Nº 579
O DRAGOEIRO
Todos os dias, logo pela manhã, contemplo o dragoeiro que me parece dar os bons dias.
Habituei-me à sua presença e parece-me que ele se habituou, também, a mim. Há magia neste dragoeiro. Vejo-a naqueles que o olham, nos transeuntes que o contemplam e agradecem a sua presença.
Ele fala com a sua majestade. A copa, toda por inteiro, não deixa ninguém indiferente. Às vezes brotam, cá e lá, as suas flores de um laranja que enfeitam aquele meio redondinho cheio de verde em suas folhas que até parecem pequeninas luzes a iluminar. No seu seio transportam vida para novos seres, novos pequenos dragoeiros.
Não se pode ficar indiferente a esta vontade de querer ser mais vida que surge de entre as suas belas e esguias folhas a apontar para o céu.
Ele, também, é sinal de abrigo que quer acolher em si mais vida fazendo com que a chuva vá mais de mansinho para a terra matando a sede à erva que embeleza o seu chão como um belo tapete e as plantas que por ali andavam, penetrando até às suas raízes para ser bênção e fortaleza.
Quando o sol chega ao dragoeiro o seu verde transforma-se, fica de uma formusura impar, os verdes desafiam-se uns aos outros cada qual querendo brilhar mais.
O tronco do dragoeiro é lindo. Levanta-se direito e mostra os verdugos de uma beleza impar, parecendo que foram esculpidos para mostrar fortaleza e segurança. Diz-se que se deve estar de pé, sem medo, nem vergonha do que se é e se tem.
As raízes penetram fortes na terra, qual alicerce de vitalidade e segurança. Dali recebe vida para poder ser mais vida.
O dragoeiro está ali, qual cartão-de-visita desta vila. Dando as boas vindas a todos e desejando boa viagem.
Está para dizer que não basta um Dia da Árvore, mas que é preciso respeitar as árvores que foram plantadas por alguém que lhes dedicou tempo e carinho. Está ali para dizer que precisamos delas desde o lápis, que serve para fazer um simples rabisco ou para traçar o seu destino, à escultura mais bela que admiramos e que nos encanta.
Este dragoeiro que me acompanha há alguns anos teme pelo seu futuro, mas continua ali, como um cartão de visitas desta Vila da Calheta.
Pe. Manuel António
IV DOMINGO DA QUARESMA
O nosso valor
Um orador começou a sua palestra segurando uma nota de cinco mil escudos. Perguntou aos duzentos ouvintes:
- Quem gostaria de ter esta nota de cinco mil escudos?
Claro que aquilo fazia jeito a qualquer pessoa de modo que todas as mãos se ergueram.
De seguida com as mãos amarrotou a nota e perguntou de novo:
- Quem quer ainda esta nota assim mal tratada?
As mesmas mãos continuaram levantadas.
Deixou cair a nota no chão e começou a pisá-la e a esfregá-la com a sola dos sapatos. Depois pegou nela, suja e amarfanhada, e fez a mesma pergunta:
- E agora? Ainda há alguém que queira esta nota?
Todas as mãos permaneceram erguidas.
- Meus amigos, não importa o que eu faça com esta nota, vocês vão querer na mesma, porque ela não perde o seu valor. Estimada ou mal tratada, ela continuará a valer cinco mil escudos. Assim é a nossa vida. Muitas vezes somos amassados, pisados e ficamos imundos, por decisões que tomamos, por experiências que fazemos ou por situações que enfrentamos. E assim ficamos, à primeira vista, desvalorizados ou aniquilados. Quer estejamos sujos ou limpos, machucados ou inteiros, nada disso altera a importância que temos. O preço da nossa vida não vem do que fazemos, temos ou sabemos mas do que somos.
O Filho Pródigo continuou a ter o mesmo valor aos olhos do Pai.
Estas duas histórias têm a ver connosco.
Pe. José David Quintal Vieira, scj
MEDITAR
CONSTRUIR
É escusado
Passares noites inteiras em oração;
É escusado pintares ícones
E pores-te em êxtase diante da divindade;
É escusado vibrares ao cantar.
Se deixas tudo como está,
Só produzes o vácuo.
Como podes até só pensar
Que Deus tem prazer
Nos teus belos sons?
E se rezar consistisse
Em lançar um olhar critico
A si próprio e ao mundo,
Em executar os planos duma utopia,
Em construir um mundo diferente,
Em bater-se para que seja um êxito?
E se rezar consistisse
Em responsabilizar-se pelas pessoas,
Em procurar-lhes razões de viver, para que o Universo cresça e se desenvolva
De acordo com o projeto do Criador?
E se rezar consistisse
Em aliar-se estreitamente
Ao Pai de todos os vivos
E em criar com Ele um mundo novo
Onde o homem, finalmente, se erguesse
A toda a altura que vem de Deus?
De outro modo, a oração corre o risco
De não passar de lirismo,
Pietismo exagerado
Ou alucinações de impotentes
In Orar de Ch. Singer
CONTO (440)
A BARRA DE FERRO
Era uma vez um jovem chinês que, embora tenha sido mais tarde um grande poeta, quando era criança não foi precisamente um bom estudante. Preferia estar na rua a jogar.
Certo dia, ao sair para as suas brincadeiras, passou junto de um rio onde estava uma idosa. A mulher estava a esfregar uma barra de ferro contra uma rocha. O jovem, estranhando, perguntou-lhe:
- Que está a fazer, avozinha?
A idosa continuou a esfregar sem olhar para ele e disse-lhe:
- Estou a fazer uma agulha para coser.
O jovem, visivelmente admirado, disse:
- Mas é uma barra de ferro! Como é que se pode transformar numa agulha?
A idosa olhou-o sorrindo e disse:
- Se hoje esfrego. Amanhã esfrego e faço assim durante algum tempo, a barra irá tornar-se cada vez mais fina até se converter numa agulha.
Depois de ouvir a anciã, o jovem pensou: «É verdade que, fazendo um trabalho com persistência, haverá um momento em que conseguiremos o nosso objetivo ». A partir de então, continuou a ser persistente nos estudos e tornou-se num grande poeta.
In Alegre Manhã de Pedrosa Ferreira
Encontrei Deus nas poças de água, no perfume da madressilva, na pureza de alguns livros e mesmo em alguns ateus. Quase nunca junto daqueles cuja ocupação é falar dele.
Christian Bobin
INFORMAÇÕES
RETIROS
Os retiros de catequese que estavam marcados para o 7º e 8º anos, previstos para o dia 16 de março, não se irão realizar devido a algumas dificuldades que tivemos. Agradecemos a compreensão de todos.
PROCISSÃO DE PASSOS
A Procissão de Passos na paróquia de Manadas será no próximo domingo, 17 de março e à mesma hora, devido ao mau tempo que se fez sentir e à não realização da procissão na paróquia da Urzelina.
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Nº 579