Nº 954
O TEMPO NÃO É NOSSO
O amor não é uma corrida contra o tempo. Nem contra o mundo. É contra nós.
Ou melhor, contra o pior de nós. O egoísmo.
A vida precisa de tempo, ma não há pior do que adiar... muitos julgam que o momento de amar pode ser outro. Que sempre haverá tempo depois do tempo.
Somos livres no tempo, mas o tempo não é nosso. Somos responsáveis pelo que fazemos, o que significa que devemos ser capazes de responder perante alguém. Mesmo a sós, temos a obrigação de esclarecer os fundamentos das nossas decisões a nós mesmos... Pese embora muitas vezes a verdade esteja toda na resposta simples:
- Não sei!
Amar é caminhar rumo ao fim dos tempos, destruindo essa porta que separa este tempo do outro. O que há de vir. Aquele de onde todos chegámos aqui. Aquele aonde todos voltaremos. Esse mesmo, a eternidade que repousa por debaixo de cada dia. O antes do passado. O depois do futuro.
O que sou constrói-se num diálogo dinâmico entre mim e o que existe para lá de mim, o outro e o mundo.
O amor leva-me ao outro. Supero os meus limites, do espaço e do tempo. Porque me dou, passo a existir também no que me ultrapassa. Sou mais. Só o amor permite a conquista da eternidade. Só o amor resiste ao nascimento e à morte. Qualquer vida que nasce brota de um amor, de uma entrega gratuita e incondicional de algo ao espaço e ao tempo sem fim. Mas existir em plenitude só é possível se formos capazes de entregar esta vida, toda. Sem esperar nada em troca. Sem buscar outra recompensa que não a de saber que nos entregamos à eternidade da mesma forma que a eternidade nos confiou a este mundo.
O mistério da nossa existência passa por assumirmos o - Não sei. Por cuidarmos de não adiar nada de importante. Por garantirmos que fazemos o que de bom é possível, assim que é possível. Julgar que o amanhã é certo não só é uma tolice como também é uma forma evidente de não merecer o hoje.
Em muitas vidas o tempo dura, dura e dura. Estende-se. Ser, existir, é viver e dar vida. Dar a vida. Dar-se ao amanhã como se não houvesse amanhã.
Sentir o hoje. Esquecer o ontem, mas assumi-lo. Não sonhar com o amanhã, mas construir o melhor amanhã de que formos capazes.
Fazer um caminho é construí-lo onde não existe e é necessário. Existir é dar vida à vida. Tudo o mais é... nada. Dizer que não ao amor é negar-se a si mesmo. É privar-se de si. Anular-se. Fazer-se nada.
Não sabemos de que tempo chegámos, nem para que tempo vamos. Mas chegámos e vamos. Não sabemos nem quando, nem onde. Somos mais do que tempo. Muito mais.
MEDITAR
Uma espiga de bom trigo vale mais que todo o joio
O bem e o mal, semente boa e erva daninha, formaram raízes no meu torrão de terra: o manso dono da vida e o inimigo do ser humano disputam, numa contenda infinita, o meu coração. E então o Senhor Jesus inventa uma das suas parábolas mais belas (Mateus 13,24-30) para me orientar no caminho interior, com o estilo de Deus.
A minha primeira reação perante as ervas daninhas é sempre: queres que vamos recolher o joio? O instinto sugere-me para agir assim: arranca, erradica já aquilo que em ti é pueril, errado, imaturo. Arranca e ficarás bem, e produzirás fruto.
Mas em mim há também um olhar consciente e adulto, mais sereno, semeado pelo Deus da paciência camponesa: não arranques as más ervas, arriscas-te e erradicar também a boa semente. A tua maturidade não depende de grandes reações imediatas, mas de grandes pensamentos positivos, de grandes bons valores.
O que procura em mim o Senhor? A presença daquela profecia de pão que são as espigas, e não a ausência, inatingível, de defeitos ou de problemas. Mais uma vez, o manso Senhor dos cultivos abraça a imperfeição do seu campo.
No seu olhar transparece a perspetiva serena de um Deus semeador, que olha não para a fragilidade presente, mas para o bom trigo futuro, mesmo que não seja mais do que uma possibilidade.
O olhar libertador de um Deus que nos faz coincidir não com os pecados, mas com bondade e graça, ainda que se em fragmentos, com generosidade e beleza, pelo menos em rebento. Eu não sou os meus defeitos, mas os meus amadurecimentos; não sou criado à imagem do inimigo e da sua noite, mas à semelhança do Pai e do seu pão bom.
Todo o Evangelho propõe, como nossa atmosfera vital, o respiro da fecundidade, da frutificação generosa e paciente, de cachos que amadurecem lentamente ao sol, de espigas que docemente se enchem de vida, e não um ilusório sistema de vida perfeita.
Não estamos no mundo para ser imaculados, mas encaminhados. O bem é mais importante do que o mal, a luz conta mais do que a treva, uma espiga de bom trigo vale mais do que todo o joio do campo.
Esta é a positividade do Evangelho. Que nos convida a libertarmo-nos dos falsos exames de consciência negativos, de quantificar sombras e fragilidades. A nossa consciência clara, iluminada, sincera, deve descobrir antes de tudo aquilo que de vital, belo, bom, prometedor, a mão viva de Deus continua a semear em nós, e depois cuidá-lo e guardá-lo como nosso paraíso.
Veneremos as forças de bondade, de generosidade, de ternura, de acolhimento que Deus nos entrega. Façamos que elas irrompam em toda a sua força, em todo o seu poder e beleza, e veremos o joio desaparecer, porque não mais encontrará terreno.
Ermes Ronchi
Eu queria encontrar Deus
Um homem chega exausto no mosteiro:
– Ando à procura de Deus há muito tempo – disse. – Talvez o senhor me ensine a maneira correta de O encontrar.
– Entre e veja o nosso convento – disse o padre, levando-o até a capela. – Aqui estão as mais belas obras de arte que retratam a vida do Senhor, e a Sua glória junto aos homens.
O homem aguardou, enquanto o padre explicava cada uma das belas pinturas e esculturas que adornavam a capela. No final, repetiu o pedido:
– É muito bonito tudo o que vi. Mas eu gostaria de aprender a maneira mais correta de encontrar Deus.
– Deus! – respondeu o padre. – Você disse muito bem: Deus!
E levou o homem até o refeitório, onde estava sendo preparado o jantar dos monges.
– Olhe a sua volta: daqui a pouco será servido o jantar, e você está convidado para comer connosco. Poderá ouvir a leitura das Escrituras, enquanto sacia sua fome.
– Não tenho fome, e já li todas as escrituras – insistiu o homem. – Quero aprender. Vim até aqui para encontrar Deus.
O padre convidou de novo o estranho a segui-lo, e começaram a caminhar pelo claustro, que circundava um belo jardim.
– Peço aos meus monges para manterem a relva sempre cortada, e que tirem as folhas secas da água da fonte que você vê ali no meio. Penso que este é o mosteiro mais limpo de toda a região.
O estranho caminhou um pouco com o padre, depois pediu licença, dizendo que precisava de ir-se embora.
– Você não vai ficar para jantar? – perguntou o padre.
Enquanto montava no seu cavalo, o estranho comentou:
– Parabéns pela sua bela igreja, pelo refeitório acolhedor, pelo pátio impecavelmente limpo. Entretanto, eu viajei muitas léguas apenas para aprender a encontrar Deus, e não para deslumbrar-me com eficiência, conforto, e disciplina.
Nesse instante, um trovão caiu do céu, o cavalo relinchou forte e a terra foi sacudida. De repente, o estranho tirou o seu disfarce, e o padre viu que estava diante de Jesus.
– Deus está onde O deixam entrar – disse Jesus. – Mas vocês fecharam-Lhe a porta deste mosteiro, usando regras, orgulho, riqueza, ostentação. Da próxima vez que um estranho se aproximar pedindo para encontrar Deus, não mostre o que vocês conseguiram em nome Dele: escute a pergunta, e tente responde-la com amor, caridade, e simplicidade.
Dizendo isso, desapareceu.
PENSAMENTO DA SEMANA
Se o mal penetra o nosso coração, é porque aí encontra um lugar onde se instalar, uma certa cumplicidade.
Se o sofrimento nos faz azedos e maus, é por termos o coração vazio: vazio de fé, de esperança e de amor.
Pelo contrário, se nele houver uma total confiança em Deus, se esperar tudo da Sua bondade e fidelidade, se a finalidade da nossa vida não for a procura de nós mesmos, mas fazer a vontade de Deus, amá-l’O de todo o coração e amar o próximo como a nós mesmos, então o mal não pode penetrar nele de maneira nenhuma.
Jacques Philippe, in A Liberdade Interior
INFORMAÇÕES
CLÍNICA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DA CALHETA
A Direção da Associação de Bombeiros Voluntários da Calheta informa que estará na Clínica da Instituição o Dr. Brasil Toste, Otorrinolaringologista, 20 de julho; Dr.ª Maria Graça Almeida, ginecologista e obstetra, em julho; Dr.ª Paula Pires, Neurologista e Neuropediatra, 27 e 28 de julho; Dr. Tiago Ribeiro, Osteopata (massagem terapêutica), 29, 30 e 31 de julho e no mês de agosto; Dr.ª Renata Gomes, Cardiologista, em agosto; Dr.ª Lourdes Sousa, Dermatologista, de 28 a 31de agosto; Dr.ª Alexandra Dias, Pediatra, data por estabelecer.
Os interessados podem fazer as suas marcações para os números 295 460 110/ 295460111.
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Nº 1176Pensamento da Semana
PENSAMENTO DA SEMANA
Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse.
Daniel Faria
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