Nº 1170

 

O que podemos ensinar aos jovens?

Talvez tenhamos simplesmente que partir das necessidades e das questões dos jovens, e não daquilo que lhes queremos ensinar.

Não podemos ensinar nada aos jovens, podemos apenas ajudá-los a escutar o mestre interior. Esta é uma palavra de Santo Agostinho, que soa estranha. Ele diz expressamente que podemos apenas criar as condições que permitam a um jovem compreender. A compreensão, o conhecimento tem que lhe ser dado a partir de dentro. (...)

Os jovens têm muita sensibilidade para se aperceberem se os tomamos a sério como parceiros de direitos iguais, ou se os queremos ensinar como se fossem tontos e ignorantes. Acreditamos que todos os homens são criaturas de Deus e têm a mesma dignidade. Esta é a condição decisiva para qualquer comunicação em que tomemos parte.

Os jovens estão interessados em aprender quando se dão conta que através disso podem assumir mais responsabilidades e podem ser levados a sério. (…)

O importante é que primeiro despertemos a sua autoestima, que estejamos atentos aos seus talentos, lhes correspondamos com confiança, os conquistemos como amigos. Então vêm com as perguntas que a vida lhes coloca, e daí podemos tecer matéria para ensinar. Esta é a fonte mais profunda da qual brota o interesse.

Trata-se de dar testemunho. Jesus não ensinou outra coisa aos seus discípulos. Como é que o fez? Deixou-os participar da sua vida e do seu trabalho. Eles tiveram o privilégio de Lhe poder apresentar questões nos momentos de recolhimento e de descanso. Ensinou-os para que se tornassem Apóstolos, que Ele pudesse enviar ao mundo inteiro. Ensinou-os a verem as necessidades e a ligarem-se aos que necessitam de ajuda. Esta especial ligação leva a ser criativo. Quando amo alguém que sofre ou é tratado injustamente torno-me inventivo. Então tenho que o ajudar. O Espírito não se fecha a esta exigência…»

Card. Carlo M. Martini

 

MEDITAR

A questão de Jesus que interroga o meu coração.

E pela estrada ia perguntando: uma ação contínua, prolongada, um estilo de vida: a estrada e as perguntas. Jesus não é a resposta, é a pergunta; não o ponto de chegada, mas a força que faz a vida zarpar, desmontar as tendas ao nascer do sol.

 

As muitas questões do evangelho funcionam como um ponto de encontro entre ele e nós. As pessoas, quem dizem que eu sou? Não é uma pesquisa simples para medir a sua popularidade, Jesus quer entender que parte da sua mensagem atingiu o coração. Compreendeu que nem tudo dava certo na comunicação, rompeu-se alguma coisa naquela crise galilaica que todos os evangelistas relatam.

Na verdade, a resposta do povo, se pode parecer gratificante, revela ao invés uma perceção deformada de Jesus: para alguns, ele é um mestre moralizador de costumes ("dizem que és João Baptista"); outros perceberam nele o poder que derruba ídolos e falsos profetas ("dizem que és Elias"); outros ainda não captam nada de novo, apenas o eco de velhas mensagens já ouvidas ("dizem que és um dos profetas").

Mas Jesus não é nada das coisas de ontem. É a novidade a caminho. E a pergunta mantém-se, torna-se direta: mas vós quem dizeis que Eu sou? Para revelar a ambiguidade que habita o coração de todos, Jesus mete-se a Si próprio em discussão.

Não é fácil sujeitar-se à avaliação dos outros, custa muita humildade e liberdade perguntar: o que pensam de mim? Mas Jesus está sem máscaras e sem medo, livre como ninguém. Tu és o Cristo, Pedro expõe-se, no sentido de Israel, no sentido da minha vida. Neste ponto o registo muda e a história torna-se inquietante: Jesus começou a ensinar que Cristo tinha que sofrer muito e ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Como poderia Pedro aceitar um Messias perdedor? «Tu és o messias, o esperado, que sentido tem um messias derrotado?».

Então toma-o à parte e começa a repreendê-lo, contesta-o, aponta para outra história e outros sonhos. E a tensão aumenta, o diálogo fica agitado e culmina em palavras bem duras: Afasta-te de mim, Satanás. O teu lugar está sim, em seguir-me.

Pedro é a voz de cada ambiguidade da vida, deste rio que carrega tudo, lama e partículas de ouro, e passa por manchas de sol e áreas de sombra; dá voz a essa ambiguidade sem culpa (G. Piccolo), pela qual as coisas não são claras para nós, para as quais nas nossas palavras ouvimos ao mesmo tempo o som de Deus (não é carne ou sangue que to revelou) e o sussurro do mal (pensas de acordo com o mundo).

A solução é a indicada a Pedro ("vai atrás de mim"). Jesus acaricia as minhas feridas, cruza as minhas contradições e faz -me caminhar por ali mesmo, ao longo da "linha incerta que separa a luz do escuro" (A. Camilleri).

Ermes Ronchi

 

Amigo é quem chora e sorri comigo

Quando sentimos alegria e não temos com quem a partilhar, ela transforma-se em tristeza. Assim também com uma tristeza que, quando temos alguém com quem a partilhar, nos pesa um pouco menos. A amizade é compaixão, quer no sentido de paixão enquanto um grande atração e contentamento, como paixão no sentido oposto, de um grande sofrimento que se tem de suportar.

Se a felicidade do teu amigo não te encanta, talvez a amizade não seja profunda! É por isso que cada vez menos pessoas partilham as razões das suas alegrias mais profundas, pois muitas vezes a amizade revela-se apenas superficial.

Um amigo é alguém que decidiu, com consciência e vontade, cuidar de mim, mesmo quando isso significar prejuízo para ele. Cabe a cada um de nós manter ou não uma amizade, porque ninguém é obrigado a ser amigo da melhor pessoa do mundo, nem a não o ser da pior pessoa do mundo.

Ser amigo implica trocar, muitas vezes, a minha paz por dores que só são minhas se eu as quiser, e um amigo quer, quer sempre… ser amigo é deixar de ter só a minha vida para passar a estar presente em várias!

Ninguém pode ter muitos amigos, porque isso equivale a não ter nenhum. A amizade exige uma enorme dedicação e tempo, o que torna impossível manter muitas relações profundas. Ser amigo implica uma escolha que se faz sem grande lógica, mas com certeza.

Os meus amigos desejam tanto a minha felicidade como eu, mas a sua mais nobre missão é a de me ampararem nos períodos mais difíceis.

Para alguns amigos, a ausência de notícias é um bom sinal, indicando que está tudo bem.

O amor faz-se de muitas lágrimas. Como não há outra forma de ser feliz senão amando, chorar é a prova clara de uma felicidade que não se tem, mas que se quer.

José Luís Nunes Martins

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

“ENSINAR É AMAR”

"Ser professor é dar-se (...) Tens muito que fazer? – Não; tenho muito que amar. Não entendo ser professor de outra maneira. (...)

Para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita. O aluno acredita em nós e não deve acreditar em vão. Impõe-se-nos que mereçamos, com a nossa, a pureza dos nossos alunos; que a nossa alimente a deles, a mantenha. (...)

Sejamos a lição em pessoa – que é isso mais importante e mais eficaz que sermos o papel onde a lição está escrita; e possamos dizer sem constrangimento: Deixai-as vir a mim, as criancinhas…”

Sebastião da Gama, in Diário


 

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REUNIÃO DE CATEQUISTAS

Calheta - 16 de setembro às 18h30;

Ribeira Seca - 18 de setembro às 18h30;

Manadas - 19 de setembro às 19 horas;

Biscoitos - 20 de setembro às  19 horas.


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Nº 1173

Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 SEJA FEITA A TUA BONDADE!

"Jesus não ensinou o Pai Nosso aos discípulos como uma fórmula para estes repetirem de cor e de modo completo." (Calmeiro Matias)

Jesus não definiu a entoação certa ou o sotaque mais apropriado.

Cada um tem um dialeto feito de silêncios, de palavras, de cumplicidades.

Um dia, em Vila Nova de Gaia, o meu primo recebeu-me com um "bons olhos te beijam!" A resposta ao meu "Ãh?" não tardou: "És surda? Bons olhos te beijam!"

Soou-me a poesia. O sotaque tornou tudo mais bonito.

À semelhança do meu primo e do meu Pai, "aboli os vês" e digo:

Seja feita a tua bondade! A tua bondade, Pai! A tua bondade, Pai!

Quando Jesus partilhou com os discípulos o modo como conversava com o seu Pai, demorou-se a mostrar-lhes a confiança na bondade de Deus. Lucas fez chegar até nós a história do amigo que aparece fora d'horas e termina perguntando se um Pai poderá recusar o maior bem - a convivência e a intimidade do Espírito - aos seus filhos. (Lucas 11, 1-13)

"Este assunto da bondade de Deus é uma questão de sensatez. Ser sensato. Como pode existir Deus, se não for bom?" (José António Pagola)

 

Eneida Costa

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