Nº 1034

 

Mãos de Deus

Precisamos de mãos! Precisamos de mãos construtoras. De mãos trabalhadoras. E de mãos sanadoras. As mãos são divinas. E nós não lhe damos o devido valor…

Se desfolharmos a Sagrada Escritura, nomeadamente no Novo Testamento, ficamos sempre muito maravilhados com a multiplicação dos pães, a água transformada em vinho, e por aí fora. E é bom que nos maravilhemos.

Jesus vem e cura os doentes. São curados casos que só com um milagre tal seria possível. Nós maravilhamo-nos. E bem.

Mas, estaremos a contemplar o acontecimento no seu todo? Não. Não estamos… Caso estivéssemos veríamos que o primeiro grande milagre de Jesus é o Amor.

Ele chega, vê, toca. Toca naqueles, e naquelas, que precisavam verdadeiramente de ser tocados. Naqueles, e naquelas, que querem ser tocados. Só depois cura.
Primeiro Ele toca. Toca a alma. E aquele que é tocado sente-se vivo novamente. Porque Jesus o viu. A ele, ou a ela, a quem a sociedade marginaliza. A ele, ou a ela, a quem a comunidade repudia pela sua doença.

E Jesus vem, e toca-lhes. Devolve-lhes a sua dignidade de pessoa. A nós falta-nos isto. Tocar. Ser curadores como o Senhor o foi.

Precisamos de mãos. Das nossas e das dos outros. Precisamos tomar uma mão nas nossas e percorrê-la. Sentir a rugosidade, ou a suavidade, da pele. Sentir-lhe as cicatrizes. O volume das veias, que por vezes se avoluma enquanto a boca fala, ou o coração palpita.

Precisamos sentir a história daquelas mãos. E precisamos que alguém sinta a história das nossas.

As mãos são feitas para estarem unidas, apertadas, entrelaçadas, umas nas outras. Nunca empunhadas umas contra as outras.

Caminhamos apressadamente rumo à Jornada Mundial da Juventude (2023). Urge estar tudo pronto. Está aí à porta.

Mas que bom seria se antes de celebrarmos a JMJ, pudéssemos celebrar interiormente uma JMF. Uma Jornada Mundial de Fraternidade. Porque precisamos ser fraternos. Não precisamos de um mundo de muros e arame farpado. Essa sociedade não pode ser a nossa!

Precisamos cultivar uma fraternidade hospitaleira de Amor, do Amor, e no Amor. As mãos de Deus são mãos hospitaleiras. São mãos que acolhem.

Precisamos que as nossas também o sejam. Porque urge, verdadeiramente, criar uma sociedade de Paz.

Porque uma mão junta-se à outra, e as duas juntas são capazes de gerar o Amor e a Paz.

David Barbas

 

MEDITAR

A força de uma palavra inspirada

O Evangelho deste domingo é inspirador: as pessoas admiram-se com as “palavras cheias de encanto que saíam da boca de Jesus”. Palavras que despertam assombro nelas; palavras diferentes que ativam as suas vidas, palavras que não deixam ninguém indiferente; palavras provocativas porque carregam o impulso do novo; palavras que incomodam porque lhes faziam perguntar por suas próprias palavras, seu modo habitual de ser e de viver...

A primeira reação dos ouvintes foi de admiração pela pessoa de Jesus e pela sua mensagem. Mas, rapidamente, passaram da admiração à surpresa: quem pensa ser Ele, para dizer tais coisas? «Não é este o filho de José”? Reduzem-no assim à sua herança natural; não haviam entendido que, dali em diante, têm à sua frente um novo Jesus, o Filho muito amado do Pai. A única razão que dão para rejeitar as pretensões de Jesus é que Ele é simplesmente mais que um do povoado, conhecido de todos.

Isto é revelador por parte do evangelista Lucas. No início de sua vida pública, Jesus revela-se como uma presença original, pois sendo “um entre tantos”, no entanto, a sua presença despertava perguntas, dúvidas e até incompreensões e discussões. Todo o seu povoado o via como um homem a mais, um galileu a mais.

Jesus não quis deixar o mundo como o encontrou; Ele não veio ao mundo para deixá-lo tal como estava; Jesus veio mudar as coisas e deixar-nos um mundo diferente; não um mundo com soldas e remendos, mas um mundo mais habitável. Por isso, no início de sua vida pública, Ele revela-se como uma presença diferente, apresentando a proposta de um mundo diferente.

As palavras de Jesus na sinagoga de Nazaré questionam, também hoje, o sentido que as nossas palavras têm; elas nos fazem tomar consciência daqueles que se sentem movidos pelas nossas palavras, nos fazem perguntar sobre a inspiração e a força das palavras que brotam do nosso interior.

Quantas palavras temos dito ou escrito hoje? Talvez tenhamos enviado um correio; ou feito um comentário no Whatsup ou no blog de um amigo; ou tenhamos conversado junto a uma mesa de bar, partilhando conselhos, trocando ideias...; ou tenhamos falado com a nossa mãe pelo telefone... Vivemos saturados de palavras.

Há palavras que se gastam de tanto serem usadas; há afirmações que, de tanto serem repetidas, perdem a sua força. Palavras que perdem o seu valor, caindo no terreno comum das “coisas baratas”.

diferença radical está no facto de que com a palavra podemos cuidar, acariciar, conhecer, irradiar consolo ou amor, ser artífices de paz e sossego... Ou, podemos gerar ódios, rancor, alimentar preconceitos e julgamentos, provocar invejas, trair, dividir...
            Nas “sinagogas pós-modernas” (redes sociais) temos a oportunidade de proferir palavras que ampliam a vida, elevam o outro, abrem horizontes de sentido...; elas também se revelam como o espaço onde escutar palavras oriundas de um coração e uma mente diferentes, que despertam mudanças, a busca do novo... Infelizmente, como nos tempos de Jesus, também este ambiente tem sido o local da expressão de palavras ásperas de julgamento e de indiferença, carregadas de preconceito e intolerância

 

Adroaldo Palaoro (Adaptado

Recantos de uma vida

 

Ajuda-me, Senhor, a rezar os recantos vazios de uma vida cheia.

Vida que me dás em abundância e que renovas a cada dia.

Vida que consolas na tristeza, que acompanhas na solidão,

Que sustentas na fraqueza e que animas no cansaço.

 

Vida que chora, que ri, que grita e que emudece,

Vida que nem sempre compreende os Teus caminhos

E que tantas vezes hesita, tropeça e duvida.

 

Vida que às vezes não Te reconhece

A caminho da Emaús do orgulho e dos projetos pessoais.

Vida que, errante e desanimada, teimosamente se afasta

Da Jerusalém da Tua vontade e da generosidade do Teu amor.

 

Amor das surpresas e do oportuno e incisivo sentido de humor,

Amor que vem ao meu encontro, que se faz alimento no pão repartido,

Amor que se fez Palavra e que comigo faz memória

Da história que contamos juntos.

 

Palavra que desperta este coração “lento de espírito” (Lc 24, 25),

Que o questiona, interpela, converte e ressuscita

Das trevas sepulcrais em que, de tempos em tempos, habita.

 

Vida transfigurada que derramas sobre mim,

Quando contrito Te procura o meu coração.

Coração que bate assustado por ser desconfiado,

Mas que sempre encontra misericórdia e perdão,

Quando repousa reconciliado e abrasado no Teu.

 

Vida imperfeita, mas profundamente agradecida

Por tudo quanto me tens dado a viver.

O doce do mel e o amargo do fel ganham novo sentido

Quando contemplo a cruz da Tua paixão.

 

Reza comigo, Senhor, os recantos vazios de uma vida cheia,

Recantos que iluminas com a alegria pascal

Da vida que entregaste por mim.

Vida nascida numa primavera florida e que ainda tem tanto para aprender.

 

Raquel Dias

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

A grandeza do ser humano, a sua verdadeira riqueza, não está naquilo que se vê, mas naquilo que traz no coração. 

A grandeza do homem não lhe advém do lugar que ocupa na sociedade, nem do papel que nela desempenha, nem do seu êxito social. Tudo isso pode ser-lhe tirado de um dia para o outro. Tudo isso pode desaparecer num nada de tempo.

A grandeza do homem está naquilo que lhe resta precisamente quando tudo o que lhe dava algum brilho exterior, se apaga. E que lhe resta? Os seus recursos interiores e nada mais.

Etty Hillesum


 

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Festa de Santo Antão, Norte Grande - 1.005,00€

 


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Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Não se caminha quando não se acredita.
Não se estende a mão quando não se ama.
Não se muda quando nada se espera.

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