Nº 1177

 A VIDA É UMA LUTA SEM FIM

Há cada vez mais distrações na nossa sociedade. É hoje mais difícil dedicarmo-nos ao que é essencial na nossa vida. A vida anda tão agitada que já quase ninguém consegue parar um pouco e focar-se no mais importante.

E o mais valioso não está em mim... está no outro, que está próximo, ali mesmo, diante de mim.

Se medito na minha vida, é possível que me perca por entre tantas possibilidades, tantos passados, uns mais verdadeiros que outros. E em tantos futuros, uns mais agradáveis do que outros. Mas quantas pessoas conseguiram escolher bem o seu destino e o seu caminho para lá chegar, só ao admirarem-se a si mesmas?

Precisamos de nos mudar a nós mesmos, em vez de esperar que o mundo se ajoelhe para nos ajudar. Temos de lutar sem procurar descanso para manter o nosso coração a salvo de tudo o que procura escravizá-lo, convencendo-o de que a paz e a felicidade que aspira são impossíveis.

O mal não nos quer matar; quer-nos submissos a fazer-lhe as vontades todas. Esquecidos do que somos e do que podemos ser. O mal quer-nos rendidos e é por isso que nos distrai ao ponto de, perdidos por entre tantos dos seus brilhos aparentes, fazer com que nos esqueçamos da luz.

Fortalece-te e guarda o teu coração como que num castelo. Mas não te deixes ficar aí. Vai ao encontro de outros corações desprotegidos e cuida deles.

Assegura-te de que não há nada por mais encantador ou temível que seja que desvie a tua atenção do caminho que tens de sonhar, construir e percorrer.

Terás de recomeçar vezes sem fim, e isso desgasta ainda mais do que os próprios combates, fazendo com que pareça que nenhum deles vale a pena e que, afinal, nada faz sentido. A vida é uma luta constante, não é a história de uma batalha difícil, única e definitiva, que se vence e com isso se alcança a grandeza para sempre. Não é assim.

O bem quer-nos vivos e a lutar pela vida, pela nossa e pela dos outros, sempre. Renovando a cada dia essa decisão de estarmos ao serviço do amor e com isso a caminho da nossa paz e da nossa felicidade, que devemos continuar a fazer por merecer. Todos. Juntos.

O nosso triunfo há de ser feito através de muitos fracassos e catástrofes. A nossa glória há de ser alcançada por termos conseguido manter a nossa fé, apesar de tudo.

José Luís Nunes Martins

 

 

MEDITAR

A única medida do amor é amar sem medida

Qual é, na Lei, o mandamento maior? Sabiam-no todos em Israel: o terceiro, aquele que prescreve santificar o sábado, porque também Deus o tinha observado.

À pergunta de um dos escribas (cf. Marcos 12, 28-34), a resposta de Jesus, como habitualmente, surpreende e vai além: não cita nenhuma das dez palavras, mas coloca no coração do Evangelho a mesma coisa que está no coração da vida: amarás. Um verbo no futuro, como uma viagem que nunca acaba… que é desejo, expetativa, profecia de felicidade para cada pessoa.

O percurso da fé inicia com um «és amado» e conclui-se com um «amarás». No meio germina a nossa resposta ao cortejar de Deus.

Amarás Deus com todo o teu coração e o teu próximo como a ti mesmo. Jesus não acrescenta nada de novo: a primeira e a segunda palavra já estavam escritas no Livro. A novidade está no facto de que as duas palavras fazem uma só, a primeira. Tê-las separado é a origem dos nossos males, dos fundamentalismos, de todas as arrogâncias, do triste individualismo.

Mas amar o quê? Amar o próprio Amor. Se amo Deus, amo o que Ele é: vida, compaixão, perdão, beleza; cada fragmento de pão, um ato de coragem, um abraço confortante, uma intuição iluminadora, um ângulo de harmonia. Amarei o que Ele mais ama: o ser humano, de quem se orgulha.

Mas amar como? Colocando-se inteiramente em jogo. Deixando ressoar e agir a força do adjetivo «todo», proferido quatro vezes. O todo do coração, mente, alma, força. Nós pensamos que a santidade consiste na moderação das paixões. Mas onde é que está essa moderação na Bíblia? A única medida do amor é amar sem medida.

Amarás com todo, com todo, com todo… Fazer assim é já cura do ser humano, reencontrar a unidade, a convergência de todas as faculdades, a nossa plenitude feliz: «Escuta, Israel. Estes são os mandamentos do Senhor (…) para que sejas feliz» (Deuteronómio 6, 1-3). Não há outra resposta ao desejo profundo de felicidade do ser humano, nenhuma outra resposta ao mal do mundo a não ser só e só esta: amarás Deus e o próximo.

Para narrar o amor pelo próximo, Jesus presenteia a parábola do bom samaritano (Lucas 10, 29-37). Para indicar como amar Deus com todo o coração, não escolhe nem uma parábola, nem uma imagem, mas uma mulher, Maria de Betânia, «que sentada aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra» (Lucas 10, 38).

Jesus viu que a maneira de escutar de Maria é a «melhor escolha», a mais capaz de descrever como se ama Deus: como uma amiga que se senta aos seus pés, sob a cúpula dourada da amizade, e escuta-O, fascinada, e não deixará cair uma só das suas palavras. Amar Deus é escutá-l’O, como crianças, como enamorados.

 Ermes Ronchi

 

Amar é preciso

O grande mandamento, «amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente», resume-se num verbo: amarás. Um verbo no futuro, a indicar uma ação nunca concluída, que durará tanto quanto o tempo.

Amar não é um dever, mas uma necessidade para viver. E viver sempre. Com estas palavras podemos lançar um olhar sobre a fé última de Jesus: Ele crê no amor, confia no amor, funda o mundo sobre ele. «Toda a lei é precedida por um “és amado” e seguida por “amarás”. “És amado” é a fundação da lei; “amarás”, o seu cumprimento. Quem afasta a lei deste fundamento amará o contrário da vida» (Paul Beauchamp). Amará a morte.

Que devo fazer para ser verdadeiramente vivo? Amarás. Com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente (cf. Mateus 22,34-40, Evangelho do próximo domingo). Apelo à totalidade, para nós inalcançável. Só Deus ama com todo o coração, Ele que é o próprio amor.

A criatura humana ama de vez em quanto, como às apalpadelas, e com mil contradições. A Bíblia sabe-o bem; com efeito, o texto hebraico, à letra, diria assim: amarás Deus com todos os teus corações. Ama Deus com os teus dois corações, com o coração que acredita, e também com o coração que duvida. Ama-o nos dias da luz, e como podes, como consegues, também na hora em que se faz escuro dentro de ti. Sabendo que o amor conhece também o sofrimento. E quem mais ama, prepare-se para sofrer mais (Santo Agostinho).

À pergunta sobre qual é o grande mandamento, Jesus responde oferecendo três objetos de amor: Deus, o próximo e tu próprio. O amor não vigia só nas fronteiras do eterno, mas protege também o umbral de uma civilização do amor; nela, repleta de criaturas, está o discípulo.

O segundo é semelhante ao primeiro. Amar o ser humano é semelhante a amar Deus. O próximo é semelhante a Deus. O próximo tem rosto e voz, necessidade de amar e de ser amado, semelhantes às de Deus.

Terceiro objeto do amor: ama-o como a ti mesmo. Ama-te como prodígio da mão de Deus, vida da sua Vida, moeda de ouro cunhada por Ele. Ama para ti liberdade e justiça, dignidade e uma carícia, isto amarás também para o teu próximo.

Prodigiosa contração de toda a lei: o que desejas para ti, fá-lo também aos outros. Porque se não amas a beleza da tua vida, não serás capaz de amar ninguém, só saberás prender e acumular, fugir ou violar, sem alegria nem espanto, sem beleza do viver.

E para não nos perdermos no romantismo, a Bíblia faz-se concreta e provocadora: amarás a tríade sagrada: a viúva, o órfão e o estrangeiro, o que chegou por último, o desolado, o frágil. E se emprestas dinheiro, não exigirás juro. E ao pôr-do-sol restituirás o manto ao pobre: é a sua pele, a sua vida (Êxodo 22,20-26). Fora disto, construiremos e amaremos o contrário da vida.

Ermes Ronchi

 

Ser sinal de esperança

 Que saibas sempre ser abraço que abriga. Talvez esse abraço seja tanto, talvez seja tudo, para alguém.

Que saibas sempre ser sorriso do coração. Talvez esse sorriso seja sol nos dias cinzentos, para alguém.

Que saibas sempre ser mão que ampara. Talvez essa mão seja luz na escuridão, para alguém.

Que saibas sempre ser colo que serena. Talvez esse colo seja paz na tempestade, para alguém.

Que saibas sempre ser olhar mais fundo. Talvez esse olhar seja abraço na alma, para alguém.

Que saibas sempre ser palavra, ou silêncio, que abraça. Talvez essa palavra, esse silêncio, toque o coração de alguém.

Que saibas sempre ser companhia que conforta. Talvez essa companhia faça sorrir alguém.

Que saibas sempre ser gesto de bondade. Talvez esse gesto seja o lado bom do mundo, para alguém.

Que saibas sempre ser ternura que cura. Talvez essa ternura seja a parte bonita da vida, para alguém.

Que saibas sempre ser amor. Só amor. Que salva sempre. Talvez esse amor seja esperança a acontecer, para alguém.

E para ti também.

Daniela Barreira

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 "As santas que conheci não se preocupavam com sê-lo. Tinham todas as idades e aparências. E, em comum, o passar pelo mundo com uma grande naturalidade e alegria como se nunca tivesse havido lei nem moral.

Sem pensar, cada uma delas dava mais amor do que o sol luz.

Uma, já idosa, ocupava-se de um jardinzinho e dormia num quarto do tamanho de uma casca de noz.

Outra trazia consigo a alegria como um pardal que esvoaçasse nos seus olhos claros.

Uma terceira, com quatro anos de idade, descobria, nas brincadeiras de que não se fartava, razão bastante para rir o dia inteiro."

Christian Bobin, in Ressuscitar


 

INFORMAÇÕES

 

MÊS DAS ALMAS NA RIBEIRA SECA

Durante o mês de novembro, também chamado “Mês das Almas”, haverá missa na Ribeira Seca, de segunda a sexta-feira, às 7h45.

O peditório para as “Missas das Almas” será feito nos moldes dos anos anteriores.

 

TARDE DE MAGUSTO

A seguir à missa do próximo domingo, dia 10 de novembro, haverá um convívio no largo da igreja da Ribeira Seca: tarde de magusto para todos os que quiserem ter um tempo de divertimento diferente. A missa será às 14 horas.


Faça download desta Carta Familiar em formato PDF: Nº 1177

Agenda Pastoral

Destaque

Mais Recente Carta Familiar em PDF!

Nº 1177

Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 "As santas que conheci não se preocupavam com sê-lo. Tinham todas as idades e aparências. E, em comum, o passar pelo mundo com uma grande naturalidade e alegria como se nunca tivesse havido lei nem moral.

Sem pensar, cada uma delas dava mais amor do que o sol luz.

Uma, já idosa, ocupava-se de um jardinzinho e dormia num quarto do tamanho de uma casca de noz.

Outra trazia consigo a alegria como um pardal que esvoaçasse nos seus olhos claros.

Uma terceira, com quatro anos de idade, descobria, nas brincadeiras de que não se fartava, razão bastante para rir o dia inteiro."

Christian Bobin, in Ressuscitar

Os nossos Links

Ouvidoria de São Jorge
FAJÃS Grupo de Jovens
Cartas Familiares Anteriores

Visitas


Ver Estatísticas