Nº 952
Passear com Deus
Passear com Deus. Talvez seja isto que nos falte. Torná-Lo mais próximo e deste jeito perceber que Ele efetivamente está. Deixar que Ele nos mostre e nos fale de como tudo é Seu e vem de Si.
Permitir até que Ele se torne no nosso guia turístico. Mostrando por onde tem deixado as suas pisadas e deixando o registo das suas coordenadas. Mostrar-nos quais os cantos favoritos dentro do mapa da nossa vida. Passear com Deus ajuda-nos a entender as partidas como as nossas eternas chegadas.
Tornar a nossa fé num passeio com Deus é descobrirmos que Ele nos leva de mão dada para que nos possamos encontrar, para que possamos encontrar tantos e tantas. Quando deixamos que Deus nos leve damos de caras com o Seu Reino como se tivesse sido costurado em todo o nosso caminhar.
Aceitar Deus como nosso companheiro de viagem é reconhecer que Ele não nos visita apenas em dias de grande regozijo, mas que nos fala da Sua certeza em dias em que o silêncio nos confirma toda a Sua ação. Deus é este nosso fiel companheiro de viagem capaz de se humedecer com a nossa história. Deus é este nosso amável companheiro de viagem que não quer que cheguemos sozinhos a lado nenhum.
Passear com Deus não é esperar que O vejamos na Sua plenitude. Passear com Deus é deixar que Ele entre em toda a nossa existência dando-nos a sabedoria de encontrar beleza em tudo o que somos, fazemos e vemos.
Passear com Deus será, sem dúvida alguma, uma outra forma de rezarmos e de deixarmos que Ele reze em nós. Há por aí tantos lugares e pessoas que estão à espera que lhes visitemos com o coração e que lhes entreguemos, em cada olhar nosso, a visita d’Aquele em que o Seu maior poder está em amar incondicionalmente tudo…e todos!
MEDITAR
Pão de Deus dado e doado
Evangelho do pão que transborda das mãos, dos cestos (Mateus 14,13-21). Sinal a proteger com particular cuidado, narrado por seis vezes pelos Evangelhos, repleto de promessas e profecia.
Jesus viu a grande multidão, sentiu compaixão dela e curou os seus doentes. Três verbos reveladores (ver, sentir, curar) que abrem janelas para os sentimentos de Jesus, para o seu mundo interior.
Viu uma grande multidão, o seu olhar não desliza sobre as pessoas, mas pousa-se sobre no singular, vê-as uma a uma. Para Ele, olhar e amar são a mesma coisa. E a primeira coisa que erguer-se de toda aquela gente e que o toca no coração é o seu sofrimento: e sente compaixão por eles.
Jesus experimenta a dor pela dor do ser humano, é ferido pelas feridas de quem tem à sua frente, e é isto que lhe faz mudar os programas: queria ir para um lugar deserto, mas agora o que dita a agenda é a dor do ser humano, e Jesus mergulha no tumulto da multidão, sorvido pelo vórtice da vida dolorosa.
Primeiro vem a dor. O mais importante é quem padece: na carne, no espírito, no coração. E da compaixão florescem milagres: cura os seus doentes. O nosso maior tesouro é um Deus apaixonado que padece por nós.
O lugar é deserto, já é tarde, esta gente tem de comer… Os discípulos, na escola de Jesus, tornaram-se sensíveis e atentos, têm as pessoas no coração. Jesus, no entanto, faz mais: mostra a imagem materna de Deus que recolhe, nutre e alimenta cada vida, e insta os seus: vós mesmos, dai-lhes…
As emoções devem tornar-se comportamentos, os sentimentos amadurecer em gestos. Dar de comer: «A religião não existe só para preparar as almas para o céu: sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta Terra» (“Evangelii gaudium”, 182). Dai-nos o pão, invocamos nós, dai-lhes, insiste Ele. Uma religião que não se ocupa também da fome é estéril como o pó.
O milagre do pão é narrado como uma questão de mãos. Um multiplicar-se de mãos, mais que de pão. Que passa de mão em mão: dos discípulos a Jesus, dele aos discípulos, dos discípulos à multidão.
Então, abre as tuas mãos. Qualquer que seja o pão que podes dar, não o retenhas, abre a mão fechada. Imita o rebento que se entreabre, a semente que se fende, a nuvem que derrama o seu conteúdo.
Que direito têm os cinquenta mil de receber pão e peixe? O seu único título é a fome. E o pão de Deus, o das nossas Eucaristias, não o empoeiremos nunca na alternativa mesquinha entre pão merecido ou pão proibido: é o pão doado, com o arrebatamento da divina compaixão.
Pão feliz e imerecido, para os cinquenta mil naquele entardecer na margem do lago, para todos nós na margem de cada uma das nossas noites.
Ermes Ronchi
O Cristão e o Monge Budista
Certo Cristão, um dia, visitou
um bom Monge Budista e disse-lhe:
«Permita-me que eu lhe leia
algumas passagens do Evangelho,
o Sermão da Montanha, por exemplo».
«Ouvirei com prazer», respondeu o Monge.
E depois de ter lido várias linhas
o Cristão para um pouco e o Monge diz,
sorrindo: «Quem disse tais palavras
era, de facto, um grande iluminado!».
Alegrou-se o Cristão e continuou...
Mais uma vez o Monge interrompeu:
«Quem tais palavras disse é, na verdade,
digno de ser chamado o Salvador
de toda a humanidade».
Empolgou-se o Cristão ainda mais
e levou a leitura até ao fim.
E outra vez o Budista comentou:
«Quem disse essas palavras deve ser
um homem que irradia Divindade!».
O Cristão transbordava de alegria
e voltou para casa decidido
a convencer o bom Budista
a tornar-se também um bom Cristão.
No caminho para casa, encontrou Jesus e disse-Lhe com esfuziante entusiasmo: «Mestre, eu consegui que aquele homem confessasse e admitisse a Vossa Divindade!».
Jesus sorriu e disse: «E qual foi a utilidade disso para ti, para além de inchar o teu ego cristão?».
Anthony de Mello, in O canto do pássaro
SABOREAR A VIDA
“Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear internamente todas as coisas”. A frase é de Santo Inácio de Loiola e, sendo tão sábia quanto versátil, permite que façamos uma série de variações. Podemos afirmar, por exemplo, “não é o muito fazer...”, “não é o muito falar...”, “não é o muito comprar...”, “não é o muito aparecer...”; e até podemos retirar o verbo e dizer simplesmente “não é o ‘muito’ que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear internamente todas as coisas”. O que quer que façamos, não é o ‘que’ fazemos que interessa; é o ‘como’ fazemos, o ‘como’ saboreamos.
João Delicado - Ver para além do olhar
PENSAMENTO DA SEMANA
"Há problemas tão graves, situações pessoais tão dolorosas e complexas, que Cristo disse: "Intervir aí só com muita oração!" Que quer isso dizer? Que vamos pedir milagres? Não.
Quer dizer que há coisas a que só se chega quando se veem como Deus as vê e que só se curam com o amor com que Deus ama."
Vasco Pinto de Magalhães, s.j
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Nº 1170Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
“ENSINAR É AMAR”
"Ser professor é dar-se (...) Tens muito que fazer? – Não; tenho muito que amar. Não entendo ser professor de outra maneira. (...)
Para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita. O aluno acredita em nós e não deve acreditar em vão. Impõe-se-nos que mereçamos, com a nossa, a pureza dos nossos alunos; que a nossa alimente a deles, a mantenha. (...)
Sejamos a lição em pessoa – que é isso mais importante e mais eficaz que sermos o papel onde a lição está escrita; e possamos dizer sem constrangimento: Deixai-as vir a mim, as criancinhas…”
Sebastião da Gama, in Diário
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