Nº 967

 

Não estás cansado?

Não sei se são estes novos tempos. Se é a pandemia. Se é o vírus. Se é a nossa falta de paciência. Se é o desalinho dos astros.

 Não sei se é esta nova vida que somos obrigados a carregar dentro do peito. Se é a nossa falta de tempo. Se é a nossa falta de fé e de amor.

Não sei se é o Céu a querer ensinar-nos qualquer coisa que precisamos de aprender. Ou se somos nós que temos a responsabilidade de ser exemplo para quem vier depois de nós.

O que sei é que estamos cansados. Que transpiramos falta de vontade e de calma. Que as mãos vão em piloto automático à cara umas trezentas vezes por dia, ainda que não possam. Ainda que não possamos.

Estamos fartos. A transbordar e a ultrapassar (quase) todos os limites. Já não nos chega o lema do “um dia de cada vez”, do “vai passar”, do “amanhã será melhor”. Queremos que seja hoje. Queremos que tudo passe, agora. Neste preciso momento.

Sentimos que não temos grandes forças para mais desafios, mas, ao mesmo tempo, vamos de braços abertos e prontos a receber o que há-de vir. E enquanto desfilamos no corrupio das máscaras mais ou menos bem-postas e aconchegadas ao nariz, rezamos para que acabe este castigo que não julgamos ter merecido. Fechamos os olhos para não ser confrontados com o que existe agora. Com o que o universo reservou para nós.

Respiramos fundo e depois lembramo-nos que é melhor não respirar. A espiral do desconhecido abriu portas e fez morada em todos nós. Todos debaixo da mesma tempestade. E os guarda-chuvas tão pequenos. E partidos. E insuficientes.

Estamos cansados. E é compreensível que assim seja. Não nos deram tempo para aprender nada. Não nos deram coragem. Não nos apetrecharam de instruções capazes de fintar este caos imenso que parece ter a profundidade do fundo do oceano.

Mesmo assim. Repara e lê com atenção. Ainda estamos aqui. Ainda vamos de remos em riste, ainda que o mar seja picado. Ainda vamos de mochila às costas, capazes de transformar as (muitas) lágrimas em esperança.

Ainda estás aqui. Dizem que a esperança é como uma árvore. Onde quer que a plantes, ela nasce.

De que tamanho é a tua árvore?

Marta Arrais

 

A VIDA É SÓ PARA DEUS

A exegese moderna não deixa margem para dúvidas. A primeira coisa para Jesus é a vida, não a religião. Basta analisar a trajetória de sua atividade. Ele está sempre preocupado em criar e desenvolver, em meio a essa sociedade, uma vida mais saudável e digna.

Pensemos em sua ação no mundo dos enfermos: Jesus estende a mão a quem vive de maneira diminuída, ameaçada ou insegura, para despertar neles uma vida mais plena. Vamos pensar em como ele aborda os pecadores: Jesus oferece o perdão que os faz viver uma vida mais digna, resgatados da humilhação e do desprezo. Pensemos também nos demonizados, incapazes de serem donos de sua existência: Jesus os liberta de uma vida alienada e desequilibrada pelo mal.

Como já enfatizou Jon Sobrino, os pobres são aqueles para os quais a vida é um fardo pesado, pois não podem viver com um mínimo de dignidade. Esta pobreza é a mais contrária ao projeto original do Criador da vida. Onde um ser humano não pode viver com dignidade, a criação de Deus aparece ali como falha e anulada.

É por isso que Jesus se preocupa tanto com a vida concreta dos camponeses da Galileia. A primeira coisa que essas pessoas precisam é viver e viver com dignidade. Não é o objetivo final, mas é a coisa mais urgente agora. Jesus os convida a confiar na salvação definitiva do Pai, mas o faz salvando as pessoas das doenças e aliviando as doenças e o sofrimento. Ele anuncia a eles a felicidade definitiva no seio de Deus, mas o faz introduzindo dignidade, paz e felicidade neste mundo.

Às vezes, nós, cristãos, expomos a fé com uma tal confusão de conceitos e palavras que, na hora certa, poucos sabem exatamente o que é o reino de Deus de que Jesus fala. No entanto, as coisas não são tão complicadas. A única coisa que Deus deseja é isto: uma vida mais humana para todos e, a partir de agora, uma vida que alcance sua plenitude na vida eterna. É por isso que nunca devemos dar a nenhum César o que é de Deus: a vida e a dignidade de seus filhos.

 José Antonio Pagola

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

O silêncio dá-nos uma grande capacidade de abraçar a vida, de a escutar até ao fim, de a viver apaixonadamente, que é a coisa mais importante. A ideia não é fazermos tudo para proteger a vida, isolando-a; não, a vida é para ser vivida, para ser dada, para encontrar um sentido, que esta mistura de sangue e de sonho que é a nossa vida possa ser lugar de uma combustão, de uma plenitude; a vida é para ser gasta.

 

Pe. José Tolentino Mendonça


 INFORMAÇÕES

 

TRANSPORTES PARA O DIA DE ELEIÇÕES

A Câmara Municipal da Calheta disponibiliza transporte a todos os cidadãos que necessitem deslocar-se para exercer o seu direito de voto no dia 25 de outubro.

- Biscoitos após a missa

- Fajã dos Vimes às 9 horas passando pelo Portal.

- Loural às 14 horas.

O transporte pode ser solicitado através dos números 295416576 para a freguesia da Ribeira Seca e 295416916 para os da freguesia  da Calheta.

 

MUDANÇA DE HORA

No próximo fim de semana muda a hora. À uma hora da manhã de sábado para domingo os relógios devem ser atrasados em sessenta minutos.


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Nº 1173

Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 SEJA FEITA A TUA BONDADE!

"Jesus não ensinou o Pai Nosso aos discípulos como uma fórmula para estes repetirem de cor e de modo completo." (Calmeiro Matias)

Jesus não definiu a entoação certa ou o sotaque mais apropriado.

Cada um tem um dialeto feito de silêncios, de palavras, de cumplicidades.

Um dia, em Vila Nova de Gaia, o meu primo recebeu-me com um "bons olhos te beijam!" A resposta ao meu "Ãh?" não tardou: "És surda? Bons olhos te beijam!"

Soou-me a poesia. O sotaque tornou tudo mais bonito.

À semelhança do meu primo e do meu Pai, "aboli os vês" e digo:

Seja feita a tua bondade! A tua bondade, Pai! A tua bondade, Pai!

Quando Jesus partilhou com os discípulos o modo como conversava com o seu Pai, demorou-se a mostrar-lhes a confiança na bondade de Deus. Lucas fez chegar até nós a história do amigo que aparece fora d'horas e termina perguntando se um Pai poderá recusar o maior bem - a convivência e a intimidade do Espírito - aos seus filhos. (Lucas 11, 1-13)

"Este assunto da bondade de Deus é uma questão de sensatez. Ser sensato. Como pode existir Deus, se não for bom?" (José António Pagola)

 

Eneida Costa

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