Nº 969

 

"Bem-aventurados os que morrem no Senhor, que repousem dos seus trabalhos, porque as suas obras os acompanham" (Ap 14,13)

No mês de novembro encontramo-nos em pleno outono, esta estação do ano que tanto me fascina, pelo encanto da natureza que se recolhe para o inverno, das folhas que se revestem dos mais belos tons antes de caírem, como a mostrar a nobreza do entardecer da vida, que se recolhe e se despede serenamente antes de repousar no silêncio do mistério!... E mesmo o nevoeiro denso que em muitos dias de outono nos envolve, também isso é um convite ao recolhimento, mesmo ao mistério que diz a nossa existência. Talvez tenha sido por isso que a Igreja, na sua admirável pedagogia da fé que respeita os ritmos da natureza, tenha escolhido o mês de novembro para nos recordar o mistério da morte, com a celebração dos fiéis defuntos logo no início, a 2 de novembro, e dedicando todo o mês à meditação da morte e à contemplação do purgatório. Novembro é o mês das almas!

É assim que o recordo, desde a minha infância: 'mês das almas'. A missa era muito cedo, lá pelas quatro ou cinco da manhã, para que também os lavradores pudessem participar antes de irem para o leite.

Meditava-se na vida eterna. Era tema de conversas ao serão. As almas do Purgatório!... Recordo-me da minha tia muito velhinha que, mais tarde, quando já estava no seminário, me ia visitar sempre, e dela aprendi o que nunca esqueci sobre o que ela dizia com aquela fé e aquela convicção que vinham do fundo do tempo: «Eu tenho uma grande devoção pelas almas do purgatório!... E tu quando fores Padre nunca deixes de rezar por elas!... Elas conseguem-nos muitas graças!...» E aqui estava toda aquela teologia simples da minha tia Alexandrina sobre aquilo que a teologia designa como escatologia intermédia. E esta teologia ainda me recorda a minha Mãe, com os seus noventa e sete anos, repetindo-me vezes sem conta aquelas coisas de que nunca se esqueceu: «Isto nunca mais me esqueceu!...». E, segurando-me pela mão, aquela mãozinha terna que a sinto sempre e que me quer levar com ela neste regresso ao Futuro... : «A gente não deve esquecer nunca o que os nossos pais nos ensinaram...», e daquelas coisas que ela também nunca se esqueceu, foi a 'devoção às almas do Purgatório'. A esta devoção volto, quando a crítica teológica me insinua alguma hesitação.

É bom rezar pelos defuntos, pelas almas do purgatório, esse espaço de derradeira purificação antes da visão de Deus. E faz parte da nossa tradição crente a convicção da fé de que ninguém vai direto ao paraíso, se antes não passar por esta purificação pelo fogo do amor divino, aquilo que os místicos já intuíam como a purificação passiva do espírito, desses restos de apego de si a si mesmo, para que então finalmente Deus seja Deus em nós mesmos.

Todos os dias a Igreja recorda na sua oração as almas dos fiéis defuntos.  

P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj (adaptado)

 

MEDITAR

Todos os Santos: Bem-aventurados os últimos, os pobres, os que choram, Deus está convosco

Bem-aventurados os pobres, proclama Jesus no seu primeiro discurso, sobre a montanha (Mateus 5,1-12, Evangelho do domingo de Todos os Santos). Que significa bem-aventurado, este termo algo desusado e descolorido? A mente corre depressa para sinónimos como feliz, contente, afortunado.

Mas a palavra não pode ser compreendida só no mundo das emoções, empobrecida a um estado de alma aleatório. Em vez disso, indica um estado de vida, consolida a certeza mais humana que temos e que a todos nos configura em unidade: a aspiração à alegria, ao amor, à vida.

Bem-aventurados, e é como dizer: de pé, a caminho, em frente, vós pobres (A. Chouraqui), Deus caminha convosco, de coluna direita, não vos rendais, vós não violentos, sois o futuro da Terra; coragem, ergue-te e lança fora o manto do luto, tu que choras; não deixes cair os braços, tu que produzes amor.

Profundidades às quais nunca chegarei, Evangelho que continua a espantar-me e a escapar-me, e que, todavia, é preciso salvar a todo o custo; nostalgia prepotente de um mundo feito de paz e sinceridade, de justiça e corações puros, uma maneira totalmente outra de estar vivo.

As bem-aventuranças não são mais um preceito ou um novo mandamento, mas a bela notícia que Deus oferece alegria a quem produz amor, que quem se encarrega da felicidade de alguém, o Pai encarregar-se-á da sua felicidade.

Vosso é o reino: o Reino é dos pobres, porque o Rei se fez pobre. A terra é dos mansos, porque o poderoso se fez manso e humilde. A esta terra, embebida em sangue (o sangue do teu irmão grita-me), planeta de túmulos, quem oferece futuro? Quem está mais armado, é mais forte, mais desapiedado? Ou, antes, o tecedor de paz, o não violento, o misericordioso, o que cuida?

A segunda palavra do Evangelho diz: bem-aventurados aqueles que estão no pranto. A bem-aventurança mais paradoxal: lágrimas e felicidade mescladas, mas não porque Deus goste da dor, mas na dor Ele está contigo.

Um anjo misterioso anuncia a quem chora: o Senhor está contigo. Deus está contigo, no reflexo mais profundo das tuas lágrimas para multiplicar a coragem; em cada tempestade está ao teu lado, força da tua força, refúgio para os teus medos.

Como para os discípulos apanhados na noite pela borrasca no lago, Ele está na força dos remadores que não se rendem, nos braços sólidos de quem manobra o leme, nos olhos do vigia que perscrutam a aurora.

Jesus anuncia um Deus que não é imparcial, tem as mãos enredadas na densidade da vida, tem um fraco pelos fracos, começa pelos últimos da fila, dos subterrâneos da história, escolheu os descartados do mundo para criar com eles uma história que não avança pela vitória dos mais fortes, mas por sementes de justiça e colheitas de paz.

 Ermes Ronchi

 

Bendita seja a brisa nova de cada dia

Bendito seja o germinar oculto e exaltante do Espírito, graças ao qual em cada estação nos faz renascer.

Bendito seja o respiro novo que cada dia, de maneira misteriosa, insuflas em nós, recordando-nos que a nossa criação não está terminada.

Bendito seja este espaço em que pacientemente nos plasmas, respeitando a nossa liberdade e os nossos tempos.

Bendita seja a tua fidelidade à nossa história e à maneira simples em que exortas o nosso coração a não se abandonar às inúteis visões da incerteza, do pessimismo e do cansaço.

Bendito seja o teu Reino que fazes já vir até nós nesta margem provisória, e que nos estimula a compreender a tua vontade.

Bendita seja a tua Palavra que encoraja e inspira perenemente os nossos novos inícios, porque desta maneira nos voltas a colocar a caminho para aquela festa, unânime e fraterna, que o quotidiano é chamado a preparar.

Bendito seja o Deus do nosso ontem, de quem entrevemos a passagem em tantos sinais do tempo presente, umbral daquela revelação maior em que será tudo em todos.

  Card. José Tolentino Mendonça

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 Mesmo que o céu da tua consciência

esteja coberto de nuvens negras
a anunciar tempestade,
nunca te esqueças que na tua alma
há um sol que brilha sempre.
O lugar que Deus habita dentro de ti
é um céu límpido e azul,
marcado pela claridade.


Anselm Grün, em Em cada dia... um caminho para a felicidade

 


 

INFORMAÇÕES

 

MÊS DAS ALMAS

Durante o mês de novembro, também chamado “Mês das Almas”, haverá missa na Ribeira Seca, de segunda a sexta-feira, às 8 horas, nos Biscoitos à terça-feira às 17h30 e nas Manadas à quinta-feira às 11 horas.

O peditório para as “Missas das Almas” será feito nos moldes dos  anos anteriores


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

A alegria e a surpresa andam de mãos dadas.

Isso revela-se sempre que conseguimos reagir com criatividade

às coisas inesperadas que fazem mudar

os nossos planos e, mesmo assim,

sentimos que tudo continua bem.


Por vezes, a alegria surpreende-nos.
Apanha-nos totalmente desprevenidos.
O importante é deixarmos que ela tome
conta de nós e continuarmos recetivos
à surpresa divina.

Anselm Grün, in Em cada dia... um caminho para a felicidade

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