Nº 628
Li e gostei do texto que se segue da autoria de Rui Santiago e achei muito apropriado para os dias de: amigos (as) e namorados que estamos a passar.
DESABITUA-TE!
Desta janela em que escrevo, vejo os comboios a passar lá em baixo, não muito longe de mim. Mas daqui quase não os escuto. No entanto, há casas que estão mesmo coladas à linha férrea. Antes, admirava-me como conseguiriam essas pessoas dormir. Agora já não. Porque falei com algumas e revelaram-me o segredo: “Nos primeiros dias ninguém pára, mas depois a gente habitua-se, já nem se dá conta”, disseram-me elas.
Eis a maravilhosa capacidade de nos habituarmos.
Mas depois, pus-me cá a pensar na nossa vida, e prefiro chamar-lhe assim: eis a perigosa capacidade de nos habituarmos. Porque o barulho dos comboios é como tudo: quando nos conseguimos habituar, deixamos de dar conta.
E vejo que nos costumamos habituar a coisas demais…
O hábito faz-nos perder a atenção dos acontecimentos, rouba-nos o gozo das novidades, e o sabor irrepetível dos dias; impede-nos de crescer.
As pessoas habituam-se a viver juntas, e deixam de prestar atenção umas às outras.
Um casal habitua-se ao casamento, e perdem o gozo do namoro. Esquecem a necessidade de se seduzir todos os dias. Habituam-se! E esquecem-se que têm que se pedir um ao outro de novo em casamento, em cada manhã.
Deixamos cair até a nossa Fé na rotina do hábito, e tudo se vai tornando estéril. Vamos cumprindo rituais, aos quais chamamos obrigações e deveres. Vamo-nos habituando a cumpri-los, mas sem percebermos verdadeiramente para que servem.
Habituamo-nos a ser o que somos, e deixamos de sonhar em ser mais.
Habituamo-nos a um ritmo quotidiano a que chamamos vida, e deixamo-nos engolir por ele.
Habituamo-nos às correrias,
habituamo-nos às inutilidades sempre tão urgentes,
habituamo-nos a andar tristes.
E depois… depois ainda somos capazes de dizer, com o rosto triste e um encolher de ombros desolado: “É a vida! Temos que nos habituar!”
Não, não, amigo!
Para ser verdadeiramente Vida, tens é que te desabituar!
A liturgia de hoje garante-nos que Deus tem um projeto de salvação para que o homem possa chegar à vida plena e propõe-nos uma reflexão sobre a atitude que devemos assumir diante desse projeto.
Na segunda leitura, Paulo apresenta o projeto salvador de Deus (aquilo que ele chama “sabedoria de Deus” ou “o mistério”). É um projeto que Deus preparou desde sempre “para aqueles que o amam”, que esteve oculto aos olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou com a sua pessoa, as suas palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na cruz (pois aí, no dom total da vida, revelou-se aos homens a medida do amor de Deus e mostrou-se ao homem o caminho que leva à realização plena).
A primeira leitura recorda, no entanto, que o homem é livre de escolher entre a proposta de Deus (que conduz à vida e à felicidade) e a autossuficiência do próprio homem (que conduz, quase sempre, à morte e à desgraça). Para ajudar o homem que escolhe a vida, Deus propõe “mandamentos”: são os “sinais” com que Deus delimita o caminho que conduz à salvação.
O Evangelho completa a reflexão, propondo a atitude de base com que o homem deve abordar esse caminho balizado pelos “mandamentos”: não se trata apenas de cumprir regras externas, no respeito estrito pela letra da lei; mas trata-se de assumir uma verdadeira atitude interior de adesão a Deus e às suas propostas, que tenha, depois, correspondência em todos os passos da vida.
Dehonianos
MEDITAR
ENTRA PELA PORTA DO MEU CORAÇÃO
Mestre e Senhor,
não mereço que Tu entres
sob o teto da minha alma,
mas já que, como amigo dos Homens,
queres vir morar em mim,
eu me aproximo de Ti com audácia.
Tu mandas que eu abra as portas
que só Tu criaste,
para entrar com Teu constante amor.
Tu entrarás
e iluminarás meu pensamento enlameado:
eu creio, porque Tu
não repeliste os que vinham a Ti
nem rejeitaste o publicano penitente.
mas todos os que, convertidos, se aproximavam de Ti,
os incluíste no número dos Teus amigos,
Tu que és o único bendito,
em todo o tempo, agora e pelos séculos sem fim.
Amém!
João Crisóstomo
CONTO (488)
A CHAMA DA ALMA
Havia um sábio Rei que apesar de ser muito rico, tinha a fama de ser um grande doador, desapegado das suas riquezas.
De uma forma bastante estranha, quanto mais ele dava ao seu povo, auxiliando-o, mais os cofres do seu fabuloso palácio se enchiam.
Um dia, um súbdito que estava a passar por muitas dificuldades, procurou o rei. Ele queria descobrir qual era o segredo daquele poderoso e rico monarca.
O súbdito muito religioso não conseguia entender como é que o rei, que não estudava as sagradas escrituras, nem levava uma vida de penitência e renúncia, ao contrário, vivia rodeado de luxo e riquezas, e não se contaminava com tantas coisas materiais…
Afinal, ele, súbdito, tinha renunciado a todos os bens da terra, vivia a meditar e a estudar e, contudo, se reconhecia com muitas dificuldades na alma. Sentia-se em tormenta. E o Rei era virtuoso e amado por todos…
Ao chegar à frente do rei, perguntou-lhe qual era o segredo de viver daquela forma, e o rei respondeu-lhe:
- Acenda uma lamparina e passe por todas as dependências do palácio e descobrirás o meu segredo.
- Porém, há uma condição: se deixares que a chama da lamparina se apague, cairás morto no mesmo instante.
O súbdito pegou numa lamparina, acendeu-a e começou a visitar todas as salas do palácio. Duas horas depois voltou à presença do Rei, que lhe perguntou:
- Conseguiste ver todas as minhas riquezas do palácio?
O súbdito, que ainda estava a tremer da experiência porque temia perder a vida, se a chama se apagasse, respondeu:
- Majestade, eu não vi absolutamente nada. Estava tão preocupado em manter acesa a chama da lamparina que só fui passando pelas salas, e não notei nada.
Com o olhar cheio de misericórdia, o rei contou o seu segredo.
- Pois é assim que eu vivo. Tenho toda minha atenção voltada para manter acesa a chama da minha alma, que, embora tenha tantas riquezas, elas não me afetam.
- Tenho a consciência de que sou eu que preciso iluminar o meu mundo com minha presença e não o contrário.
Habituamo-nos a encher a boca de queixas e lamentos. E assim, deitamos fora a vontade de mudar e viver de novo cada dia que nos calha em sorte.
Amar é conjugar a vida.
Conjugar como um verbo: nos seus tantos tempos, nas suas tantas ações, nos seus tantos estilos, nas suas tantas condições.
Amar é conjugar a vida, e não amar é o presente do indicativo da morte.
Rui Santiago
INFORMAÇÕES
CLÍNICA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DA CALHETA
A Clínica de Especialidades Médicas da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Calheta, informa a vinda dos seguintes médicos:
Dr.ª Paula Pires, neurologista, nos dias 21 e 22 de fevereiro.
Dr.ª Maria Graça Almeida, ginecologista no dia 27 de fevereiro.
Dr.ª Lurdes Sousa, dermatologista, no dia 11 de março.
Contatos: 295460110 e 295416111
Dr. José Abreu Freire, imagiologia (ecografia e mamografia), no dia1 de março.
Dr.ª Alexandra Dias, Pediatra, nos dias 7 e 8 de março.
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Nº 1173Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
SEJA FEITA A TUA BONDADE!
"Jesus não ensinou o Pai Nosso aos discípulos como uma fórmula para estes repetirem de cor e de modo completo." (Calmeiro Matias)
Jesus não definiu a entoação certa ou o sotaque mais apropriado.
Cada um tem um dialeto feito de silêncios, de palavras, de cumplicidades.
Um dia, em Vila Nova de Gaia, o meu primo recebeu-me com um "bons olhos te beijam!" A resposta ao meu "Ãh?" não tardou: "És surda? Bons olhos te beijam!"
Soou-me a poesia. O sotaque tornou tudo mais bonito.
À semelhança do meu primo e do meu Pai, "aboli os vês" e digo:
Seja feita a tua bondade! A tua bondade, Pai! A tua bondade, Pai!
Quando Jesus partilhou com os discípulos o modo como conversava com o seu Pai, demorou-se a mostrar-lhes a confiança na bondade de Deus. Lucas fez chegar até nós a história do amigo que aparece fora d'horas e termina perguntando se um Pai poderá recusar o maior bem - a convivência e a intimidade do Espírito - aos seus filhos. (Lucas 11, 1-13)
"Este assunto da bondade de Deus é uma questão de sensatez. Ser sensato. Como pode existir Deus, se não for bom?" (José António Pagola)
Eneida Costa
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