Nº 1136
riem e choram connosco
com os seus risos atenuam-nos a aridez dos dias, e com as suas lágrimas comprovam partilharem do ombro disponibilizado
permutam méritos e excelências, mas também lapsos e insuficiências
corrigem e ensinam-nos
alertam e protegem-nos
fazem da afetividade um lema diário, e da permanente entrega um ideal renovado
não se poupam em aceitarem desculpas, mas igualmente não se inibem na exigência
mostram e afirmam-se-nos constantemente disponíveis
tornam-se cúmplices, e não esperam pela troca de favores
optam pela frontalidade e abominam as subtilezas comportamentais
zangam-se abertamente, e ajudam-nos sem assumirem a expressão cansada e vitimada do sacrifício
não exercem a inveja, antes exultam com os êxitos que nos possam caber no calvário dos dias
adivinham-nos as necessidades, e magnânimos adiantam-se ao previsível chamamento duma hora crítica
não atendem às clivagens, sejam elas de temperamento, sociopolíticas ou de cariz económico-financeiro.
estão por que estão, gostam por que gostam, não se distanciam nem nos abandonam
são de determinada maneira porque o são, e se nos ralham fazem-no com ternura, e são capazes de nos elogiarem com a ira de não termos conseguido ser ainda melhores
não intervalam as visitas ou os simples telefonemas, menos ainda os gestos solidários
não estabelecem interregnos no fervor do acompanhamento, nem na vivacidade de uma salutar dedicação, porém jamais invadindo o espaço de privação e liberdade
Severino Moreira (adaptado)
MEDITAR
Nos teus invernos há sementes que germinam, sabias?
Marcos conduz-nos ao momento primordial em que uma notícia extraordinária começa a correr pela Galileia, anunciando com a primeira palavra: o tempo cumpriu-se, o Reino de Deus está aqui.
Jesus não demonstra o Reino, mostra-o e fá-lo florir das suas mãos: liberta, cura, perdoa, derruba barreiras, volta a dar a plenitude a todos, a começar pelos últimos. O Reino é Deus que vem para curar do mal de viver, como a vida que desponta em todas as suas formas.
A segunda palavra de Jesus pede para tomar posição: convertei-vos, voltai-vos para o Reino. Há uma ideia de movimento na conversão, como no girassol que a cada manhã volta a erguer a sua corola e a orienta na direção do sol. Convertei-vos: isto é, voltai-vos para a luz porque a luz já está aqui.
A cada manhã, a cada despertar, também eu posso converter-me, dirigir pensamentos, sentimentos e escolhas para uma estrela polar do viver, para a boa notícia de que Deus está hoje mais próximo, penetrou mais profundamente no coração do mundo e no meu, com mansidão e poderosa energia para o amanhecer de novos céus e nova terra.
Também eu posso construir o meu dia sobre esta feliz certeza; deixar de ter os olhos baixos sobre os meus mil problemas, mas levantar a cabeça para a luz, para o Senhor que me assegura: Eu estou contigo, nunca te deixo, nunca serás abandonado.
Crer no Evangelho. Não basta aderir a uma doutrina; é preciso atirar-se para dentro dele, para que a nossa vida seja submersa nele e dele derivem as nossas escolhas.
Caminhando ao longo do lago, Jesus vê... Vê Simão e nele intui Pedro, a Rocha. Vê João e nele perscruta o discípulo das mais belas palavras de amor. Um dia olhará a adúltera trazida à força para diante dele e nela verá a mulher capaz de amar de novo.
O Mestre olha também para mim; nos meus invernos vê sementes que germinam, generosidade que desconhecia ter, capacidades de que não suspeitava. O olhar de Jesus alarga o coração, torna-o mais amplo. Deus tem para mim a confiança de quem contempla as estrelas ainda antes que se iluminem.
Segue-me, vem após mim. Jesus não se alonga em motivações, porque o motivo é Ele, que te coloca o Reino recém-nascido entre as mãos. E di-lo com uma palavra inédita: farei de vós pescadores de homens. Como se dissesse: farei de vós buscadores de tesouros.
Como se dissesse: o meu e o vosso tesouro são os homens. Havereis de os tirar para fora da escuridão, como peixes sob a superfície das águas, como recém-nascidos das águas maternas, como tesouro desenterrado do campo. Passá-los-eis da vida submersa à vida ao sol. Mostrareis que o Evangelho é a chave para viver melhor.
Ermes Ronchi
NO PRINCÍPIO ERA O SILÊNCIO
"A palavra emerge do silêncio e devolve-nos ao silêncio. O silêncio, por sua vez, é o ventre da palavra; o silêncio faz nascer a palavra.
A palavra é a presença do nosso coração, é a doação, o presente do nosso coração.
A verdadeira palavra que emerge do silêncio da eternidade é sempre uma palavra que salva, liberta e deixa em liberdade. A palavra que brota do silêncio nunca se impõe, nunca atropela, nunca oprime.
A Palavra vale o que vale o coração, é uma revelação do coração, vale o que vale o silêncio de quem a proclama. No coração, há tudo o que é necessário para viver.
O homem encontra a sua liberdade no coração: a liberdade ou está no coração ou não está em lado nenhum. É como a paz, ou está dentro ou não está em lado nenhum; mas quando está dentro então expande-se, torna-se presente.
Na realidade, a palavra vem sempre, mas raramente nos encontra em casa, raramente parece encontrar-nos disponíveis."
José Fernández Moratiel, in Desde el silencio
PENSAMENTO DA SEMANA
Deus não está lá no alto
como um farol celeste.
Ele não é um mágico todo-poderoso
que, de fora, orienta o destino dos mundos:
Deus é interior
como o segredo supremo
de um amor silencioso e desarmado!
Maurice Zundel
INFORMAÇÕES
RECEITAS DOS CORTEJOS DE OFERENDAS:
Ermida de Santo António - 905,00€.
FEIRA SOLIDÁRIA
Organizada pela catequese da Ribeira Seca, está a decorrer uma Feira Solidária a favor de Timor Leste, neste domingo, 21 de janeiro, na Sociedade União Popular da Ribeira Seca.
Consta de artigos novos e usados e uma sala de chá.
Faça download desta Carta Familiar em formato PDF: Nº 1136
Agenda Pastoral
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Nº 1173Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
SEJA FEITA A TUA BONDADE!
"Jesus não ensinou o Pai Nosso aos discípulos como uma fórmula para estes repetirem de cor e de modo completo." (Calmeiro Matias)
Jesus não definiu a entoação certa ou o sotaque mais apropriado.
Cada um tem um dialeto feito de silêncios, de palavras, de cumplicidades.
Um dia, em Vila Nova de Gaia, o meu primo recebeu-me com um "bons olhos te beijam!" A resposta ao meu "Ãh?" não tardou: "És surda? Bons olhos te beijam!"
Soou-me a poesia. O sotaque tornou tudo mais bonito.
À semelhança do meu primo e do meu Pai, "aboli os vês" e digo:
Seja feita a tua bondade! A tua bondade, Pai! A tua bondade, Pai!
Quando Jesus partilhou com os discípulos o modo como conversava com o seu Pai, demorou-se a mostrar-lhes a confiança na bondade de Deus. Lucas fez chegar até nós a história do amigo que aparece fora d'horas e termina perguntando se um Pai poderá recusar o maior bem - a convivência e a intimidade do Espírito - aos seus filhos. (Lucas 11, 1-13)
"Este assunto da bondade de Deus é uma questão de sensatez. Ser sensato. Como pode existir Deus, se não for bom?" (José António Pagola)
Eneida Costa
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