Nº 1176
Dia de todos!
Na próxima semana somos convidados, através da Solenidade de Todos os Santos e da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, a refletir sobre a vida, a morte e a santidade. São dias onde o desconhecido preenche os nossos pensamentos, uma vez que nos debruçamos sobre o mistério da vida e da morte, mas também sobre a possibilidade de tantos e tantas que, não sendo reconhecidos como santos e santas pela Igreja, viveram a santidade com tudo o que foram e fizeram.
Solenidade de Todos os Santos. A liturgia dedica este dia para que possamos não só recordar todos aqueles e aquelas que reconhecemos como santos e santas, mas permite-nos, acima de tudo, relembrar que a santidade pode habitar o ordinário. Este dia recorda-nos que a santidade é coisa de se exercer no nosso quotidiano. Por isso, se tudo o que vivemos, somos e fazemos, durante os dias da nossa vida, são reflexo de santidade, quantos é que não devem ser recordados neste dia?
Se comemoramos o dia de todos, então entram todos os que conhecemos, os que ainda estaremos por conhecer e também aqueles que jamais saberemos o seu nome ou a sua história. Se comemoramos o dia de todos, então este é o dia dos que na sua simplicidade vão salvando o mundo. É o dia dos que no seu quotidiano optam por dar a conhecer a santidade com a sua humanidade. Se comemoramos o dia de todos, então este é o dia dos que salvam com o sorriso. É o dia dos que erguem com os seus abraços e que dão o seu corpo em favor de tantas causas. Se hoje é o dia de todos, então este é o dia dos que dão o seu tempo e dos que alimentam e ajudam no silêncio das suas vidas.
E, no dia seguinte, recordamos os que habitaram as nossas vidas. Não que o façamos só neste dia, mas porque o ritual nos ajuda a aprofundar ainda mais o mistério da vida e da morte. As cerimónias e a romagem aos cemitérios dão corpo e consciencializam-nos para a nossa fragilidade. É no ritual que recordamos, de forma intensa, os olhares, os sorrisos, as lágrimas, as histórias e as palavras dos nossos mais que tudo. É o dia onde as gargalhadas e o choro se cruzam. É o dia onde a esperança e a dúvida se tocam. É o dia onde a fé e o ateísmo andam de mãos dadas. Sim, porque com a morte a nossa vida expande-se ao ponto de já não nos conseguirmos situar entre o preto e o branco.
Este é o dia onde recordamos aqueles que amorosamente fazem parte do que somos. É o dia das pessoas que amamos e que farão para sempre eco no nosso coração. Este é o dia onde agradecemos o facto de nos sabermos feitos de muitos. Este é o dia em que sabemos que nada é mais forte que o amor, onde repousamos o olhar e o coração nas memórias dos nossos amados, nos que já sabem o que é Deus ser tudo em todos. Este é o dia em que saboreamos a certeza de que na morte e na ausência, vence o amor. E onde há amor, há sempre vida!
Emanuel António Dias
MEDITAR
Somos todos mendigos do amor
Evangelho das estradas e dos encontros, nesta semana. «Enquanto partia de Jericó ...». Estamos às portas da cidade, onde se recompõem as caravanas dos peregrinos, onde vagueiam os mendigos à espera de uma moeda de tantos que se encontram às portas. Um cego, sentado no chão, imóvel, implora ali a sua sobrevivência a quem passa.
Mas eis que "sentindo que era Jesus o Nazareno" Bartimeu é como que atingido por um calafrio, por um choque: levanta a cabeça, reanima-se, começa a gritar sua dor. Não se envergonha de ser o mais pobre de todos, na verdade é essa a sua força. Somos todos como ele, mendigos de afeto, do amor ou da luz. Implorar é a fonte da oração: Kyrie eleison, grita. Entre todas, a oração mais cristã e evangélica, a mais antiga e a mais humana. A que nas nossas liturgias confinámos ao ato penitencial, enquanto é um pedido para nascer de novo. Repetem-nas os leprosos, as mulheres, os cegos e não é um pedido de perdão pelos pecados, mas de luz para olhos apagados, de uma pele nova que ainda receba carícias.
Como uma criança que grita por uma mãe distante, pedem a Deus: mostra-te como um pai, sente-te como a mãe deste filho naufrago, faz-me nascer de novo, devolve-me a luz! Bartimeu busca um Deus que se entrelaça com a sua vida em pedaços, com os seus trapos. Mas a multidão ao redor bloqueia o seu grito: cala a boca! Perturbas! É terrível pensar que o sofrimento pode ser perturbador. Perturba Deus! Bartimeu então faz a única coisa que pode ser feita nestes casos: gritar mais alto. É a sua luta, com as trevas e com a multidão.
O Nazareno escuta o grito e responde de uma forma totalmente nova: envolve a multidão que primeiro quis silenciar o mendigo, confia na multidão, mesmo que seja tão fácil mudar o seu estado de espírito: chamem-no! E a multidão, vai, como porta-voz de Cristo, e dirige-se ao cego com belas e emocionantes palavras, onde está guardado o cerne do anúncio do Evangelho. Palavras fáceis que vão diretas ao coração, para serem aprendidas, para serem repetidas, sempre, a todos: "Coragem, levanta-te, Ele está a chamar-te”.
Coragem, a virtude dos começos. Levantar-se, depende de ti, podes fazê-lo, retomares a vida na mão. Chama-te, está aqui para ti, não estás sozinho, o céu não está mudo. E aqui a energia reprimida é libertada, e gestos quase excessivos florescem: não fala, grita; não tira a sua capa, atira com ela; não se levanta do chão, mas salta sobre os pés. Cura-se com aquela voz que o acaricia, o chama e se torna a estrada por onde caminha. Nós, que somos ao mesmo tempo mendigos e multidões, na nossa Jericó, ao longo dos nossos caminhos, a cada pessoa da terra, trazemos como dom, sem nunca nos cansarmos, estas três palavras geradoras: “Coragem levanta-te, Ele está a chamar-te”.
Ermes Ronchi
Fiéis defuntos: Origem e espiritualidade da fé na vida eterna
Em 998, Santo Odilo, abade de Cluny, solicita a todos os mosteiros dependentes da sua abadia para celebrarem um ofício no dia seguinte à solenidade de Todos os Santos, pela «memória de todos aqueles que repousam em Cristo». A prática estender-se-á aos outros mosteiros e, depois, às paróquias servidas pelo clero secular.
No século XIII-XIV, Roma inscreve a data no calendário da Igreja universal. Desta forma, todos os membros defuntos da comunhão dos santos são evocados sucessivamente: aqueles que chegaram à glória do céu no primeiro de novembro, os outros no dia seguinte.
Desde os primeiros tempos do cristianismo fundou-se a convicção de que os vivos devem rezar pelos mortos. No momento de morrer, Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho, pediu ao seu filho para se recordar dela «no altar do Senhor, onde quer que estiveres». Durante a Alta Idade Média, celebra-se o Ofício dos Defuntos no aniversário do falecimento da pessoa.
Um vasto movimento de solidariedade espiritual
A 2 de novembro, os cristãos são convidados a participar, se possível participando na missa, neste vasto movimento de solidariedade espiritual. As multidões que comparecem nos cemitérios a 1 e 2 de novembro não são estranhas à mensagem de esperança da Igreja, apesar da constatação de que a solenidade de Todos os Santos muitas vezes se restrinja à triste evocação das pessoas desaparecidas.
Pensar e rezar por aqueles que amámos (e amamos) faz parte da fé cristã. Mas não esqueçamos que também lhes podemos pedir para rezarem por nós, para se associarem às dificuldades da nossa vida e, chegada a hora, para nos ajudar a fazer a grande passagem que eles já atravessaram. Viver na memória dos nossos desaparecidos não deve ser considerado como evocação mortífera e deprimente. É, ao contrário, um verdadeiro testemunho de fé na ressurreição e na vida eterna.
Rezar pelos defuntos, tradição antiquíssima de esperança na vida
No século VII, oferecer uma missa por um defunto torna-se uma prática corrente, ao mesmo tempo que se instaurava a tradição de celebrar a Eucaristia todos os dias.
Com efeito, «a comemoração dos finados, o cuidado pelos sepulcros e os sufrágios são testemunho de esperança confiante, radicada na certeza de que a morte não é a última palavra sobre o destino humano, porque o homem está destinado a uma vida sem limites, que encontra a sua raiz e o seu cumprimento em Deus».
Greg Dues / Croire (adaptado)
PENSAMENTO DA SEMANA
Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse.
Daniel Faria
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Nº 1176Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse.
Daniel Faria
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