Nº 847

 AOS QUE ESCOLHEM NÃO FICAR!

 

Há qualquer coisa dentro de nós que se assemelha a um porto. Um desses cais que abrem braços para acolher os barcos que os outros são.

 

Há, em nós, um desejo que rima com maré cheia e que nos faz querer guardar e amar todos os que decidam aproximar-se das nossas águas.

 

No entanto, há barcos que estão destinados a uma viagem de ida e volta e, como tal, não foram feitos para ficar (connosco).

 

Há, na minha opinião, um grande mistério em torno dos que nos deixam. Dos que escolhem deixar de fazer parte. Nunca sabemos, ao certo, se somos nós (com os nossos traços e manias) que afastamos os que se afastam ou se a escolha é inteiramente deles. Sei que gostamos de pensar que nada tivemos que ver com isso. Umas vezes não tivemos. Outras, a culpa foi toda nossa. Sei, ainda, que no cais daquilo que somos há lugares vazios e contornos dos que, um dia, julgámos nossos.

 

Os que escolhem não ficar fazem-no, em primeiro lugar, porque são livres. E a liberdade é razão suficiente para (quase) tudo. Até para o abandono voluntário. Depois, fazem-nos porque cresceram, porque começaram a olhar para o mundo de uma outra forma. Fazem-no porque não gostam do que lhes devolvemos como pessoas ou com a nossa forma de estar e ser. Fazem-no por cobardia. Por não conseguirem segurar-nos as mãos e dizer-nos:

 

Magoaste-me terrivelmente. E agora, que havemos de fazer com isto?!

 

Fazem-no porque querem. Sem ter razão alguma. Fazem-no porque conhecem alguém que lhes enche (mais) as medidas e aquilo que não se pode medir.

 

A verdade é que o fazem e nós, depois, não sabemos o que fazer com isso. Como é que se recupera a presença de alguém que não volta? De alguém que preferiu continuar a viver sem nós?

 

Não se recupera. Respira-se fundo, apenas. Respira-se fundo uma e outra vez até deixar de doer. A dor (tal como tudo o resto) também passa. Ainda assim, não esqueças quem passou por ti.

Marta Arrais

 

V DOMINGO DE PÁSCOA

Permanecer em Jesus

Naquela manhã, convidei os alunos a rezar com os olhos fechados. Pareceu-me que gostaram da experiência. Ao tentar explicar que assim, sem distrações dos olhos, rezávamos com mais atenção, perguntei:

– Quem quer dizer, porque é que fechámos os olhos durante a oração?

Prontamente alguém respondeu:

– É que assim Jesus permanece cá dentro e não sai pelos nossos olhos.

Eu fiquei a pensar nas palavras de Jesus: Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Cada distração é uma espécie de porta por onde Deus se nos escapa. Rezar é assim permanecer em Deus, unidos como ramos à cepa. E Jesus conclui: Se permanecerdes em mim, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido.

Mas quem tem dificuldade em permanecer em quem? Deus em nós ou nós em Deus? É fácil ter um ato heroico, ter um momento de compreensão, aceitar um sacrifício, engolir uma palavra amarga. O difícil é permanecer nestas atitudes, manter-se assim durante muito tempo. Permanecer é ser fiel. O nosso dia a dia, as preocupações quotidianas e a nossa rotina são muitas vezes distrações que fazem Deus não permanecer em nós porque nós nos esquecemos d’Ele. Quem ama, permanece sem ser rotineiro mas sempre criativo.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

 

MEDITAR

 

A oração da sede

 

Ensina-me, Senhor, a rezar a minha sede
a pedir-Te não que a arranques de mim ou a resolvas depressa

 

mas a amplies ainda
naquela medida que desconheço
e que apenas sei que é a Tua!

 

Ensina-me, Senhor, a beber da própria sede de Ti
como quem se alimenta mesmo às escuras
da frescura da nascente

 

Que a sede me torne mil vezes mendigo
me ponha enamorado e faça de mim peregrino
Que ela me obrigue a preferir a estrada à estalagem
e o aberto da confiança ao programado do cálculo

 

Que esta sede se torne o mapa e a viagem
a palavra acesa e o gesto que prepara
a mesa onde partilhamos o dom

 

E quando der de beber aos teus filhos seja
não porque tenha a posse da água
mas porque partilho com eles o que é a sede

José Tolentino Mendonça, em Elogio da sede

 

CONTO (648)

 

O TESOURO

“Contaram-lhes que o povo daquele país tivera um dia um imenso e belo tesouro e que alguém lho roubara. E que era um tesouro tão grande e tão valioso que, sem ele, não podiam ser felizes.
- Um tesouro?, perguntavam os visitantes muito surpreendidos.
- Sim, um tesouro… A liberdade.
- A liberdade? Um tesouro?”

Os visitantes não queriam acreditar porque, nas suas terras, a liberdade era uma coisa comum, quase sem importância. Toda a gente era livre de fazer o que quisesse desde que não fizesse mal a ninguém, e isso era tão normal que as pessoas nem davam pela liberdade. Eram livres do mesmo modo como respiravam e ninguém dá conta de que respira, respira e pronto.

- Sim, a liberdade é como ar que respiramos, diziam-lhe os seus novos amigos tristemente. Só quando nos falta, e sufocamos cheios de aflição, é que descobrimos que, sem ele, não podemos viver... 
- E como pode alguém viver sem liberdade? Como é possível?"

Manuel António Pina em, "O tesouro"

 Amar alguém é lê-lo. 


É saber ler todas as frases que estão dentro do coração do outro e, ao lê-las, libertá-lo.

É desdobrar o seu coração como um pergaminho e lê-lo em voz alta, como se cada um fosse para si mesmo um livro escrito numa língua estrangeira...

O que pode acontecer de mais terrível entre duas pessoas que se amam é uma delas pensar que já leu tudo sobre o outro e afastar-se.

Christian Bobin


 INFORMAÇÕES

D. José Bettencourt visitou cinco das nove ilhas açorianas

O novo núncio apostólico da Santa Sé, que servirá a diplomacia vaticana na Arménia e na Geórgia a partir do final de maio, terminou a sua visita aos Açores simbolicamente no santuário do Senhor Santo Cristo da Caldeira, em São Jorge, onde presidiu a uma eucaristia.

Depois de visitar cinco das nove ilhas do arquipélago e de ter sido recebido em todas elas pelos mais altos dignatários da igreja e da sociedade civil, desde logo pelos presidentes da Assembleia Legislativa dos Açores e Governo Regional dos Açores, representante da Republica e presidentes de câmara dos Municípios visitados, que o distinguiram com as mais significativas condecorações municipais, D. José Bettencourt terminou a visita na sua ilha natal cumprindo uma tradição que faz sempre que visita a ilha, desde criança: descer em peregrinação até à Caldeira do Santo Cristo para ir ao Santuário do Senhor Santo Cristo da Caldeira, um dos cinco santuário diocesanos do arquipélago.

Desta feita presidiu a uma missa em ação de graças pela sua recente nomeação e pelo carinho com que foi acolhido durante esta jornada açoriana.

A descida foi acompanhada pelo Pe. Dinis Silveira, amigo de longa data e pároco no Topo, em São Jorge, pelo seminarista Tadeu Timótio e pelo pré-seminarista Marco Jesus.

Durante a visita a São Jorge, ilha a que regressa praticamente todos os anos de férias, no verão, o prelado presidiu às festas de São Jorge e a vários impérios do Espirito Santo, uma marca da açorianidade de que D. José se considera herdeiro. Na bula da sua nomeação há uma referência explicita à sua origem açoriana.

D. José Avelino Bettencourt nasceu nos Açores, nas Velas de São Jorge e com três anos de idade partiu com a família para o Canadá mas nunca perdeu o contacto com a sua terra natal onde, de resto, ainda tem uma casa de família que frequenta anualmente por ocasião das férias de verão.

O novo arcebispo de Cittanova frequentou a Academia Eclesiástica em Roma, tendo-se formado em Direito Canónico, e entrou no serviço diplomático da Santa Sé em 1999.

Depois de ter trabalhado na representação diplomática da Santa Sé na República Democrática do Congo, D. José Bettencourt passou à secção para as relações com os Estados, do Vaticano.

Em 2013, D. José Bettencourt foi condecorado pelo presidente Aníbal Cavaco Silva com a Comenda da Ordem Militar de Cristo; é cónego honorário da Sé de Angra (Açores) desde março de 2015.

Igreja Açores 


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