Nº 835

Viver a Fé em Igreja Doméstica

Todos nascemos numa família e todos somos profundamente influenciados pela vivência em família. Não há famílias ideais nem um único modelo de família. Há um sem-número de situações familiares diferentes mas, olhando a espantosa diversidade existente no mundo, acreditamos que Deus ama a diferença e que todos os seres humanos têm lugar no Seu projeto criador.

Igreja é a reunião de todos aqueles que acreditam em Deus e querem viver a mensagem de Jesus. Todas as famílias podem ser Igreja Doméstica.

Teria ainda de incluir todos aqueles com quem, embora não havendo laços de sangue, vamos “fazendo família” ao longo da vida, pela amizade. Com eles, partilhamos alegrias e tristezas, sabendo que estão sempre presentes e que fazem parte do nosso caminho.

É na família que se vivem, talvez, as maiores alegrias e os mais profundos sofrimentos. Tecem-se laços, cumplicidades, mas existem ruturas, abandonos e quebras de promessas. É-se cuidado e aprende-se a cuidar. Ouvimos e somos ouvidos. Descobrem-se diferenças por vezes dolorosas e difíceis de superar. Surgem conflitos e rivalidades. Mas é igualmente terreno propício ao perdão e ao recomeço. As doenças, perdas, morte causam grande sofrimento. Conhece-se a solidão. Celebrar e comemorar datas significativas faz experimentar a comunhão e torna presentes os ausentes, mantendo vivo o sentido da cadeia em que estamos inseridos, com todos os que já viveram antes de nós até aos que ainda virão muito depois de partirmos.

O psicanalista Donald Meltzer sintetizou as funções que a família deve desempenhar: gerar o amor, promover a esperança, conter o sofrimento e ensinar a pensar. Para as famílias que procuram viver segundo o espírito de Jesus, penso que estas funções remetem para a Boa Nova que Ele nos trouxe:

Proclamou que Deus é Amor e deu-nos como mandamento que nos amemos uns aos outros.

Fez brotar a esperança junto daqueles que padeciam no corpo e no espírito e, ao ressuscitar, venceu a morte para sempre.

Ensinou-nos a pensar no que realmente importa. Lutou contra todas as formas de sofrimento e apontou o caminho da verdadeira liberdade.

Como diz Emília Leitão: «Jesus tinha a capacidade de dialogar com as pessoas. Não disse a Zaqueu que estava tudo bem… dialogou com ele, fez perguntas… a partir do que era a sua vida, levou-o a mudar».

Mas a Igreja Doméstica não pode ficar fechada sobre si mesma. Jesus remete sempre para mais. Desinstala-nos. Convoca-nos. Convida-nos e conduz-nos à hospitalidade, a abrir portas e janelas do coração e da casa. Precisamos dos outros, os outros precisam de nós. Ter o coração alargado.

Lucy Wainewright (Adaptado)

 

V DOMINGO DO TEMPO COMUM

Alargar horizontes

– Senhor padre, eu já estou mais crescido.

– É verdade. E com certeza ainda vás crescer mais. Mas porque é que queres ser grande?

– É para poder ver mais longe.

Surpreendeu-me esta resposta. Eu pensava que era para se sentir importante, para fazer o mesmo que os adultos ou outras coisas do género. Para aquela criança, ser grande é olhar mais longe, é alargar horizontes.

É esta a mensagem do Evangelho deste V Domingo: Jesus subiu ao monte para orar. Na tradição bíblica o monte é lugar e símbolo do encontro de céu e terra, da ascensão humana e da teofania, de vastos horizontes.

Quem reza vê mais além, alarga os seus horizontes, faz uma escalada, ultrapassa-se, une a terra ao céu. Há muitas maneiras de rezar: Jesus rezava na sinagoga, no convívio com os amigos, fazendo o bem, anunciando o amor e a sós com o Pai.

Também nós rezamos assim, cada um segundo a sua circunstância. Uns rezam por dentro, com o espírito elevado. Outros por fora, de uma maneira prática, em movimento cristão, em ação eficaz sobre a terra. Não importa a forma, mas sim chegar a Deus. Não importa como foi o esforço para construir a ponte, o que importa é poder passar e chegar mais longe.

Pe. José David Quintal Vieira, scj

 

MEDITAR

OS ESPINHOS À VOLTA DO BEM...

Ser capaz de arrancar a alguém um espinho que traz espetado no corpo, ao qual possa até já ter-se resignado, é algo de libertador, quase divino.

Todos temos espinhos cravados na carne que ninguém conhece e poucos imaginam. E são esses espinhos, os invisíveis, aqueles que doem mais fundo. Eles revelam a nossa enorme fragilidade, mas também a nossa força para seguir adiante, apesar de a sua presença nos doer em cada dia, a cada passo. Por vezes, estes ferrões escondidos, tornam-nos mais difíceis, intolerantes e duros para com os outros…

Ser capaz de arrancar a alguém um espinho que traz espetado no corpo, ao qual possa até já ter-se resignado, é algo de libertador, quase divino. É grande a luz de quem compreende que, para lá dos seus espinhos, há muitos outros, maiores e mais afiados, cravados noutras pessoas, talvez mais fracas e inocentes.

É certo que os espinhos fazem parte da vida. São mentira todos os sonhos com que nos iludimos ao ponto de imaginarmos que, chegando a um determinado ponto neste mundo, os espinhos deixarão de existir.

Os espinhos da vida podem servir para nos lembrarmos de quanto são valiosas as coisas boas. A vida é ampla e muito rica em bondade e maldades.

Por cada um de nós que conquista algo de sublime, haverá muitas pessoas boas que ficaram pelo caminho. Não por serem más, mas porque ao céu se chega por caminhos duros.

Haverá sempre espaço entre os espinhos. Quem quer crescer aí, mais tarde ou mais cedo tem de passar por eles, para ir florir mais além.

Os espinhos são passageiros, ainda que o seu tormento dure uma vida inteira.

Quase todos queremos alcançar o céu, mas quantos de nós estarão dispostos a ir por onde se deve ir para lá chegar?

O amor, a verdade e a vida estão envoltos em espinhos, que coroam as vidas de quem se dá.

 José Luís Nunes Martins

 

CONTO (638)

 

Amor sem ilusão

Um jovem caminhava pelas montanhas nevadas da velha Índia, absorvido em profundos pensamentos sobre o amor, sem poder solucionar as suas ansiedades.

Ao longo do caminho, à sua frente, percebeu que vinha na sua direção um velho sábio. E, como não encontrava resposta para os seus pensamentos, resolveu pedir ao sábio que o ajudasse.

Aproximou-se dele e perguntou-lhe:

- Senhor, desejo encontrar a minha amada e construir com ela uma família com bases no verdadeiro amor. No entanto, sempre que me vem à mente uma jovem bela e graciosa e eu a olho com atenção, nos meus pensamentos ela vai-se transformando rapidamente. Os seus cabelos tornam-se alvos como a neve, a sua pele rósea e firme fica pálida e enche-se de profundas rugas. O seu olhar vivo perde o brilho e parece perder-se no infinito. O sua corpo modifica-se acentuadamente e eu fico cheio de medo.

- Desejo saber, meu sábio, como é que o amor poderá ser eterno, como dizem os poetas?

Nesse mesmo instante aproxima-se de ambos uma jovem envolta em luto, trazendo no rosto expressões de profunda dor. Dirige-se ao sábio e diz-lhe com voz triste:

- Acabo de enterrar o meu pai que morreu antes de fazer 50 anos. Sofro porque nunca poderei ver a sua cabeça branca aureolada de conhecimentos. Seu rosto marcado pelas rugas da experiência, nem o seu olhar amadurecido pelas lições da vida. Sofro porque não poderei  ouvir mais as suas histórias sábias nem contemplar o seu sorriso de ternura. Não verei as suas mãos enrugadas a pegar as minhas com profundo afeto.

Nesse momento o sábio dirigiu-se ao jovem e disse-lhe serenamente:

- Percebes agora as mudanças do amor sem ilusões? O amor verdadeiro é eterno porque não se apega ao corpo físico, mas afeiçoa-se ao ser imortal que o habita temporariamente. É nesses sentimentos sem ilusões nem fantasias que reside o verdadeiro e eterno amor.

A lição do velho sábio é de grande valia para todos nós que buscamos as belezas da forma física sem observar as grandezas da alma imortal. O sentimento que valoriza somente as aparências exteriores não é amor, é paixão ilusória. O amor verdadeiro observa, além da roupagem física que se desgasta e morre, a alma que se aperfeiçoa e a deixa quando chega a hora, para continuar a viver e a amar, tanto quanto o permita o seu coração imortal

 

Depois das férias, um aluno veio dizer-me, cheio de orgulho:

A felicidade é reencontrarmos em nós a capacidade para amar, porque tudo o que fazemos sem amor é tempo perdido, é feito em má hora, é uma infelicidade... Enquanto tudo o que fazemos com amor é a eternidade reencontrada, a boa hora reencontrada; desse modo, a felicidade  é-nos dada por acréscimo.

 

Jean-Yves Leloup


INFORMAÇÕES

ADORAÇÃO DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Biscoitos - terça-feira, 6 de fevereiro, das 17h00 às 18h00, seguindo-se a celebrarão da Eucaristia.

Manadas - quinta-feira, 8 de fevereiro, das 16 às 17 horas, seguindo-se a celebração da Eucaristia.

Ribeira Seca - sexta-feira, 9 de fevereiro, das 17 às 18 horas, seguindo-se a celebração da Eucaristia.

 

FESTAS DA CATEQUESE

Festa do Pai Nosso - domingo, 11 de fevereiro, na comunidade de Santa Bárbara das  Manadas.


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Agenda Pastoral

Destaque

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Nº 1148

Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

A alegria e a surpresa andam de mãos dadas.

Isso revela-se sempre que conseguimos reagir com criatividade

às coisas inesperadas que fazem mudar

os nossos planos e, mesmo assim,

sentimos que tudo continua bem.


Por vezes, a alegria surpreende-nos.
Apanha-nos totalmente desprevenidos.
O importante é deixarmos que ela tome
conta de nós e continuarmos recetivos
à surpresa divina.

Anselm Grün, in Em cada dia... um caminho para a felicidade

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