobretudo dos últimos dias de Jesus, da sua paixão e morte, e afirmam que o amor vivido por este homem que venceu a morte.

De acordo com o quarto Evangelho, Pilatos, o procurador romano, durante o processo apresenta Jesus torturado à multidão que lhe quer a morte com as palavras: «Eis o homem!». Um homem fraco e atingido com violência pelos soldados, um homem ridicularizado, desprezado e desfigurado, homem que está sempre presente na História e que devemos ver no pobre, no oprimido, na vítima do poder, em quem não conta nada neste mundo.

Aquele espetáculo da vigília de Páscoa no pretório é o espetáculo de que continuamos a ser espetadores no nosso hoje. Não se trata de alimentar visões doloristas, mas simplesmente estar conscientes de que aquela paixão, aqueles acontecimentos de injustiça e de violência mortífera, continuam no presente, e que cada um de nós deve dizer: «Eis o homem!». Eis a humanidade! E pensar, naquela condição desumana que não queremos ver, ou ver com resignação: «Se este é um homem…».

Reler, meditar a paixão de Jesus não nos conduz a concluir que estamos ao abrigo do sofrimento, mas revela-nos que pode haver uma confiança que não claudica mesmo em quem sofre, que se pode viver o amor que se dá e que se recebe mesmo quando se é atingido pelo poder do ódio, que se pode alimentar a esperança também no aparente fracasso. E devemos reconhecer que igualmente outros humanos, homens e mulheres como Jesus, souberam viver assim a sua “paixão”.

Sim, Jesus foi condenado pelo poder religioso antes de mais porque libertava o ser humano de imagens perversas de Deus, e foi morto pelo poder imperial totalitário porque era “perigoso”, como, devemos reconhecê-lo, tantos o são ainda hoje. Mas por todas estas vítimas da História é nosso dever fazer memória que nos caminhos do sofrimento pode resplandecer a capacidade da humanidade de amar, de esperar, de perdoar, para esmagar o círculo infernal do ódio e da violência.

A narrativa da paixão de Jesus conclui-se com as palavras: «Começavam a brilhar as luzes do sábado» - um novo dia na história da humanidade.

Enzo Bianchi (Adaptado)

 

MEDITAR

Semana Santa: Estão a chegar os dias supremos da História

O domingo de Ramos mergulha-nos num dos momentos mais festivos da vida de Jesus: um rio de sorrisos, do monte das Oliveiras ao templo. E à volta era primavera, alegre e poderosa, como agora.

Nunca esqueci um diálogo, há muitos anos, com um monge trapista. Dava uma mão na cervejeira, tentando tornar-me útil, quando me ocorreu perguntar-lhe: «Padre, nunca se cansou de Deus? De rezar, de pensar nele, de dar-lhe todo o tempo? Quando nos cansamos de Deus, o que devemos fazer?».

Esperava que me dissesse: mas como é que se cansa de Deus? Em vez disso, olhou-me com os seus olhos profundos e contou-me uma homilia de S. Bernardo aos seus monges: «No dia dos Ramos, no cortejo que acompanha o Mestre e os discípulos até ao monte das Oliveiras, há quem cante, quem aplauda, quem abra alas e estenda os mantos, quem agite ramos de palmeira: um jardim que caminha. Quem está mais próximo de Jesus, quem está mais afastado. Mas todos contentes.

«Há, no entanto, uma personagem que se cansa mais que todos, ainda que seja forte, ainda que seja a mais próxima, e é a burra com o seu potro, sobre a qual estenderam os mantos, sobre a qual subiu Jesus. Quem sente todo o peso daquele homem sobre si pela encosta que sobe da torrente do Cédron até ao templo e se cansa, é a burra. É a mais próxima de Jesus, e no entanto é aquela que mais se cansa.

«Assim também nós» – prosseguiu –, «quando nos cansamos, quando sentimos o peso das coisas de Deus, talvez isso aconteça porque estamos muito próximos do Senhor, estamos a levá-Lo juntamente com o peso do céu sobre nós, com as suas nuvens escuras. O importante é continuar: pouco depois está Jerusalém.»

A Semana Santa traz consigo os dias supremos da História, a Sua vida e a nossa no mesmo rio, os dias da “desforra” de Deus: quando Deus se desforra de toda a distância, de toda a separação, de toda a indiferença, inventando a cruz que ergue a Terra, que baixa o Céu, que recolhe os horizontes, encruzilhada de todos os nossos caminhos dispersos. A cruz é o abismo onde Deus se torna o amante.

Lá em cima, os braços de Jesus, pregados e estendidos num abraço irrevogável, nunca mais revogado, são as portas do Paraíso escancaradas para sempre, são dilatação do coração até se ferir, antes mesmo do golpe de lança.

Novo génesis do ser humano em Deus: o amado nasce sempre da ferida do coração de quem o ama. O ser humano nasce do coração ferido do seu criador. Revelação última que Deus e a vida são sempre dom de si, e nunca serás abandonado. Por isso, na cruz de Jesus resplandece verdadeiramente a glória da vida.

Ermes Ronchi

 

 

Quanto maior o coração...

Qual é a cruz que sou chamada a tomar? Quais são as minhas ações? Como tem sido o meu discipulado?

Talvez seja mais fácil começar pelo fim: nestes últimos meses o meu discipulado tem sido tépido e insosso, com rasgos de fervor. 

Se, por um lado, te fazes sentir com mais intensidade nos momentos em que me sinto desfalecer, por outro, estou demasiado acomodada às ‘tele-obrigações’ que me dispensam de pensar e de servir. Ou melhor dizendo que me dispensam de amar, já que os que habitualmente nos são confiados não cabem nas paredes do nosso confinamento. 

E a minha imagem vai ficando cada vez menos semelhante à tua, o meu coração cada vez mais atrofiado e a minha humanidade cada vez mais desumana. 

Amo-te na minha incoerência! Que te amo não tenho dúvidas!

O estado de emergência, mergulhou a minha alma num estado de calamidade do qual preciso de ser resgatada. Resgatada por ti. Porque me amas. Porque conheces bem a diferença entre o teu ágape e a minha philia (cf. Jo 21, 15-17). Porque és paciente. Porque conheces o meu coração, os meus cansaços e as minhas feridas. Porque, ainda assim, queres continuar a escrever a nossa história com os lápis da nossa cruz. Na borracha, a tua misericórdia, disposta a corrigir as minhas errâncias, no grafite, o incenso com que louvo as maravilhas que fazes em, através e apesar de mim, e no papel, o ponto de encontro para o caminho que percorremos juntos. 

Continuo sem saber qual é a cruz que me chamas a tomar, mas sei que não há cruz sem coração, pois foi ainda pregado nela que jorrou sangue e água do teu (cf. Jo 19, 34) para me salvar. Peço-te que tornes o meu coração mais semelhante ao teu, esvaziando-o de todo o orgulho para o encheres com a mansidão da tua humildade. Porque quanto maior o coração, mais leve é cruz.

Raquel Dias

 


 

INFORMAÇÕES

 

ADORAÇÃO DO SANTÍSSIMO

MANADAS - segunda-feira, 3 de abril, entre as 10 horas e as 11 horas. 

BISCOITOS - terça-feira, 4 de abril, entre as 18 horas e as 19 horas. 

RIBEIRA SECA - quarta-feira, 5 de abril, entre as 17 horas e as 18 horas.  

 

CONFISSÕES

CALHETA - Celebração penitencial às 19h00.

 

BAZAR

A Comissão de Festas da Ermida de Santo António da Rua de Baixo, Calheta, vai passar pelas casas a pedir para o Bazar.


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Agenda Pastoral

Destaque

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Nº 1150

Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Pensei

que a liberdade vinha com a idade

depois pensei

que a liberdade vinha com o tempo

depois pensei

que a liberdade vinha com o dinheiro

depois pensei

que a liberdade vinha com o poder

depois percebi

que a liberdade não vem

não é coisa que lhe aconteça

terei sempre de ir eu.

Sónia Balacó

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