Nº 1050
Demora-te (dentro de um abraço)
O mundo corre mais depressa do que o tempo. O tempo não pára e dizem-nos que não podemos demorar. Ensinaram-nos, e ensinam-nos todos os dias, que não há tempo para parar. Não há tempo para demorar. E vamos passando, apressados, pelos dias, quase sempre sem parar. Sem reparar. Sem sentir, nada mais do que a correria do mundo e do tempo. Quase, até, sem respirar. Sem viver para o que realmente nos faz viver. Para o que nos faz amar.
Mas, hoje, eu quero dizer-te uma coisa: demora-te.
Dentro de um abraço.
Abraça alguém de quem gostas muito. Abraça alguém que precisa de um abraço. Abraça alguém porque tu precisas de um abraço. Abraça porque um abraço é a forma mais bonita de (de)morar. E demora-te.
Demora-te dentro de um abraço que, mesmo antes de abrir os braços, já está a chamar-te. Um abraço que te chama com o olhar, um abraço que te convida a entrar. A ficar. A morar. Demora-te dentro de um abraço que te abraça por inteiro. Um abraço que segura cada pedaço do teu coração. Da tua alma. Demora-te dentro de um abraço que te cura. Um abraço que sossega os medos. Um abraço que acalma as tempestades. Um abraço que te salva. Demora-te dentro de um abraço que te aquece quando o mundo é frio (e quando não é, também). Um abraço que te mostra o mundo mais bonito de todos os mundos. Demora-te dentro de um abraço-casa. Um abraço que te guarda dentro. Um abraço que te abriga do mundo inteiro. Um abraço que é o teu lugar. Demora-te dentro de um abraço que é a forma do amor. Um abraço que enlaça dois corações. Um abraço que te abraça para sempre. Demora-te dentro de um abraço que chega quando mais nada chega.
Demora-te dentro de um abraço. Mesmo que o mundo corra mais depressa do que o tempo. Mesmo que o tempo não pare e que digam que não podemos demorar. Demora-te. Demora-te, porque é dentro de um abraço que o mundo pára. Que o tempo pára. E só quando paramos para nos demorarmos em algo, em alguém, é que vivemos. É que amamos.
E a verdade é esta: Mesmo que o mundo corra mais depressa do que o tempo e mesmo que o tempo não pare, não há correria nenhuma no mundo que compense o amor de um abraço demorado. E o milagre de um coração a sorrir.
MEDITAR
O grande presente de Jesus: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.»
Seguindo o costume judaico, os primeiros cristãos cumprimentavam-se desejando-se um mutuamente «paz». Não era uma saudação rotineira e convencional. Para eles tinha um significado mais profundo. Numa carta que Paulo escreve por volta do ano 61 a uma comunidade cristã da Ásia Menor, manifesta-lhes o seu grande desejo: «Que a paz de Cristo reine nos vossos corações.»
Esta paz não deve ser confundida com qualquer coisa. Não é apenas uma ausência de conflitos e tensões. Nem uma sensação de bem-estar ou uma procura de tranquilidade interior. Segundo o Evangelho de João, é o grande presente de Jesus, a herança que quis deixar para sempre aos seus seguidores. Assim diz Jesus: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.»
«Não fomos salvos pela crucificação de Jesus,
nem fomos salvos pela morte de Jesus, que foi assassinato.
Somos salvos pela Vida de Jesus, doada até à morte.»
Gabriel Cifermann
Jesus já tinha indicado aos seus discípulos, quando os enviou a construir o reino de Deus: «Na casa em que entrares, dizei primeiro, “Paz a esta casa”.» Para humanizar a vida, a primeira coisa é semear a paz, não a violência; promover respeito, diálogo e a escuta mútua, não imposição, confronto e dogmatismo.
Porque é tão difícil a paz? Porque voltamos uma e outra vez ao confronto e à agressão mútua? Há uma primeira resposta tão elementar e simples que ninguém a leva a sério: só homens e mulheres que possuem a paz podem exercitá-la na sociedade.
Não pode semear paz qualquer pessoa. Com o coração cheio de ressentimento, intolerância e dogmatismo, podem-se mobilizar pessoas, mas não é possível trazer a verdadeira paz à convivência. Não ajuda a aproximar as posições e a criar um clima amigável de compreensão, aceitação mútua e diálogo.
Não é difícil assinalar algumas características da pessoa que leva no seu interior a paz de Cristo: procura sempre o bem de todos, não exclui ninguém, respeita as diferenças, não alimenta a agressão, fomenta o que une, nunca o que confronta.
Que estamos a levar ao mundo hoje a partir da Igreja de Jesus? Concordia ou divisão? Reconciliação ou confronto? E se os seguidores de Jesus não levam paz no seu coração, o que é que levam? Medos, interesses, ambições, irresponsabilidade?
José Antonio Pagola
CRIANÇA
O Espirito de Deus é como uma criança…
Mete-se onde não é chamado,
toca no intocável,
mexe e remexe…
Nós é que adoramos crescer e passar a ter tudo controlado,
a vida bem arrumadinha,
os lugares habituais
e os dias viciados…
Então,
vem o Espírito de Deus, como um Sopro,
a pôr tantas coisas em pé de vento…
Ou como uma criança,
a surpreender de novidade as nossas arrumações,
a levantar “porquês” intermináveis às nossas certezas mais antigas,
a trocar a ordem de todas as nossas prateleiras
e a revelar-nos que é sempre possível começar de novo
e fazer coisas novas.
O Espírito de Deus é como uma criança…
Uma fonte inesgotável de energia e um risco contínuo de novidade.
Quando nós deixamos,
renova as mentalidades,
renova os corações,
renova as esperanças
e renova as estruturas.
Quando deixarmos de ter tudo tão arrumadinho e certinho,
vamos deixar que o Espírito Santo,
a Infância de Deus,
faça em nós das suas…
Rui Santiago cssr
PENSAMENTO DA SEMANA
Maria tem esta capacidade de escutar e acolher a vida, de ser visitada, de não viver com a porta fechada. Maria deixa-se visitar. Tem esta honestidade muito grande, esta exposição, e depois esta compreensão de que a vida não é apenas a realização da felicidade que eu pensei para mim próprio, mas que é a compreensão de que estou ao serviço de uma história maior, de uma história que me ultrapassa, e na qual o Espírito Santo me vai dar a força de participar, vai-me dar a competência de ser, colocando-me inteiramente ao serviço.
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Cardeal D. José? Tolentino Mendonça
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Nº 1170Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
“ENSINAR É AMAR”
"Ser professor é dar-se (...) Tens muito que fazer? – Não; tenho muito que amar. Não entendo ser professor de outra maneira. (...)
Para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita. O aluno acredita em nós e não deve acreditar em vão. Impõe-se-nos que mereçamos, com a nossa, a pureza dos nossos alunos; que a nossa alimente a deles, a mantenha. (...)
Sejamos a lição em pessoa – que é isso mais importante e mais eficaz que sermos o papel onde a lição está escrita; e possamos dizer sem constrangimento: Deixai-as vir a mim, as criancinhas…”
Sebastião da Gama, in Diário
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