Nº 1141
É tempo de parar um pouco
Vivemos com uma vontade enorme de fazer coisas, de experimentar outras, de participar de forma ativa em todas as atividades e de estar presente em todos os acontecimentos que julgamos ser importantes, portanto, quase todos!
Mais estranho ainda é que o nosso interior seja determinado pelo exterior, quando na verdade devia ser o contrário, as mudanças do mundo começarem a partir de dentro de mim.
Queremos tanto ser protagonistas em tanta coisa que acabamos por improvisar a maior parte do tempo e fazer figuras tristes que se evitariam com facilidade se tivéssemos tido a coragem de parar um pouco e pensar bem no que era o plano e quais eram as probabilidades de sucesso!
Parecemos escravos da ditadura do fazer acontecer. Somos obrigados a produzir e a consumir. Tudo com ritmo acelerado e sem pausas. Eventos muito dinâmicos e sem fim!
Quem decide ficar de fora, ainda que por apenas alguns momentos, é visto como alguém atrasado, mas ameaçador.
Na família, como no meio profissional, dá-se cada vez mais valor a fazer muitas coisas. Quantidade e diversidade, em vez de qualidade e profundidade. Estar ali não basta, é preciso fazer qualquer coisa, como se a simples presença de alguém connosco não pudesse ser motivo de satisfação para nós. O encontro é em si mesmo um enorme bem. Ir ao encontro e estar ali pode ser tudo o que alguém precisa para ser feliz.
Quantas vezes é a perda de alguém querido que nos lembra que devíamos ter usufruído mais da sua simples presença… um silêncio partilhado pode bem ser o mais belo hino ao amor.
A existência é demasiado limitada e valiosa, para que a desperdicemos a fazer muitas coisas sem pensar, sem sonhar, sem estudo nem preparação… de que vale acabar exausto e frustrado por ter gastado forças e tempo de forma inútil?
Mais vale parar, pensar e, depois, se for mesmo importante fazer algo, fazê-lo. Caso contrário, mais vale descansar e dar descanso aos outros.
É tempo de olhar para nós mesmos e aos outros com amor, num silêncio sem pressa.
MEDITAR
A luz inefável de Deus para nós, mendigos de sentido.
Quaresma surpreende-nos com o Evangelho da Transfiguração, cheio de sol e luz, que dá asas à nossa esperança. Uma página de teologia por imagens: trata-se de ver Jesus como o sol de nossa vida, e nossa vida movendo-se sob o sol de Deus. Jesus chama-os novamente como no primeiro chamado: tudo é narrado do ponto de vista dos discípulos, do que acontece com eles, do caminho que eles e nós podemos levar para alcançar a beleza da luz.
Leva-o a uma montanha alta e foi transfigurado diante deles: os montes na Bíblia são a morada de Deus, mas também oferecem a possibilidade de um novo olhar sobre o mundo, apreendido por um novo ângulo, visto de cima, de um ponto de vista inédito, o ponto de vista de Deus.
A nossa compreensão, a nossa inteligência, a nossa luz não nos bastam, as coisas que nos rodeiam não são claras, a história e os caminhos do futuro não são de todo evidentes. Como Pedro e os seus dois companheiros, nós também somos mendigos da luz, mendigos do sentido e do céu. E a fé que buscamos é "uma nova visão das coisas “ (G.Vannuci), “ver o mundo com outra luz" (M. Zambrano).
Pedro abre-nos o caminho com a sua extraordinária exclamação: mestre lindo que é aqui! E eu gostaria, balbuciando como o primeiro dos discípulos, de dizer que eu também aflorei, pelo menos algumas vezes, a beleza de acreditar. Para mim também, acreditar foi adquirir a beleza da vida. A fé viva vem de um espanto, de um enamoramento, de um “que lindo" que treme nos olhos e na voz. A força do coração de Pedro é a descoberta da beleza de Jesus, daí vem a vontade de agir (façamos, aqui, imediatamente ...)
Sucede também comigo: a vida não avança por ordens ou proibições, mas por uma sedução. E a sedução vem de uma beleza, pelo menos vislumbrada, mesmo que seja por um momento, ainda que só um piscar de um instante: o belo rosto de Jesus, é um olhar deitado sobre o abismo de Deus. Olham os três, emocionam-se , ficam atordoados: à sua frente abriu-se a maravilhosa revelação de um Deus brilhante, belo e solar. Um Deus para ser apreciado, um Deus que surpreende. E que em cada filho semeou a sua grande beleza.
Uma nuvem veio do céu, e da nuvem uma voz: ouvi-O. Jesus é a Voz que se tornou um rosto. O mistério de Deus está agora todo dentro de Jesus. E para nós, buscadores de luz, o caminho principal está traçado: ouvi-O, deem tempo e coração à Palavra, até que se torne carne e vida. E depois segui-Lo, amando as coisas que Ele amou, preferindo as que preferiu, rejeitando o que Ele recusou. Então veremos a gota de luz escondida no coração vivo de todas as coisas, veremos uma nascente de luz despontar e subir em nós.
Ermes Ronchi
Deus é remédio para as infelicidades (o contrário das bem-aventuranças) espirituais
Deus será sempre o melhor remédio para estas infelicidades espirituais:
Infelizes os consagrados a Deus que têm riquezas, não são castos e não fazem caminho com ninguém.
Infelizes os leigos que não aprofundam o estudo das dimensões da sua fé.
Infelizes os que se consideram santos e marginalizam os pecadores.
Infelizes o que se apoiam em supostas verdades fora da Revelação de Deus.
Infelizes os que amam o Senhor em palavras mas não têm obras.
Infelizes os que conhecendo a verdade vivem na mentira.
Infelizes os que conhecem o bem mas praticam o mal.
Infelizes os pais que não educam seus filhos segundo o Evangelho de Jesus, mas de tudo fazem para que eles alcancem sucesso passageiro nas coisas terrenas.
Infelizes os chefes que não servem o Senhor dos senhores.
Infelizes os que maldizem a Deus, aos seus filhos e às suas criaturas.
Infelizes os casados que violaram as promessas.
Infelizes os clérigos que não honram o seu ministério, que não creem no seu ofício, que celebram os sacramentos com pressa, como se as obrigações da sua vocação não fossem dons e presença de Deus.
Infelizes aqueles que não se aproximam do sacramento da reconciliação, que dizem a si mesmo que é suficiente confessar-se a Deus, pensando, com isso, que os pecados são apenas de natureza espiritual e não têm repercussões individuais e sociais.
Infelizes aqueles que usam o nome de Deus e a religião para dividir, insultar, matar, pois ultrajam Deus.
Infelizes são os que não entendem o sentido de comungar o Corpo e o Sangue de Cristo, que é comunhão e participação com a vida de Cristo e a vida dos outros.
Infelizes os que não têm amor ao próximo como têm a Deus, pois Deus fez-se pessoa, que Ele criou à Sua imagem e semelhança.
Publicado por Fraternitas Movimento
PENSAMENTO DA SEMANA
Sonho uma Igreja "pobre e para os pobres"
que não se torna capa de revista nem título de jornais
mas se mostra serva e despojada,
simples e humilde,
capaz de falar eloquentemente de Jesus,
O Crucificado por Amor.
Sonho uma Igreja que não se dispersa nem se contenta com sermões, homilias e palestras,
mas faz da palavra um "grito", uma "prece", uma "denúncia" e uma "postura"
de fraternidade, de justiça, de cumplicidade, com o Reino de Deus.
Sonho que
ando, cada dia, à procura de mim próprio
e à descoberta de Deus
numa Igreja feita verdadeiramente de mulheres e homens...
P. António Teixeira
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Nº 1175Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
Não digas nunca: “Eis aqui o amor.”
O amor é sempre um passo mais,
o amor é o degrau seguinte da escada,
o amor é apetência contínua
e se não estás insatisfeito não há amor.
O amor é os frutos na mão,
ainda por morder.
O amor é um perpétuo aguilhão
e um desejo que deve crescer sem barreiras.
Não digas nunca: “Eis aqui o amor”.
O verdadeiro amor é um “não chegou ainda…"
Luis Antonio de Villena
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