Nº1038

 

Para, olha e retorna! A Quaresma segundo Francisco

A Quaresma é tempo precioso para desmascarar tentações e deixar que o nosso coração volte a bater segundo as palpitações do coração de Jesus.

Para um pouco, deixa esta agitação e este correr sem sentido que enche a alma de amargura sentindo que nunca se chega a parte alguma.

Para, deixa esta obrigação de viver de forma acelerada, que dispersa, divide e acaba por destruir o tempo da família, o tempo da amizade, o tempo dos filhos, o tempo dos avós, o tempo da gratuidade... o tempo de Deus.

Para um pouco com o olhar altivo, o comentário ligeiro e desdenhoso que nasce de se ter esquecido a ternura, a compaixão e o respeito pelo encontro com os outros, especialmente os vulneráveis, feridos e até imersos no pecado e no erro.

Para um pouco com essa ânsia de querer controlar tudo, saber tudo, devassar tudo, que nasce de se ter esquecido a gratidão pelo dom da vida e tanto bem recebido.

Para um pouco com o ruído ensurdecedor que atrofia e atordoa os nossos ouvidos e nos faz esquecer a força fecunda e criativa do silêncio.

Para diante do vazio daquilo que é instantâneo, momentâneo e efémero, que nos priva das raízes, dos laços, do valor dos percursos e de nos sentirmos sempre a caminho.

Olha os sinais que impedem de se apagar a caridade, que mantêm viva a chama da fé e da esperança. Rostos vivos com a ternura e a bondade de Deus, que age no meio de nós.

Olha o rosto das nossas famílias que continuam a apostar dia após dia, fazendo um grande esforço para avançar na vida e, entre muitas carências e privações, não descuram tentativa alguma para fazer da sua casa uma escola de amor.

Olha os rostos interpeladores das nossas crianças e jovens carregados de futuro e de esperança, carregados de amanhã e de potencialidades que exigem dedicação e salvaguarda. Rebentos vivos do amor e da vida que sempre conseguem abrir caminho por entre os nossos cálculos mesquinhos e egoístas.

Olha os rostos dos nossos idosos, enrugados pelo passar do tempo: rostos portadores da memória viva do nosso povo. Rostos da sabedoria operante de Deus.

Olha os rostos dos nossos doentes e de quantos se ocupam deles; rostos que, na sua vulnerabilidade e no seu serviço, nos lembram que o valor de cada pessoa não pode jamais reduzir-se a uma questão de cálculo ou de utilidade.

Olha e contempla o rosto do Amor Crucificado, que continua hoje, a partir da cruz, a ser portador de esperança; mão estendida para aqueles que se sentem crucificados, que experimentam na sua vida o peso dos fracassos, dos desenganos e das desilusões.

(Adaptado)

 

MEDITAR

Está escrito nas árvores: a lei da vida é dar

 

Porque reparas no cisco que está no olho do teu irmão? Notemos a precisão do verbo: porque «reparas», e não simplesmente “olhas”; porque observas e fixas o olhar sobre ciscos, ninharias, pequenas coisas erradas, perscrutas a sombra em vez da luz daquele olho? Com uma espécie de prazer maligno em procurar e evidenciar o ponto fraco do outro, a regozijares-te com os seus defeitos. Quase a justificar os teus.

Há um motivo: quem não quer bem a si próprio, só vê mal à sua volta; quem não está bem consigo, está mal também com os outros. Ao contrário, aquele que se reconciliou com o seu profundo, vê o outro com bênção. Com olhar abençoante. Deus olhou e viu que tudo era coisa muito boa (cf. Génesis 1, 31). O Deus bíblico é um Deus feliz, que não só vê o bem, como o emana, porque tem um coração de luz e o seu olho bom é uma lâmpada, onde pousa espalha luz (cf. Mateus 6,22). Um olho mau, ao invés, emana obscuridade, multiplica ciscos, espalha amor pela sombra. Ergue uma trave diante do Sol.

Não há árvore boa que produza maus frutos. A moral evangélica é uma ética da fecundidade, de frutos bons, de esterilidade vencida, e não de perfeição. Deus não procura árvores sem defeitos, com nenhum ramo quebrado pela tempestade, ou contorcido de cansaço, ou esburacado pelo pássaro ou pelo inseto. A árvore ultimada, que chegou à perfeição, não é aquela sem defeitos, mas a dobrada pelo peso de muitos frutos repletos de Sol e de sucos bons.

Assim, no último dia, esse dia da verdade de cada coração (cf. Mateus 25), o olhar do Senhor não se pousará sobre o mal, mas sobre o bem; não sobre mãos limpas ou não, sobre frutos carregados de espigas e pão, cachos, sorrisos, lágrimas enxugadas. A lei da vida é dar. Está escrito nas árvores: não crescem entre terra e céu durante dezenas de anos por si mesmas, simplesmente para se reproduzirem: ao carvalho e ao castanheiro bastaria uma bolota, um ouriço a cada trinta anos. Em vez disso, a cada outono oferecem o espetáculo de uma magnificência de frutos, um desperdício de sementes, um excesso de colheita, muito mais do que o necessário para apenas se reproduzirem. É vida ao serviço da vida, dos pássaros do céu, dos insetos esfomeados, dos filhos do homem, da mãe terra. As leis da realidade física e as do espírito coincidem.

Também a pessoa, para estar bem, deve dar, é a lei da vida: deve fazê-lo o filho, o marido, a mulher, a mamã com a sua criança, o ancião com as suas memórias. Cada ser humano bom extrai o bem do bom tesouro do seu coração. Todos nós temos um tesouro, é o coração: a cultivar como um Éden; a gastar como um pão; a proteger com desvelo porque é a fonte da vida (cf. Provérbios 4, 23). Por isso, não sejas avaro com o teu coração: dá-o.

Ermes Ronchi

 

«Nós que conhecemos a guerra, imploramos: Por favor: não façam isso!» - apelo de 60 meninas de Bukavu, RD Congo, à Rússia e Ucrânia

 

«Nós, os jovens de Bukavu, República Democrática do Congo, geração da guerra, sofremos muitas desgraças e traumas por causa disso. É por isso que pedimos que não comecem a guerra. Alguém escreveu: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra», mas nós dizemos com o Papa Francisco: “Quem quer paz, prepare a paz.”

Os Estados que fazem a guerra, as multinacionais que produzem armas e buscam a todo o custo a riqueza de outro país não sofrerão, ficarão ricos, mas são os pobres que sofrem; somos nós, os jovens, que sofremos. Quem quiser a guerra, pergunte-nos o que nós estamos a passar hoje, nós que conhecemos a guerra.

Não há um tesouro escondido na guerra. Com a guerra perdemos os nossos pais, irmãos e irmãs, propriedades e vida. Durante a guerra, perdemos muitos dos nossos avós que talvez hoje pudessem contar-nos sobre sua vida passada e ensinar-nos como comportar-nos na vida.

Na guerra, mais de dez pessoas são enterradas na mesma cova, como se fossem fertilizantes. As mulheres ficam viúvas, os homens viúvos; as crianças ficam órfãs; pais perdem os seus filhos. Muitas crianças nunca conheceram a sua família; desabrigados, moram na rua e nunca foram à escola.

A guerra desestabiliza a sociedade, traz fome e miséria, humilha as pessoas, atropela a dignidade humana, não permite que as pessoas trabalhem e descansem nem de dia nem de noite, impede o progresso, danifica num instante recursos vitais duramente conquistados, traz o retrocesso em todas as áreas: espiritual, intelectual, moral, material...

A guerra traz desordem e destrói o meio ambiente: as bombas poluem o ar e trazem-nos doenças. As escolas fecham, as viagens são impedidas, os centros de saúde são destruídos, o país torna-se inabitável. As pessoas fogem aos milhares para viver miseravelmente num país vizinho, e, às vezes, rebelam-se contra quem as acolheu e a guerra espalha-se.

A guerra divide-nos, fere o coração das pessoas e traz calúnias, ciúmes, negligência, vingança e discórdia. E a pessoa vai sentir-se culpada pelo resto da vida, chegando mesmo a enlouquecer. A guerra extermina os jovens, o mundo de amanhã. Na guerra, os soldados procuram jovens para levá-los para a floresta e transformá-los em rebeldes. A guerra deixa desemprego e hábitos de violência: assassinato, violações, roubo... A vida parece inútil para muitos. As crianças nascem, crescem e envelhecem na guerra e é por isso que a guerra se tornou um legado de geração em geração.

A guerra distancia-nos de Deus, porque não respeitamos a obra da Sua criação nem o seu projeto de amor e fraternidade entre os seres humanos.

Nós vos imploramos, pelo amor de Deus, nosso Criador, que sabe o número dos nossos cabelos, tentem reconciliar-se, esqueçam o que os divide, deponham as armas.

Carta enviada à Agência Fides, (adaptado)

 

 PENSAMENTO DA SEMANA

 "Amar uma pessoa não significa fazer as coisas por ela,
mas ajudá-la a descobrir sua própria beleza, unicidade,
a luz escondida no seu coração e o significado da vida.
Através do amor uma nova esperança é comunicada a essa pessoa
e um desejo de crescer e viver."

 Jean Vanier

 


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PENSAMENTO DA SEMANA

 

Não se caminha quando não se acredita.
Não se estende a mão quando não se ama.
Não se muda quando nada se espera.

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