Nº 1143
AMAR AO PERTO
"Muito do que disse, fez. Tocou, curou, aliviou: não todos os do vasto mundo, mas aqueles que estavam à distância de um gesto, mesmo à porta dos seus sentidos. Não fez prodígios colossais, não abriu as águas do mar, mas acalmou algumas tempestades. Não tingiu de sangue as águas do Nilo, mas encheu com vinho bom as taças de uma festa de casamento.
Procurou sorrisos e alívios, os bens mais duradouros.
Assim respondeu ao verso do livro do Levítico, que prescreve amar o que está perto. Não manda amar o remoto e longínquo mundo, mas quem anda pelas mesmas bandas. “Ama o próximo”, diz lá, que é o superlativo de perto, o pertíssimo, o que cheira, geme, o que cai um metro à tua frente. És responsável por ele. Terás de responder por ele.
Curar era seu modo de amar. E quanto mais curava mais aumentava a sua capacidade de amar. O amor é aquela incompreensível energia que quanto mais se gasta mais se multiplica. E ao contrário, quem o aferrolha, malgasta-o, torna-o inútil.
O amor é feito da mesma matéria que o maná, que deve ser consumido todo, no dia em que se recolhe. Dele não pode sobrar nada. Por isso curava até não poder mais. Que não se perdesse nada do maná quotidiano do seu amor.(...)"
Erri de Luca*, in "Penúltimas notícias acerca de Yeshua/Jesus"
MEDITAR
ÉS AMADO... AMARÁS
«Deus amou tanto o mundo» (João 3, 14-21), versículo central do Evangelho joanino, versículo do assombro que renasce sempre por estas palavras apetitosas como o mel, tonificantes como uma caminhada junto ao mar, entre salpicos de ondas e ar bom respirado a plenos pulmões. Palavras a saborear a cada dia e às quais nos agarrarmos com força em todas as passagens da vida, em cada queda, em cada noite, em cada desilusão.
Deus amou tanto… e a noite de Nicodemos, e as nossas noites, iluminam-se. Aqui podemos renascer. A cada dia. Renascer para a confiança, para a esperança, para a serena paz, para a vontade de amar, trabalhar e criar, renascer para a vontade de proteger e cultivar pessoas, talentos e criaturas, todo o pequeno jardim que Deus me confiou.
Não só o ser humano, mas é o mundo que é amado, a Terra é amada, e os animais e as plantas e a criação inteira. E se Ele amou a Terra, também eu a devo amar, com os seus espaços, os seus filhos, o seu verde, as suas flores. E se Ele amou o mundo e a sua beleza frágil, então também tu amarás a Criação como a ti mesmo, amá-la-ás como o teu próximo: «O meu próximo é tudo o que vive» (Gandhi).
A revelação de Jesus é esta: Deus considerou o mundo, cada ser humano, este meu nada a que no entanto deu um coração, mais importante do que Ele próprio. Para me adquirir perdeu-Se a Si mesmo. Loucura de amor.
Deus amou: a beleza deste verbo no passado, para indicar não uma esperança ou uma expetativa, mas uma segurança, um facto certo, e o mundo inteiro dele está impregnado: «O nosso desastre é estarmos imersos num oceano de amor e não nos damos conta» (G. Vannucci). Toda a história bíblica começa com um «és amado» e termina com um «amarás» (P. Beuchamp). Não somos cristãos porque amamos Deus. Somos cristãos porque acreditamos que Deus nos ama.
Deus não enviou o Filho para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo, para que quem acredita tenha a vida. A Deus não interessa instruir processos contra nós, nem para condenar ou equilibrar as contas, e tão-pouco para nos absolver. A vida dos amados de Deus não existe à medida do tribunal, mas à medida do florescimento e do abraço, no paradigma da plenitude.
Para que o mundo seja salvo: salvar quer dizer conservar, e nada se perderá, nem um suspiro, nem uma lágrima, nem um fio de erva; não se perderá nenhum generoso cansaço, nenhuma dolorosa paciência, nenhum gesto de cuidado por quanto seja pequeno e oculto. Se pude impedir que um coração se desfaça, não terei vivido em vão. Se puder aliviar a dor de uma vida ou aliviar uma pena, ou ajudar um pintarroxo caído a voltar ao seu ninho, não terei vivido em vão (Emily Dickinson).»
Ermes Ronchi
O amor é uma escolha
O amor é um compromisso. Uma escolha de fazer de si mesmo um instrumento da felicidade de alguém.
O amor que alguém sente não resulta de nenhuma atração, sedução ou encanto, mas da decisão corajosa que o leva a arriscar-se, apresentando-se ao outro como é, com todas as suas falhas, feridas e perdas.
Hoje, o egoísmo, o contrário do amor, está muito mais na moda. Chega a parecer a atitude certa face aos outros, procurando neles o que haja para nos satisfazer os apetites, desejos e prazeres… mais do que procurar em si o que pode semear e alimentar a felicidade no outro.
Amar não é ser feliz, é lutar pela felicidade, não a minha, mas a do outro, não a deste mundo, mas a do outro.
O casamento não é uma promessa de um enamoramento sem fim, mas um compromisso de para amar o outro sempre e apesar de tudo.
Os egoístas chegam ao amanhã, mas nunca à eternidade. Essa é apenas para quem decide amar e ama.
A escolha de amar é árdua porque exige que se renuncie a muitas opções que estão associadas ao sucesso. Chega a exigir que se escolha amar o outro naqueles dias em que a vontade era a de não se estar sequer perto dele.
Não esperes por Deus. Amar é fazer-se semelhante a Deus. É ir ao Seu encontro.
Quanta força e coragem é necessária para dia após dia, apesar de tudo, fazer o amor dar frutos através de gestos concretos. Dizendo ao outro através de obras: Sim, aceito-te! Sim, quero-te feliz! Sim, amo-te!
PENSAMENTO DA SEMANA
A beleza vem do amor.
O amor vem da atenção.
A atenção simples ao que é simples,
a atenção humilde aos humildes,
a atenção viva a todas as vidas...
A beleza vem do amor,
como o dia vem do sol,
como o sol vem de Deus,
como Deus vem duma mulher.
Christian Bobin, in Francisco e o Pequenino
INFORMAÇÕES
CPM (Curso de Preparação para o Matrimónio)
Nos dias 13, 14 e 15 de março, às 20 horas, decorrerá um Curso de Preparação para o Matrimónio para quem pretende casar durante este ano de 2024. Será na sala de reuniões do Passal da Calheta.
MISSA NO SANTUÁRIO DA CALDEIRA
No próximo domingo, 17 de março, às 16h00 horas.
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Nº 1176Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse.
Daniel Faria
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