Nº 986

 

Aprender o silêncio

Sem silêncio, não há vida interior, adverte a tradição espiritual, unânime. Mais do que ao ruído, este silêncio opõe-se à dispersão, à agitação. É um recolhimento em que “as coisas a fazer” e as distrações são mantidas no seu lugar. As atividades manuais, a caminhada, são uma boa maneira de as amansar.

A conduta que temos ao longo do dia prepara, ou torna mais difícil, a paz e o silêncio nos quais é bom permanecer para a oração…

Manter-se sentado, nos tempos que a isso são consagrados, é manter-se na fidelidade a Cristo e à sua presença, renunciar a todas as atividades que se apresentam num dia aliciante, ou sob a aparência da urgência.

Antes de começar as atividades do dia, concedo um breve momento – um ou dois minutos – para tomar consciência de mim: «Sou muito mais que as coisas que fiz ou que tenho a fazer. Sou vivente! É um dom. Olho para o Doador e alegro-me: obrigado!»

 

Instalo-me confortavelmente. Tomo consciência das minhas emoções, nesse momento e aquelas que vivi durante o dia. Nomeio esses sentimentos (alegria, prazer, cansaço, tristeza…), um impulso, uma preocupação. Acolho-os. Pergunto-me: o que senti? É na nossa vida que o Senhor nos espera, não fora dela.

A partir deste enraizamento na minha realidade, posso colocar-me na presença do Senhor pela fé, com aquilo que sou. Posso chamá-lo «Pai Nosso», «Senhor Jesus», «Espírito Santo» - a oração é relação. Permaneço, sem me prender aos pensamentos que me atravessam.

Leio a Palavra de Deus – por exemplo, o Evangelho do dia. Deixo-o ecoar no silêncio. Posso dialogar com ela, com o silêncio em fundo.

As distrações sobrevêm? Algumas palavras de louvor, de súplica, podem relançar a minha atenção silenciosa.

Ao longo do dia mantenho momentos de silêncio. Não sou obrigado a ligar o rádio no automóvel, de ver televisão em “zapping”, etc. Dirijo-me brevemente ao Senhor, talvez com uma palavra de louvor, uma súplica, um movimento do coração.

Aos poucos, estas práticas permitem exercer um discernimento sobre os movimentos espirituais interiores: que produz esta emoção em mim? Onde me conduz? Devo vivê-la mais, ou, pelo contrário, travá-la? Partilhar estas questões em diálogo com uma pessoa experimentada no acompanhamento espiritual é fecundo.

 Christophe Chaland, Ir. Marie-Paule Peyronnaud (Adaptado)

 

MEDITAR

Conserva a luz para quando vier a noite

O monte da luz, colocado a metade da narrativa de Marcos (9, 2-10), é a aresta da indagação sobre quem é Jesus. Como num díptico, a primeira parte conta obras e dias do Messias, a segunda, a partir daqui, desenha o rosto outro do «Filho de Deus».

A narrativa é tecida propositadamente com os fios dourados da língua do Êxodo, monte, nuvem, voz, Moisés, esplendor, escuta, quadro de revelações. O que é novo é o grito entusiasta de Pedro: que belo é estar aqui! Experiência de beleza, da qual brota alegria sem interesses.

Marcos conta um momento de felicidade de Jesus que contagia os seus. A nós, que o farisaísmo eterno tornou desconfiados da alegria, é proposto um Jesus que não tem medo da felicidade. E os seus discípulos com Ele.

Jesus está feliz porque a luz é um indício, o indício que Ele, o rabi de Nazaré, está a caminhar bem, rumo ao rosto de Deus; e depois porque se escuta amado pelo Pai, escuta as palavras que cada filho gostaria de ouvir dizer a si; e está feliz porque está a falar dos seus sonhos com os maiores sonhadores da Bíblia, Moisés e Elias, o libertador e o profeta; porque tem junto a si três jovens que não compreendem grande coisa, mas que ainda assim lhe querem bem, e o seguem há anos, para todo o lado.

Também os três apóstolos veem, emocionam-se, estão atordoados, escutam o impacto da felicidade e da beleza sobre o monte, algo que lhes tira o fôlego: que belo contigo, rabi! Veem rostos embebidos de luz, olhos de sol, aqueles que notamos numa pessoa feliz: os teus olhos brilham!

Gostariam, os três, de congelar aquela experiência, a mais bela jamais vivida: façamos três tendas! Detenhamo-nos aqui sobre o monte, é um momento perfeito, o máximo! Há um Deus a fruir, a ser feliz com Ele.

Mas é uma ilusão breve, a vida não se pode deter, a vida é infinita e o infinito está na vida, normal, ferial, frágil e sempre a caminho. Não se pode conservar a felicidade dentro de uma campânula ou fechá-la dentro de uma cabana.

Quando a felicidade te é dada, milagre intermitente, desfruta-a sem medo, é uma carícia de Deus, um retalho de ressurreição, um mosaico de vida realizada. Aprecia e agradece. E quando a luz desvanece e desaparece, deixa-a ir, sem nostalgias, desce do monte mas não o esqueças, conserva e guarda a memória da luz que viveste.

Assim será para os discípulos quando tudo se fizer escuro, quando o seu Mestre for preso, encadeado, escarnecido, espoliado, torturado, crucificado. Como eles, também nós nos nossos invernos, será necessário buscar nos arquivos da alma os traços da luz, a memória do sol para neles apoiar o coração e a fé. Do esquecimento desce a noite.

Ermes Ronchi

 

Mãos que ajudam são asas de anjo

Numa zona montanhosa, caminhavam dois amigos pela região deserta, ambos enfermos, cada qual defendendo-se como podia dos golpes do ar gelado. De súbito, foram surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de inverno. Um deles olhou e vociferou, irritado:

– Não perderei tempo. A hora exige cuidado para comigo próprio. Sigamos em frente.

– Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade – respondeu o outro.

– Não posso – disse o primeiro, endurecido – sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Suportamos o frio e a tempestade. Temos de alcançar a aldeia mais próxima sem perda de tempo.

E começou a caminhar em passadas largas. O viajante com bons sentimentos, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos a colocá-lo paternalmente sobre o próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, prosseguiu a marcha, embora menos rápido.

A chuva gelada caiu, metódica, a noite fora, mas o homem, segurando o valioso fardo, após muito tempo, lá chegou à hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa, porém, não encontrou aí o colega que o precedera. Somente no dia seguinte, depois de uma procura minuciosa, foi encontrado o infeliz viajante, sem vida, à beira do caminho alagado. Seguindo à pressa e a sós, com a ideia egoísta de Auto preservar-se, não resistiu à onda de frio e tombou encharcado, sem recursos para fazer face ao congelamento.

Já o companheiro, recebendo em troca o calor da criança que sustentava junto ao próprio coração, superou os obstáculos da noite fria, guardando-se incólume de semelhante desastre.

O que carregou o menino descobriu a excelência do auxílio mútuo: ajudando o menino abandonado, ajudara-se a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguiu triunfar, alcançando os benefícios da salvação recíproca.

Uma pessoa sozinha é, simplesmente, um adereço na solidão, mas aquele que coopera em benefício do próximo é meritório do auxílio comum.»

 

Autor desconhecido

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

Ter esperança
é acreditar num futuro de redenção,
mesmo no meio das realidades mais tristes.
Ter esperança é não desistir de si próprio.
Ter esperança é confiar
que Deus pode transformar tudo.
Ele há-de encher a nossa alma de alegria,
se deixarmos que a Esperança
more no nosso coração.

Anselm Grün,


 

INFORMAÇÕES

RECEITAS

Paróquia de São Tiago da Ribeira Seca - Culto 3.615,00€

 


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Nº 1148

Pensamento da Semana

 

PENSAMENTO DA SEMANA

 

A alegria e a surpresa andam de mãos dadas.

Isso revela-se sempre que conseguimos reagir com criatividade

às coisas inesperadas que fazem mudar

os nossos planos e, mesmo assim,

sentimos que tudo continua bem.


Por vezes, a alegria surpreende-nos.
Apanha-nos totalmente desprevenidos.
O importante é deixarmos que ela tome
conta de nós e continuarmos recetivos
à surpresa divina.

Anselm Grün, in Em cada dia... um caminho para a felicidade

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