Nº 1163
Quando puderes, descansa!
Aproxima-se o tempo das férias. O tempo de parar. De olhar menos para o relógio que parece correr sempre contra nós e contra o que gostaríamos de fazer. Devemos sempre tanto ao tempo que passa. E parece-nos sempre estranho encontrar tempo para descansar e para abrandar o ritmo. Quase como se não tivéssemos direito a sossegar, a respirar fundo para sentir tudo o que se passa dentro de nós e à nossa volta.
No entanto, a verdade é que sem descanso deixamos de funcionar, de ter paciência, de processar devidamente o que nos vai acontecendo. Mas, então, o que nos leva a sentir esta culpa por “não fazer nada”? Como se estivéssemos permanentemente em dívida?
Vivemos num tempo de profunda aceleração. O que parece contar é a produtividade a todo o custo. Os interesses familiares e de lazer ficam sempre para segundo plano porque nos fizeram crer que o trabalho é a coisa mais importante na nossa vida e à qual devemos dedicar mais tempo e energia. Mas não nos ensinaram que se a nossa vida for orientada apenas para produzir, fazer e agir, acabamos por perder o norte às coisas importantes e essenciais. Deixamos a vida em stand-by. Como fazíamos antigamente com os telefones. Pendurados enquanto íamos chamar a pessoa que seria o destinatário da chamada.
É isso que estamos a fazer à nossa vida: a deixá-la em espera. E em vez daquela música irritante e repetitiva não ouvimos nada. Só o silêncio das coisas e das pessoas que vamos perdendo por faltar sempre ao mesmo jantar. Por chegar a casa quando os miúdos já estão a dormir. Por não ter tempo para visitar a avó, a mãe ou o pai. E o peso dessa culpa e dessa falta que vamos deixando na nossa vida e na dos outros só se compensa se trabalharmos mais… por que é dessa forma que nos conseguimos esquecer do tanto que nos falta e do tanto que gostaríamos de fazer diferente.
Por isso, e contrariando aquilo que ultimamente nos tem sido ensinado, que saibamos descansar durante as nossas férias e também durante o resto do ano. Que não nos deixemos esquecer que o preço a pagar por deixar de fazer falta não pode ser compensado com mais dinheiro ou com mais tarefas.
Não fazer nada é ter tempo para nos encontrarmos connosco. Com os nossos pensamentos, emoções e dificuldades. E tudo deve fazer parte. Só assim poderemos viver uma vida mais completa e mais inteira.
MEDITAR
Do pouco se faz muito, porque dar é viver
O próximo domingo é o do pão que transborda das mãos, das cestas, que parece nunca ter fim (João 6, 1-15). E enquanto o distribuíam, não faltava; e enquanto passava de mão em mão, ficava em cada mão.
Há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes… Um pão de cevada, o primeiro cereal a amadurecer; um rapaz, em quem amadurece um homem. Aquela primícia de humanidade compreendeu tudo, ninguém lhe pediu nada e ele coloca tudo à disposição. É esta a primeira centelha da resposta à fome da multidão.
Mas o que são cinco pães para cinco mil: um por mil. O Evangelho sublinha a desproporção entre o pouco de que se parte e a fome incontável. Desproporção, todavia, é também o nome da esperança, que tem razões que a razão não conhece. E o cristão não pode medir as suas opções apenas sobre o razoável, sobre o possível. Porque teremos de acreditar no Ressuscitado se estamos ligados ao possível?
A mesma desproporção sentimo-la perante os problemas imensos do nosso mundo. Eu só tenho cinco pães, e os pobres são legião. Porém, Jesus não faz caso da quantidade, bastaria menos, muito menos, uma migalha. E a loucura da generosidade. Mal lhe referem a poesia e a coragem daquele rapaz, sente desencadear dentro de si como uma mola: fazei-os sentar. Agora sim, é possível começar a enfrentar a fome.
Jesus toma os pães, e depois de ter dado graças, dá-os… João não menciona como acontece. Como acontecem certos milagres nunca o saberemos. Existem, e basta. Existem quando o que vence é a lei da generosidade: pouco pão partido com os outros é misteriosamente suficiente; o nosso pão conservado ciosamente para nós é o início da fome: «No mundo há pão suficiente para a fome de todos, mas insuficiente para a avidez de poucos» (Gandhi).
Tomou os pães, e depois de ter agradecido, deu-os. Três verbos abençoados: tomar, agradecer, dar. Jesus não é o dono do pão, recebe-o, atravessa-o, simples lugar de passagem. Quando nos consideramos os proprietários das coisas, profanamos-lhe a alma, estragamos o ar, a água, a terra, o pão. Nada é nosso, recebemos e doamos, somos atravessados por uma vida, que vem de antes de nós e continua para além de nós.
Dar graças: ao Pai e ao rapaz sem nome, ao solo e à chuva de outono, à mó e ao fogo, mãe e pai do pão. Tudo nos vem ao encontro, é vida que nos hospeda, dom que vem «de um divino labirinto de causas e efeitos» (M. Gualteri). Que faz da vida um sacramento de comunhão.
E deu-o. Porque a vida é como a respiração, que não se pode deter ou acumular; é como um maná que não dura para amanhã. Dar é viver.
Ermes Ronchi
A perfeição não é deste mundo
Quase todos nós temos ambições, sendo que alguns desejam mesmo a perfeição, como se fosse um prémio que gostavam de exibir a todos. Ora, esta luta para não ter falhas é, muitas vezes, apenas uma preocupação extrema com o que os outros pensam!
Sempre que defino objetivos demasiado ambiciosos para a minha vida estou a condenar-me à frustração de não os alcançar. Depois, começarei a pensar que não tenho valor, porque não consigo chegar àquilo a que me propus.
Há uma enorme diferença entre querermos melhorar e desejar que nos admirem.
Nenhum de nós é os resultados que alcança. A nossa identidade não depende dos sucessos ou fracassos dela, muito menos a curto e a médio prazo.
Quem se concentra apenas nos resultados deixa de ser capaz de viver e desfrutar dos caminhos de cada dia, por onde sempre se pode experimentar, aprender e crescer.
Não há pessoas perfeitas. Amar alguém é aceitá-lo com todas as suas imperfeições, amando cada uma delas. Não é amor se depende da forma como o outro se comporta e se isso corresponde, ou não, à ideia que temos de perfeição.
Há crianças que são educadas sob esta pressão. São amáveis apenas quando se portam bem, ou melhor, de acordo com aquilo que aqueles adultos em causa entendem que é o perfeito. Caso contrário, ficam sozinhas e sem amor, porque afinal são… feias.
O perfecionismo é um fardo, um abuso que causamos a nós mesmos. Destrói relações, limita a nossa produtividade, criatividade, inspiração e alegria, causando sofrimento injusto e desnecessário.
Há até quem nem chegue a começar uma tarefa e desista, tal é o medo de não conseguir fazer tudo bem. Mas só quem arrisca ser idiota é que chega a ser feliz!
Se me preocupo demais com o olhar alheio, deixo de ser eu. E se quem aparece não sou eu… então a verdade é que me estou a esconder, não a aparecer. E daqui se geram ansiedades concretas e muitos outros problemas que corroem a nossa paz.
Não há mal em querer ser melhor, mas querer ser perfeito é um inferno.
O segredo talvez seja ir aprendendo com os erros, sem deixar de os fazer, sem deixar de errar, sem deixar de aprender.
A perfeição não é deste mundo, aqui só há pessoas normais, cheias de falhas mais ou menos belas, que não deviam ter medo de ser felizes!
PENSAMENTO DA SEMANA
"Há um silêncio desmedido a crescer dentro de mim. E à volta dele fluem tantas palavras que te cansam, porque não há nada para exprimir com elas. Deve cada vez mais poupar-se palavras banais a fim de achar aquelas de que uma pessoa precisa. E através do silêncio deve crescer a nova possibilidade de expressão."
Etty Hillesum, Diário 1941-1943
NFORMAÇÕES
FESTA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES
NORTE GRANDE
Tríduo: Dias 31 de julho, 1 e 2 de agosto às 20horas.
Dia 4 de agosto
- Missa de festa às 12horas e Procissão às 19h30m
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Agenda Pastoral
Destaque
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Nº 1176Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse.
Daniel Faria
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