Nº 1008

 

Não faço nada, logo existo

Que significa “não fazer nada”? Significa dar-se tempo para não fazer aquilo que os outros fazem: tomar banho, dar um passeio... “Não fazer nada” significa sentir que se existe, sentir que se está vivo, e por isso fruir do estar no mundo, saborear o instante.

Durante todo o ano age-se, faz-se, mas pode também “não fazer nada”, coisa mais fácil de dizer do que viver. Há homens e mulheres que nunca conseguem “não fazer nada”, porque a ação alimenta-os; nunca têm tempo para “não fazer nada”, porque temos sempre o que fazer, e assim, aos poucos, tornamo-nos incapazes de parar de fazer.

Sim, há pessoas que, chegadas às férias, pensam imediatamente em esvaziar as malas, pôr tudo em ordem, fazer programas, estabelecer o que fazer de manhã, à tarde, à noite... E, só querendo, encontram muitas coisas para fazer, exceto parar e “não fazer nada”.

“Não fazer nada” angustia-nos, fazer muitas coisas tranquiliza-nos. Faço, logo vivo, e quando me apresento aos outros digo aquilo que faço; se nada faço, não sei que dizer de mim, e depois sou tomado pelo aborrecimento, pela irritação.

Sinto que vivo, tranquilamente, sinto-me contente por nada e por tudo o que existe. E compreendo que passo dias e dias sem me sentir viver, sem estar consciente que existo e que é belo viver: não sou uma máquina que produz. Arte para o “não fazer nada”, mas também para viver e tornar-se sábio

Todavia, parar e “não fazer nada”, de maneira consciente, significa sentir-se como uma árvore, uma pedra, uma cigarra estendida sobre um ramo, uma nuvem no céu. “Não fazer nada” torna-se um laço, uma comunhão com o que está à minha volta.

E sinto que vivo, tranquilamente, sinto-me contente por nada e por tudo o que existe. E compreendo que passo dias e dias sem me sentir viver, sem estar consciente que existo e que é belo viver: não sou uma máquina que produz. Arte para o “não fazer nada”, mas também para viver e tornar-se sábio.

As férias podem ser uma graça: um tempo “outro”, mas também uma pausa fecunda para viver, sentir, fazer de outra maneira. Sobretudo se alguém sabe lutar e resistir à pressa, à necessidade de sentir-se sempre ocupado, pode encontrar momentos para se colocar as grandes perguntas, essas que nascem do silêncio e da solidão.

Não são perguntas estranhas a nós próprios, mas perguntas que nos habitam em profundidade, e todavia impedidas de brotar no nosso quotidiano tão comprometido e repleto de relações: “Que significa a minha vida? E a minha morte que está diante de mim, o que é para mim? E os outros que amo e que me amam, como posso continuar a torná-los presença viva e relação fecunda ao longo do passar dos dias?».

Certamente seria extraordinário ter alguém ao lado, um amigo, uma amiga, um confidente com quem falar, nas férias, livremente, num confronto, num intercâmbio que seria muito mais do que uma informação e uma consolação.

 Enzo Bianchi (adaptado)

 

MEDITAR

 

Deus, curador do desamor que nunca desiste de te tornar no melhor daquilo que podes ser

Jesus acabou de realizar o “sinal” a que dá maior solicitude, o pão compartilhado, e que ao mesmo tempo é o mais mal entendido, o menos compreendido. As pessoas vão à procura dele, encontram-no e querem apoderar-se dele como garantia contra toda a fome futura (cf. João 6, 24-35). Mas o Evangelho de Jesus não fornece pão, antes fermento manso e poderoso no coração da História, para a fazer fluir rumo ao Alto, rumo à vida indestrutível.

Diante deles, Jesus anuncia a sua pretensão, absoluta: como Eu saciei num dia a vossa fome, assim posso preencher as profundidades da vossa vida. E eles não querem segui-lo. Como eles, também eu, que sou criatura de terra, prefiro o pão, faz-me viver, sinto-o na boca, saboreio-o, engulo-o, é concreto e imediato. Deus e a eternidade são ideias fugazes, vagas, pouco mais que um fumo de palavras. E não os julgo, a esses de Cafarnaum, não me sinto superior: há tanta fome na Terra que, para muitos, Deus só pode ter a forma de um pão.

Começa então uma incompreensão de fundo, um diálogo em dois planos diferentes: qual é a obra de Deus? E Jesus responde, desenhando diante deles o rosto amigo de Deus: como em tempos vos deu o maná, também hoje Deus dá. Duas palavras simplicíssimas, e todavia chaves da revelação bíblica: alimentar a vida é a obra de Deus. Deus não pede, Deus dá. Não pretende, oferece. Não exige nada, dá tudo.

Mas que coisa, especificamente, dá o Deus de Jesus? Nada entre as coisas ou os bens de consumo: «Ele não pode dar menos que si mesmo. Mas dando-nos a si mesmo, dá-nos tudo» (Catarina de Sena). Estamos diante de um dos cumes do Evangelho, de um dos nomes mais belos do Senhor: Ele é, na vida, dador de vida. O dom de Deus é Deus que se dá. Um dos nomes mais belos de Jesus: «Eu sou o pão da vida».

Das suas mãos a vida flui, ilimitada e imparável. Pedro confirmá-lo-á um pouco mais à frente: «Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras que fazem viver a vida». Que dão ao espírito, mente, coração, aos olhos e às mãos. A obra de Deus é uma quente corrente de amor que entra e faz florescer as raízes de cada ser humano. Para que se torne, como Ele, na vida dador de vida. Esta é a obra de Deus, acreditar naquele que Ele enviou.

No coração da fé está a tenaz e dulcíssima confiança de que a obra de Deus é Jesus: rosto alto e luminoso do humano, livre como ninguém, curador do desamor, que vai no teu encalço para que te tornes no melhor daquilo que podes ser. Nele não há qualquer aspeto ameaçador, mas somente as duas asas abertas de uma galinha que protege e guarda os seus pintainhos (cf. Lucas 13, 34), e os faz crescer com ternura combativa, contra tudo aquilo que faz mal à vida.

Ermes Ronchi

 

Amar alguém é ver nele o que só ele tem

Nem eu sou o mais importante do mundo, nem todos somos iguais. Partindo destes princípios, é importante que eu seja capaz de me expulsar do centro do mundo e de estar mais atento à forma como cada um dos que estão perto de mim pensam e sentem.

Conhecer a forma como alguém pensa e sente é fundamental para a compreender, e isto é, talvez, ainda mais importante do que nos conhecermos a nós mesmos. Aliás, parte de um princípio que nos obriga a ser mais verdadeiros: a humildade de não pensarmos apenas em nós, como se fossemos a única pessoa valiosa no mundo.

O valor de alguém depende da sua capacidade de ser dom na vida dos outros. Ora, ninguém pode amar alguém, ou sequer ajudar, se não souber quem ele é.

Cometemos grandes erros sempre que julgamos e agimos com grandes certezas a respeito dos outros, sem que os tenhamos consultado antes ou feito um esforço para nos colocarmos no seu lugar.

Se não somos capazes de pensar e sentir a vida a partir do seu ponto de vista, então é bom que assumamos pelo menos isso: que não sabemos.

Há sorrisos lindos que escondem dores profundas, há pessoas com histórias muito duras, tão amargas que se esforçam para as esquecer, ou, pelo menos, para que não lhes estejam sempre a doer. Vistas de fora, estas pessoas têm vidas aparentes que muitos desejam.

O céu começa em mim, mas a porta é aberta no coração do outro. Só quando sou bom para o outro é que sou bom para mim, e não funciona ao contrário.

Sou céu quando o sou para outro. Compreendendo-o como alguém irrepetível, com uma história, sonhos, formas de pensar e sentir profundas e únicas.

Amar alguém é ver nele o que só ele tem.

Há pessoas que apenas se conhecem a si mesmas, julgam que são tudo o que há no mundo, os outros são apenas meros figurantes numa peça que é afinal um monólogo. Condenaram-se à prisão invisível que é o egoísmo. Se apenas são úteis a si mesmas, não fazem diferença no mundo.

José Luís Nunes Martins

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

FALTA DE AMOR

O maior perigo que ronda o ser humano consiste na falta de amor e nas consequências que esta falta acarreta. Quem não se sente amado rejeita-se a si mesmo, condena-se, torna-se duro, frio e vazio, é incapaz de amar a si mesmo e aos outros. Torna-se necessário, então, um amor que não se poupa, que não recua nem mesmo diante da própria morte para curar-nos da ferida mortal da falta de amor.

Anselm Grün


 

INFORMAÇÕES

CLÍNICA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DA CALHETA

A Direção da Associação de Bombeiros Voluntários da Calheta informa que estará na Clínica da Instituição a ; Dr.ª Renata Gomes, Cardiologista, início de agosto; Dr. Brasil Toste, Otorrinolaringologista, 6 de março; Dr.ª Lourdes Sousa, Dermatologista, dia 31 de agosto e 2 de setembro; Dr.ª Paula Pires, Neurologista e neuropediatra, em dezembro;  Elisabel Barcelos, Psicóloga Clinica e Formadora, nas áreas de avaliação Psicológica de Condutores (Testes psicotécnicos), Avaliação Psicológica, acompanhamento Psicológico e formação em temas ligados à Saúde Mental e /ou Psicologia, às quartas-feiras; Paula Ribeirinho, Terapeuta da Fala às segundas-feiras.

Os interessados podem fazer as suas marcações para os números 295460111 ou por email: abvc.geral@gmail.com.


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Não se caminha quando não se acredita.
Não se estende a mão quando não se ama.
Não se muda quando nada se espera.

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